Proteção Solar
publicado em 13/09/2021
Erica Franquilino - jornalista
Proteção, tratamento e reparação
Radiação solar x saúde da pele
Essenciais para a manutenção da saúde da pele, protetores solares ganham status de tratamento, com formulações cada vez mais sofisticadas. Lançamentos unem alta proteção a atributos valorizados pelos consumidores, como toque suave, controle da oleosidade, uniformização do tom da pele e disfarce de rugas e linhas de expressão.
O Brasil ocupa a terceira posição no mercado de proteção solar, atrás de Estados Unidos e China (dados da Euromonitor International, referentes a 2020). O segmento vem apresentando um crescimento lento nos últimos anos.
As vendas estimadas do varejo para o consumidor final no período de 2014 a 2019 subiram apenas 0,7% – de aproximadamente R$ 3,58 bilhões para pouco mais de R$ 3,6 bilhões. Johnson & Johnson, L’Oréal, Beiersdorf, Hypera e Avon ocupavam as cinco primeiras posições no ranking das empresas com maior participação de mercado no Brasil em 2019.
“No mercado, encontramos diversas alternativas de protetores solares, com benefícios como ampla proteção UVA/UVB, resistência à água, ação hidratante, antioxidante e antipoluição, filtros físicos ou naturais, com e sem cor, com substâncias que não danificam os corais e FPS cada vez mais altos. A nossa legislação permite até FPS 99”, comenta a consultora Alice Moraes, farmacêutica bioquímica que atua no mercado de proteção solar há mais de 30 anos.
Protetores solares são produtos que devem oferecer fácil aplicação, apresentados nas formas de cremes, loções (que predominam no mercado nacional), sprays, géis, aerossóis e sticks. “O consumidor está cada vez mais informado e consciente da necessidade de manter hábitos saudáveis. Sem dúvida, o uso do protetor solar faz parte desses hábitos”, afirma.
“Fabricantes de protetores solares estão em constante movimentação, adequando-se às exigências e necessidades dos consumidores, às questões ambientais e ao preço final. É possível encontrar produtos para todos os bolsos e gostos nos pontos de venda. De acordo com um levantamento do Farmácias APP, protetores solares, bronzeadores e itens pós-sol representaram 31% da receita dos itens de verão no aplicativo, de janeiro a março de 2021”, menciona.
Proteção, tratamento e reparação
Lançamentos multibenefícios chegam ao mercado internacional, formulados com ingredientes de baixo potencial alergênico e que não agridem o meio ambiente. “Nesse último verão, surgiram diversos produtos com FPS mais altos, acima de 60, e menções a hidratação, proteção contra o envelhecimento, ação antimanchas, antipoluição, presença de antioxidantes naturais e extratos vegetais, além de filtros inorgânicos ou minerais”, aponta Alice.
Com textura ultraleve e toque seco, o Neutrogena Sun Fresh Derm Care foi apresentado aos brasileiros em outubro de 2020. Indicado para peles mistas a oleosas, o protetor solar proporciona efeito mate de longa duração e controle da oleosidade por até 12 horas. O produto está disponível nas opções FPS 30 e 70 – a opção FPS 70 oferece versões com cor, em três tonalidades.
A composição traz os ativos: niacinamida, clareador de sinais e que auxilia no combate à acne; feverfew (Tanacetum parthenium), antioxidante que protege a pele contra agressões externas, como fumaça e cigarro, com ação antioxidante até cinco vezes maior do que a da vitamina C; e vitamina C, antioxidante essencial para a síntese de colágeno.
O Minesol Oil Control, destaque no portfólio da Neostrata, “é o protetor solar do futuro”, pois reduz em até 86% a produção de oleosidade da pele, após 28 dias de uso contínuo. “É o único protetor do mercado formulado com Neoglucosamina, que torna a pele mais lisa e uniforme”, diz a marca.
Sensorial leve, que não “derrete”, e controle do brilho por 12 horas são alguns dos benefícios do protetor, criado especificamente para a pele da brasileira. O produto oferece as versões pele clara, pele morena, pele morena mais e pele negra. A composição traz a tecnologia 3D-Extended Defense, que protege a pele das radiações UVA, UVA longo, UVB, luz visível e da poluição.
Em fevereiro deste ano, a Avon apresentou o Renew Solar Advance com Ácido Hialurônico FPS 50, que alia proteção contra os raios UVA/UVB ao tratamento da pele. O produto, que confere hidratação e suaviza rugas e linhas de expressão, é formulado com niacinamida e ácido hialurônico, tem rápida absorção e acabamento mate.
“Temos visto um aumento na preocupação da população com relação aos cuidados faciais, incluindo a proteção solar. A Avon tem acompanhado este movimento de perto, trazendo para os consumidores produtos com as últimas tecnologias a um preço acessível. Esse protetor foi desenvolvido pensando na rotina dos brasileiros e na importância do cuidado facial. Por isso trouxemos proteção, tratamento e reparação em um só produto”, diz Luciana Dávila, diretora de marketing da categoria de Face e Corpo da Avon Brasil.
O Boticário apresentou, em agosto deste ano, a primeira base do mundo com duplo retinol e FPS 80. O produto integra a linha Make B. Retinol H+ e sua composição combina duplo retinol com ácido hialurônico vetorizado, ingrediente que atua na prevenção da diminuição de colágeno, combatendo os radicais livres, reduzindo rugas e linhas de expressão e hidratando profundamente a pele.
A base líquida seca rapidamente, com textura aveludada e cobertura média. A formulação inclui retinol vegetal, ingrediente extraído das algas azuis do Lago Klamath (ricas em macro e micronutrientes) e derivado da vitamina A. A promessa é de aceleração da renovação celular para uma pele mais radiante e firme a partir de 15 dias de uso, bem como o dobro da produção de colágeno e um escudo protetor contra os raios UVA (UVA+++) e luz azul.
Radiação solar x saúde da pele
De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), mais de 60% dos brasileiros não usam protetores solares. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), cerca de 30% de todos os tumores malignos do Brasil correspondem ao câncer de pele. É importante salientar que o país tem uma das maiores incidências solares do mundo, com mais de 90% do território entre o Equador e o Trópico de Capricórnio.
A radiação solar que chega ao topo da atmosfera da Terra é composta, em sua maior parte, por emissões na faixa de 200 nm a 3.000 nm. De toda a energia emitida pelo sol, 44% concentram-se na faixa de 380 nm a 780 nm.
Essa faixa é chamada de espectro visível de energia, e é por meio dela que podemos identificar as cores. Do total da radiação solar que chega às camadas superiores da atmosfera terrestre, somente uma pequena fração atinge sua superfície. Isso ocorre por causa da reflexão e da absorção dos raios solares pela atmosfera.
Os raios infravermelhos (IV) agem em uma frequência que está além da capacidade humana de visão. Essa radiação é liberada de todos os corpos que emanam calor. Com emissões na faixa de 780 nm a 3.000 nm, o infravermelho é responsável pelo aquecimento do planeta e representa quase a metade da radiação solar que chega à Terra. No corpo humano, os raios infravermelhos penetram profundamente na pele, podendo chegar até a hipoderme, na qual provocam a dilatação dos vasos sanguíneos.
O efeito térmico dos raios infravermelhos é importante para a proteção da pele contra os raios ultravioleta (UV). Ao penetrar profundamente na pele, os raios infravermelhos deixam uma grande quantidade de energia na derme, o que agride os tecidos. Contudo, o calor fornecido por esses raios estimula a circulação do sangue e o metabolismo. O infravermelho é utilizado em tratamentos estéticos para diminuir inflamações da pele e aliviar dores nas articulações, entre outras aplicações relacionadas à saúde.
A radiação ultravioleta (UV) é o oposto do infravermelho, pois ela está no outro extremo do espectro solar. Com emissões na faixa de 200 nm a 400 nm, ela representa 7% do espectro e tem os menores comprimentos de onda e o maior nível de energia. Quando atinge a superfície, a radiação ultravioleta provoca diversos efeitos sobre os seres vivos, como queimaduras, fotoalergias, envelhecimento cutâneo e alterações celulares, que, somados a alterações genéticas, criam predisposição ao câncer de pele.
No entanto, a exposição à radiação ultravioleta também proporciona efeitos benéficos à saúde, como o estímulo à produção de vitamina D. A radiação UV ajuda no tratamento de doenças (como a psoríase, o vitiligo e alguns tipos de linfomas cutâneos) e tem ação bactericida e fungicida. Ela é subdividida em três faixas: UVA (320 nm a 400 nm), UVB (290 nm a 320 nm) e UVC (200 nm a 290 nm).
Devido à diminuição da camada de ozônio, os raios UVB, que estão diretamente relacionados ao surgimento dos vários tipos de câncer de pele, têm aumentado sua incidência sobre a Terra. Essa redução de ozônio também vem favorecendo a elevação da incidência das radiações UVC, potencialmente mais carcinogênicas que as UVB. A radiação UVA, por sua vez, independe da camada de ozônio e pode causar câncer de pele em pessoas que se expõem ao sol de forma inadequada.
A radiação UV e outros fatores externos, como estresse, poluição e fumo, aceleram o processo de envelhecimento da pele, provocando manchas, asperezas e descamações. O envelhecimento cutâneo induzido pelas radiações UV acontece em razão de várias alterações bioquímicas e fisiológicas. Algumas delas são: estresse oxidante, com mutações e/ou alterações no DNA; lipoperoxidação, com a formação de radicais livres; foto-oxidação de proteínas; e desequilíbrio na produção de enzimas antioxidantes.
As alterações decorrentes de fotoenvelhecimento comprometem as duas primeiras camadas da pele: epiderme e derme. Na epiderme, podem ocorrer mudanças na espessura e nas células pigmentares, resultando no espessamento e/ou no afinamento da pele, bem como em alterações de textura e de pigmentação. Na derme, as principais alterações estão relacionadas à degeneração das fibras colágenas e à fragmentação das fibras elásticas. Esse processo resulta em perda de elasticidade e formação de rugas e sulcos.
Para Eliane Dornellas, líder de P&D Cosmético na Colormix Especialidades, a busca por produtos seguros, eficazes e que proporcionem novas experiências sensoriais favorece o aumento do consumo de protetores solares que hidratam e nutrem a pele. Ela também destaca como tendências os claims naturais, sensoriais suaves, ação antioxidante e o respeito ao meio ambiente, “principalmente no que diz respeito à preservação da qualidade da vida marinha e do consumo de água”.
Cosméticos waterless, com formulações alinhadas ao conceito clean beauty, processos de produção sustentáveis e total transparência na comunicação do produto “certamente estarão presentes nos próximos lançamentos bem-sucedidos nesse mercado”, acrescenta.
Em sintonia com esses movimentos, a empresa destaca ativos de proteção UV e opções de componentes para a criação de uma excelente base cosmética. “A escolha dos componentes da base de um protetor solar pode fazer toda a diferença. É fundamental a definição de uma assertiva cascata de ésteres, com pesos moleculares diferenciados, que permitem boa espalhabilidade do produto, sensorial leve e boa compatibilidade com os ativos de proteção, principalmente nas formulações com filtros físicos”, diz.
O Cosphaderm Feel (INCI: Triheptanoin) é um éster natural, com certificações COSMO/Ecocert, de cadeia curta, toque suave, com excelente espalhabilidade e bom índice de refração da luz. É uma alternativa para os que buscam a substituição do silicone volátil.
Para evitar o efeito blue-white na pele apresentado pelo dióxido de titânio, a sugestão de Eliane é o uso do Apalight (INCI: Hidroxyapatite). Além da função de booster de proteção UVA/UVB, o ativo é um repositor mimético de cálcio na pele, “o primeiro sinalizador da pele para renovação da epiderme”, menciona. Outra opção natural para proteção UVB é o Bio Sun (INCI: Punica Granatum Fruit Extract; Ginkgo Biloba Leaf Extract; Calendula; Offi cinalis Flower Extract; Camellia Sinensis Leaf Extract), um booster botânico com ação antioxidante.
Para garantir a estabilidade do produto e a ação antioxidante na pele, ela cita o Cosphaderm Tapmix (INCI: Lecithin, Helianthus Annuus Seed Oil, Tocopherol, Ascorbyl Palmitate), um blend natural que reúne o benefício sinérgico das vitaminas C e E. “No caso da opção por filtro físico e natural, é necessário um agente de suspensão para garantir boa estabilidade e evitar a decantação das partículas. O Optigel CK (INCI: Bentonite) é uma opção hidrofílica de agente reológico natural. O uso desse ativo evita esse processo, além de melhorar a estabilidade da emulsão”, afirma.
O Apalight, mencionado por Eliane, está presente na formulação de cosméticos de marcas globais, como Clinique (Broad Spectrum SPF 30 Mineral Sunscreen Lotion for Body) e Estée Lauder (Perfectionist Pro Multi-Defense UV Fluid SPF 45 with 8 Anti-Oxidants).
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