Cravo-da-Índia: Mais que um Simples Condimento
publicado em 01/06/2005
Sílvia Carine Furtado Guimarães e Simone Santos Bezerra
Universidade Católica de Pernambuco
O cravo-da índia, Eugenia caryophylata Thunb, teve grande importância no passado, sendo sua utilização comercial bastante difundida no presente. Devido à presença do eugenol, o óleo essencial desta planta possui diversas aplicações em saúde, beleza e culinária.
The clove had great importance in the past, being intensively utilized in the present. Due to the presence of eugenol, the essencial oil of Eugenia caryophylata Thunb is known to comprise many applications in health, beauty and culinary.
El clavo tenía gran importancia en el pasado, siendo muy utilizado en el presente. Debido a la presencia del eugenol, el aceite essencial de la Eugenia caryophylata Thunb tiene diversas aplicaciones en salud, belleza y culinaria.
Extração do Óleo Essencial
Usos
Ficha Técnica
Conclusão
O cravo-da-índia (Eugenia caryophyllata Thunb.) é uma arbórea que pode atingir de 8 a 15 metros de altura, sendo uma árvore de tronco robusto e extremamente exuberante. Possui folhas persistentes e flores hermafroditas. Os frutos, parecidos com uma azeitona, são chamados de cravão pelos produtores. O produto comercial é o botão floral maduro e dessecado da Eugenia caryophyllata Thunb, designado “cravo” ou “cravo-da-índia”; este último, quando moído, denomina-se “cravo-em-pó” ou “moído” (Figura 1). Nativo das Ilhas Moluccas, o cravo é uma das especiarias mais conhecidas do mundo, junto com a pimenta-do-reino, a canela e a noz-moscada.
O nome científico antigo do cravoda-índia deriva da palavra grega “karyophyllon”, que significa “folha-noz”.
Da China é que veio a primeira indicação do uso do cravo-da-índia como condimento, remédio e elemento básico para elaboração de perfumes especiais e incensos aromáticos. Na China, era então conhecido por “ting hiang” e na dinastia Han (206 a.C. - 220 d.C.) seus frutos foram levados para a corte do imperador por enviados da Ilha de Java. Conta-se que os próprios javaneses mantinham um pequeno fruto na boca para melhorar o hálito, antes de ir falar pessoalmente com o imperador. No passado, foi tão precioso que chegou a provocar algumas guerras, pois seu comércio era praticamente monopolizado pelos portugueses, a quem pertenceram as Moluccas até o século XVII, quando os holandeses os expulsaram.
No Brasil o cravo foi introduzido e se adaptou muito bem na região do sul da Bahia. Até a alguns anos o Brasil era um grande exportador de cravo, principalmente para a Europa, mas devido a atitudes de má-fé de agricultores e comerciantes, os quais começaram a colocar pedaços de ramos misturados com o cravo, o mercado internacional perdeu o interesse pelo cravo brasileiro.
A grande importância do cravo é a presença de óleos essenciais, que podem ser utilizados em saúde e cosmética. Além disso, é um condimento versátil, que pode ser utilizado tanto em pratos doces quanto salgados.
Extração do Óleo Essencial
Escala industrial: O óleo aromático é obtido através do método de destilação por arraste de vapor. Esta destilação, executada em alambiques, é um dos mais simples e antigos processos de extração. Um alambique é formado por um grande tanque cilíndrico, no qual são depositadas as plantas que recebem o vapor vindo de outro recipiente. Esse vapor causa a evaporação dos óleos contidos nas plantas. O tanque é coberto por uma tampa especial (col de cygne ou pescoço de cisne) que acumula o vapor e o envia para a serpentina, normalmente refrigerada com água corrente, na qual o vapor é então condensado. A mistura de água condensada e óleo se separa naturalmente por decantação num recipiente especial chamado vaso florentino (Figura 2).
Escala laboratorial: O vapor de água passa pelo balão que tem a amostra a ser destilada; neste balão, encontram-se a amostra e água condensada, na fase líquida, e, na fase de vapor, pela lei de Dalton, encontram-se a água e os componentes da amostra exercendo suas respectivas pressões de vapor em função da temperatura. No condensador, o vapor irá se condensar para um líquido de duas fases: a fase aquosa e a fase orgânica, imiscíveis (Figura 3). É possível, então, separá-las por diferença de densidade com o auxílio do funil de decantação.
Usos
Culinária: O cravo pode ser usado tanto em pratos salgados como em pratos doces. No Brasil é muito empregado na preparação de doces, mas isto é uma herança da cultura portuguesa. Muito empregado no preparo do arroz doce, no doce de mamão verde, figo verde, abóbora, coco, casca de laranja, etc... Pode ser empregado no preparo de alguns licores compostos e no famoso quentão e vinho quente das festas juninas.
Beleza: Usado em loções e vaporizações para limpeza da pele do rosto, em produtos de higiene bucal para fazer assepsia e promover hálito agradável, em banhos de imersão aromáticos e águas perfumadas. É também eficaz no combate à acne. O óleo pode ser usado para massagear músculos doloridos, para suavizar estrias e é eficaz no tratamento de unhas quebradiças, rachadas ou fracas e de calosidades. Usado na elaboração de pomadas para remoção de verrugas. Ainda na forma de pomadas e cremes, alivia a coceira e o inchaço das picadas de inseto. É também utilizado em shampoos e loções capilares que limpam e auxiliam o crescimento dos fios.
Saúde: Combate à anorexia. Repele insetos. A grande importância do cravo é a presença de óleos essenciais, especialmente o eugenol. Este possui ação analgésica e antisséptica, e devido a estas propriedades foi utilizado durante muitos anos pelos dentistas, juntamente com o óxido de zinco para fazer os curativos nos dentes. O cravo ainda possui ação estomacal e antisséptica bucal, sendo empregado para corrigir mau hálito. Pode ser usado para gripes e resfriados. Devido a esta ação analgésica do cravo, aquelas dores no corpo provocadas por algumas gripes podem ser sanadas com a utilização de alguns chás com cravo. O óleo de cravo também é muito empregado para combater micoses de unha, frieira e aquelas manchas brancas nas costas.
Propriedades medicinais: Afrodisíaca, analgésica, antisséptica, bactericida, digestiva, excitante e vermífuga.
Contraindicações: Pode provocar contrações na musculatura do útero sendo, portanto, contraindicado para gestantes.
Efeitos colaterais: O uso externo pode causar eventuais reações alérgicas em pessoas sensíveis. O óleo essencial pode causar irritação na pele.
Aromaterapia: Os óleos essenciais são odoríferos e altamente voláteis. São muito diferentes dos óleos gordurosos, e têm “consistência” mais aquosa que oleosa. Sua constituição química é complexa, embora geralmente contenham álcoois, ésteres, cetonas, aldeídos e terpenos. Os materiais odoríferos se formam nos cloroplastos da folha. Combinam-se aí com a glicose para formarem glicosídeos, os quais são transportados ao longo da estrutura da planta. O óleo essencial extraído do botão de cravo-da-índia é indicado para dor de dente, prevenção de doenças infecciosas, astenia física e intelectual (para fortalecer a memória), dispepsia, fermentação gástrica, flatulência, impotência, lesões infectadas e úlceras, possuindo propriedades antisséptica, cicatrizante, estomática, carminativa, afrodisíaca e parasiticida. Não é utilizado em massagens; apenas em difusores aromáticos para meditação e relaxamento a fim de resgatar o bom humor.
Ficha Técnica- Nomes populares: Craveiro-da-índia, cravina-de-túnis, cravo-de-cabecinha, cravoária e rosa-da-índia. - Outros idiomas: Caryophylli (latim), clove (inglês), clavo (espanhol), clou de girofle (francês), garòfano d’India (italiano). - Características botânicas: O cravo-da-índia é uma planta de porte arbóreo, de ciclo perene e que atinge cerca de 12 metros de altura. A copa é bem verde, de formato piramidal. As folhas são semelhantes às do louro, ovais, opostas e de coloração verde brilhante, com numerosas glândulas de óleo visíveis contra a luz. As flores são pequenas, branco-amareladas, agrupadas em cachos terminais. O fruto é do tipo baga e de formato alongado, suculento, vermelho e comestível. Os cravos-da-índia que usamos na culinária são, na realidade, os botões florais (ainda não abertos) desta árvore. - Cultivo: Preferencialmente em clima tropical, com exposição solar plena, em solo úmido e bem drenado, rico em matéria orgânica e nutrientes, adubado com esterco bem curtido, húmus ou matéria orgânica; o espaçamento entre plantas deve ser de 8 metros. A colheita dos botões florais secos deve ser realizada quando as flores ainda estão fechadas, em botão, após o quinto ano de vida da planta. Procede-se à secagem dos mesmos ao sol por, aproximadamente, quatro dias, até adquirirem coloração escura, armazenando-os em sacos de papel ou recipientes de vidro bem fechados. - Características organolépticas: Aspecto visual de botão floral maduro, dessecado, ou pó homogêneo fino, com coloração pardo-negra (pardo-escura ou pardo avermelhada quando em pó), apresentando aroma forte, penetrante, e sabor pungente bem característicos. - Composição química: Eugenol, acetato de eugenol, beta-cariofileno, ácido oleânico, triterpeno, benzaldeído, ceras vegetais, cetona, chavicol, resinas, taninos, ácido gálico, esteróis, esteróis glicosídicos, kaempferol e quercetina. - Partes usadas: Óleo essencial e botões florais secos. |
Conclusão
O cravo-da-índia é uma planta aromática de fácil cultivo em regiões quentes, sendo dotada de características organolépticas peculiares; possui aplicações nas áreas de saúde, beleza e culinária; seu principal ativo é o eugenol; pode-se facilmente extrair o óleo essencial do botão seco através da destilação por arraste de vapor; este último é mais pesado que a água, ardente e pouco volátil, possuindo também diversas propriedades medicinais.
Sílvia Carine Furtado Guimarães é química Industrial, formada pela Universidade Católica de Pernambuco especializanda em gestão de qualidade, atuante na área de desenvolvimento e aplicação de fragrâncias.
Simone Santos Bezerra é graduada e Mestre em Ciências Farmacêuticas pela Universidade Federal de Pernambuco. Farmacêutica e Gerente da Garantia da Qualidade da Quimifar Ltda (Indústria de Medicamentos localizada em Jaboatão dos Guararapes-Pernambuco). Farmacêutica do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (RecifePernambuco).
Este artigo foi publicado na revista Cosmetics & Toiletries (Edição em Português) 17(3): 122-124, 2005.
1. TMCR dos Anjos. Terapia aplicada através dos óleos essenciais, 1ª. Edição, E. Roka, São Paulo, 1996, 265-266
2. E Keller. Guia Completo de Aromaterapia, 9ª. Edição, Editora Pensamento, São Paulo, 1999, 137-138
3. M Lavabre. Aromaterapia: a cura pelos óleos essenciais, 4ª Edição, Nova Era, Rio de Janeiro, 1997, 29
4. R Tisserand. A Arte da Aromaterapia, 13ª. Edição, Roca, São Paulo, 1993, 17-18
5. Agro-Fauna Homepage. Informações sobre a cultura: Cravavo-daÍndia Syzygium aromaticum (L.) Merr. & Perry. Disponível em: http://www.agro fauna.com.br/culturas.php?cultura=39/ - acesso em janeiro de 2004
6. Jardim de Flores: Flores e Folhas. Cravo-da-índia. Disponível em: http://www.jardimdeflores.com.br/floresefolhas// A20cravoindia.htm – acesso em janeiro de 2004
7. Resolução - CNNPA nº 12, de 1978. Disponível em: www.anvisa.gov.br/legis/resol/12_78_condimentos.htm – acesso em janeiro de 2004
8. A J Menezes. Cravo-da-índia - Eugenia caryophillata ou syzygium aromaticum. Disponível em: http://wwwjperegrino.com.br/fitoterapia – acesso em janeiro de 2004
9. A página da Química- Departamento Química – Universidade Federal de Santa Catarina. Extração do Eugenol: Destilação por arraste de vapor. Disponível em: http://qmc.ufsc.br/organica/ exp10/arraste.html janeiro de 2004
10. Rionet: Cravo-da-índia. Disponível em: < http:// www.rionet. com.br/~canto verde/ c.html.#cravo – acesso em janeiro de 2004
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