Objetivos
Materiais e Métodos
Resultados e Discussão
Conclusão

 

 

A infecção pelo SARS-CoV-2, vírus causador da Covid-19, resulta em manifestações clínicas principalmente respiratórias.1 Febre, tosse, fadiga, dificuldade de respirar, dores musculares, perda do paladar e/ou olfato, vômito e diarreia são frequentemente relatados.2 Efeitos significativos no sistema cardiovascular, como arritmia, parada cardíaca e insuficiência cardíaca, também são apontados, principalmente naqueles pacientes que já apresentam alguma doença cardiovascular subjacente.3–5

O principal modo pelo qual as pessoas são infectadas pelo SARS-CoV-2 é por meio da exposição a fluídos respiratórios que carregam o novo coronavírus, provenientes da exalação, da fala, da tosse e do espirro.6 Os profissionais de saúde que estão na linha de frente do combate ao vírus, bem como outras pessoas que têm contato com indivíduos infectados, estão mais expostos e apresentam elevado risco de contaminação e, consequentemente, de transmissão do vírus.7 A exposição pode ocorrer por três meios principais: inalação de gotículas e partículas de aerossóis contaminados; deposição, nas membranas das mucosas da boca, do nariz ou dos olhos, do vírus carregado pelas gotículas e partículas de aerossóis; ou pelo toque das mucosas com as mãos contaminadas por fluidos respiratórios contendo o vírus.8 A utilização correta de máscaras, o distanciamento físico, a limpeza dos ambientes e a adequada higienização das mãos com água corrente e sabonete ou produtos antissépticos são capazes de reduzir a transmissão viral por inalação, deposição e por meio de superfícies inanimadas contaminadas, denominadas fômites, contendo o SARS-CoV-2. É relevante informar que, atualmente, fortes evidências sugerem que a transmissão do vírus por meio de fômites não contribui substancialmente para novas infecções.8,9

 

Objetivos

Os objetivos deste trabalho foram: descrever as recomendações de órgãos nacionais e internacionais para a adequada higienização das mãos, como medida preventiva da transmissão da Covid-19; apresentar os cuidados necessários com a pele das mãos diante do uso frequente de sabonetes e antissépticos; e apontar os riscos de acidentes e queimaduras de[1]correntes do uso de formulações à base de álcool.

 

Materiais e Métodos

A pesquisa foi realizada por meio de uma revisão da literatura. As bases de dados consultadas foram Scopus (https://scopus.com), ScienceDirect (https:// sciencedirect.com), Web of Science (https://webofknowledge.com) e SciFinder (https://scifinder.cas.org), além das páginas eletrônicas da Organização Mundial da Saúde (OMS) (https://who.int), do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) (https://cdc.gov), da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) (https://gov.br/anvisa) e da Sociedade Brasileira de Queimaduras - SBQ (https:// sbqueimaduras.org.br), no período de maio de 2020 a junho de 2021. Os termos utilizados na pesquisa foram as palavras-chaves livres, com base nos descritores DeCS/MeSH (Descritores em Ciências da Saúde/Medical Subject Headings), e suas possíveis combinações. As palavras-chaves pesquisadas foram: (SARS-CoV-2 OR COVID-19) AND (hand disinfection OR hand sanitization OR hand washing) AND (alcohol OR soap). Artigos não relacionados à saúde, à higiene ou à antissepsia da pele das mãos não foram considerados. Foram selecionadas as publicações definidas como relevantes para os objetivos do trabalho. Livros e periódicos da área de cosmetologia também foram consultados, visando apresentar informações sobre formulações cosméticas consideradas relevantes para o trabalho.

 

Resultados e Discussão

As informações encontradas como resultado da revisão de literatura foram analisadas e sistematizadas nos tópicos apresentados a seguir.

A higiene das mãos segundo a OMS, o CDC e a Anvisa
A higienização das mãos é uma das medidas mais importantes que está ao nosso alcance para reduzir a propagação de patógenos, incluindo o SARS-CoV-2, tanto nos serviços de saúde como na comunidade.10 Para isso, os métodos indicados de higienização das mãos são a lavagem com água corrente e sabonete ou a utilização de produtos antissépticos.10,11 Os agentes antissépticos são substâncias que inativam ou inibem o crescimento de micro-organismos em tecidos, como a pele. Exemplos desses agentes são o álcool, o gluconato de clorexidina e o triclosan.12 Também é importante diferenciar um agente antisséptico de um desinfetante. Um desinfetante é um agente químico que destrói ou inibe o crescimento de micro-organismos, sendo aplicado em materiais e objetos inanimados, como instrumentos e superfícies, enquanto os antissépticos são aplicados na pele ou em mucosas. Com o uso de antissépticos e desinfetantes, não necessariamente todos os micro-organismos presentes na pele ou em superfícies são destruídos, mas podem ser reduzidos a um nível em que não apresentem riscos à saúde.13

A lavagem com água corrente e sabonete favorece a remoção de sujeira, de substâncias orgânicas e da microbiota transitória das mãos pela ação mecânica de esfregá-las uma na outra e pelas propriedades detergentes e desengordurantes dos tensoativos presentes no sabonete.14 O sabonete também é capaz de inativar o vírus da Covid-19 por romper sua membrana lipídica.15 Esse nível de descontaminação é suficiente para tornar mais seguros os contatos sociais em geral e a maioria das atividades práticas nos serviços de saúde.14

A OMS, o CDC e a Anvisa recomendam que as mãos sejam lavadas com água corrente e sabonete após a pessoa tossir ou espirrar; quando ela estiver cuidando de alguém doente; antes, durante e após preparar refeições; antes de comer; após utilizar o banheiro; após lidar com animais; e sempre que as mãos estiverem visivelmente sujas.10,14,16

O uso de formulações antissépticas à base de álcool deve ser feito quando não há acesso à água corrente e ao sabonete, e quando as mãos não estiverem visivelmente sujas.10,11,16

A maioria das formulações à base de álcool para a antissepsia das mãos contém álcool etílico, isopropílico, n-propanol ou uma combinação desses produtos.14 Os álcoois têm rápida ação microbicida quando são aplicados na pele e agem desnaturando e coagulando as proteínas dos patógenos.12

O uso de preparações contendo 60-80% de álcool é amplamente difundido para prevenir a Covid-19.16 A Anvisa preconiza, entre os cuidados a serem adotados individualmente pela população, a lavagem frequente das mãos com água e sabonete ou, alternativamente, higienizar as mãos com álcool em gel 70% ou outro produto devidamente aprovado por esse órgão.17 O CDC aconselha que, na ausência de água corrente e sabonete para a lavagem das mãos, deve-se dar preferência à utilização de produtos antissépticos contendo, ao menos, 60% de álcool na formulação.16 A OMS recomenda o uso de duas formulações à base de álcool para a desinfecção das mãos, visando reduzir a transmissão de patógenos: a Formulação 1, que contém álcool etílico 80% v/v, e a Formulação 2, que contém álcool isopropílico 75% v/v.12,18

Efeitos do uso de sabonetes e formulações antissépticas à base de álcool na saúde da pele das mãos
A pele é a superfície do corpo que interage com o meio ambiente. Sua primeira camada é denominada epiderme, e a estrutura mais superficial da epiderme, que está em contato com o meio externo, é o estrato córneo.20 Ele forma uma barreira eficaz que evita a invasão de patógenos, a perda desregulada de água e eletrólitos e protege o organismo de agressões químicas e físicas.21

No estrato córneo há uma camada natural de água e gordura, chamada de manto hidrolipídico, que é produzida pelas glândulas sudoríparas e sebáceas da pele. Esse manto lubrifica a pele e previne seu ressecamento. Quando essa hidratação natural é removida, a pele perde água e se torna esbranquiçada, descamativa, perde flexibilidade e fica mais vulnerável às agressões do meio ambiente.22

Os produtos de higiene das mãos podem danificar a pele ao causar desnaturação das proteínas do estrato córneo, alterações nos lipídios intercelulares e diminuição da coesão dos corneócitos e da capacidade de ligação de água ao estrato córneo. Os produtos de higiene à base de tensoativos emulsificam os lipídios da pele, enquanto os álcoois os dissolvem. Com a ausência da barreira do manto hidrolipídico, há aumento da penetração, nas camadas superficiais da pele, de substâncias irritantes e alergênicas, que podem desencadear uma resposta inflamatória local.12,14,15

Problemas dermatológicos relacionados à higienização frequente e repetitiva das mãos com água e sabonete são o ressecamento, o aumento da sensibilidade, a irritação e o desenvolvimento da dermatite de contato irritativa.14,15

Indivíduos com dermatite atópica ou que apresentam histórico familiar dessa doença apresentam uma barreira cutânea cronicamente disfuncional, o que aumenta sua sensibilidade aos irritantes cutâneos. Em casos mais raros, alguns indivíduos podem até desenvolver dermatite de contato alérgica quando ocorre reação de hipersensibilidade a um ou mais ingredientes presentes nos sabonetes.23

Os sabonetes em barra tradicionais são produzidos com gorduras naturais e soda cáustica, originando o chamado sabão, e apresentam pH na faixa de 9-10.15 Essa alcalinidade, se persistir elevada por mais de 4 horas na pele, por enxágue insuficiente ou por uso frequente do produto, pode desencadear problemas dermatológicos. Tendo em vista que o estrato córneo apresenta pH natural de cerca de 5,5, os sabonetes podem ser irritantes para a pele por provocarem edema do estrato córneo e depleção dos umectantes naturais e da água, levando à secura e ao comprometimento da pele.24 Outro inconveniente do uso de sabonetes é a obstrução folicular. Em contato com água rica em sais minerais, os sabões podem formar sais insolúveis que se depositam na pele, deixando um filme com aspecto opaco na sua superfície e podendo causar irritações.25

O uso frequente de antissépticos à base de álcool pode causar ressecamento na pele e ardência quando eles são aplicados sobre ferimentos. Podem ocorrer, ainda, dermatites de contato causadas por hipersensibilidade ao álcool ou a outros ingredientes presentes nas formulações.14 Para as crianças, produtos à base de álcool devem ser utilizados, preferencialmente, quando elas têm acima de dois anos de idade e sempre sob a supervisão de um adulto, devendo ser realizado o uso somente nos casos de impossibilidade de lavar as mãos com água corrente e sabonete. Se esses produtos forem utilizados de forma excessiva, pode haver irritação, dermatite e até queimadura, pois a pele das crianças é mais sensível.26

A frequência de lavagem das mãos e o uso de antissépticos aumentaram entre os profissionais de saúde e a população em geral durante a pandemia de Covid-19. A nova rotina de higiene das mãos vem sendo relacionada ao aumento no número de casos de dermatite nas mãos.27,28 Estudo realizado por Lan e colaboradores29, com profissionais de saúde que trabalham na linha de frente contra o SARS-CoV-2, na China, aponta que cerca de 74,5% deles relataram danos cutâneos nas mãos. Em outro estudo, realizado na Índia, Singh e colaboradores30 entrevistaram pacientes recém-diagnosticados com dermatite nas mãos, os quais não tinham relação de trabalho com a área da saúde. Os sintomas mais comuns relatados por eles foram prurido e sensação de ardor e ressecamento, enquanto os sinais mais comuns foram eritema, escamação e vesiculação na pele das mãos. Quase todos os pacientes admitiram o uso excessivo de antissépticos ou a prática excessiva da lavagem das mãos.

A dermatite de contato irritativa é descrita em consequência do uso de agentes antissépticos como iodóforos (iodo elementar ligado a um carreador, como a polivinilpirrolidona), clorexidina, cloroxilenol, triclosan e álcool. Porém, a pele que é danificada pela exposição repetida aos tensoativos pode ser mais suscetível à irritação por qualquer formulação antissépticas para as mãos. As formulações à base de álcool são muitas vezes associadas à melhor aceitabilidade e tolerância do que outros antissépticos para as mãos, como iodóforos, clorexidina, cloroxilenol e triclosan, embora elas ainda causem secura e irritação da pele. Os danos à pele também alteram a microbiota residente, podendo resultar em colonização por estafilococos e bacilos gram-negativos, que são micro-organismos patogênicos.12

As formulações à base de álcool acrescidas de hidratantes e emolientes têm maior tolerabilidade e permitem a manutenção da integridade da pele e a recuperação da sua microbiota residente, garantindo assim a saúde da pele.31,32 Medidas profiláticas, como instruções sobre como realizar a higienização correta das mãos e sobre o uso de produtos hidratantes após a lavagem das mãos, podem prevenir o desenvolvimento de dermatites nas mãos.33

É importante destacar que, no atual contexto global, a ocorrência potencial dos eventos adversos relacionados ao uso de sabonetes e de formulações antissépticas à base de álcool não deve, de maneira alguma, desviar as pessoas das rígidas regras de higiene das mãos para a prevenção da Covid-19.23

Cuidados com o uso de formulações antissépticas à base de álcool
O uso de formulações contendo alto teor de álcool é preocupante em relação ao elevado risco de acidentes e queimaduras.34 Por conta disso, a venda do álcool líquido 70% no Brasil foi restrita, em 2002, a laboratórios, hospitais e empresas que realizam processos de esterilização.35 Porém, desde março de 2020, diante da necessidade de atender à demanda por álcool 70% para combater a Covid-19, a Anvisa autorizou a comercialização do álcool líquido 70% em embalagens de até 1 litro.36

A utilização de álcool 70% pode implicar acidentes com queimaduras graves, como os registrados pela SBQ.37 Entre março e novembro de 2020, ocorreram 700 internações hospitalares no Brasil em razão de acidentes com álcool 70% na forma líquida ou em gel, resultando em queimaduras graves.38 Referência no atendimento a queimaduras na região Centro- -Oeste, a Unidade de Queimados do Hospital Regional da Asa Norte (Hran), de Brasília DF, registrou, em 2020, 52 pacientes que haviam sido vítimas de queimaduras decorrentes do uso de álcool.39 O Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, de Belo Horizonte MG, também especializado em queimados, registrou aumento de 68% nos atendimentos durante a pandemia.40 Também são relatados muitos casos de queimaduras causadas por acidentes com álcool sem necessidade de hospitalização, que não são contabilizados, mas vêm sendo observados por médicos e enfermeiros quando fazem o atendimento.37

Muitas pessoas têm utilizado o álcool em gel em casa e logo em seguida se direcionam ao fogão, o que pode resultar em queimaduras.41 O álcool em gel não produz chamas visíveis, assim muitas pessoas não atentam ao risco de queimaduras.42 É importante, também, ter cuidado com o uso do álcool em gel na praia, em razão da elevada exposição ao Sol, que pode ocasionar irritação e manchas na pele.43 Outro exemplo de acidentes com queimaduras são os casos em que pessoas usaram produtos com álcool nas mãos e, em seguida, acenderam um cigarro.42 Visando reduzir os riscos, instituições como o CDC, nos Estados Unidos, e o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), no Brasil, recomendam que, em casa, o álcool 70% seja substituído por água corrente e sabonete para higienizar as mãos44,45 e por água sanitária diluída para limpar objetos.42,46

O álcool líquido ou em gel é facilmente inflamável, assim como seu vapor, presente em temperatura ambiente.47 Assim, esses produtos precisam ser armazenados com cuidado, longe de temperaturas elevadas, de fontes de chamas e de fumos.12

Cuidados com a saúde da pele das mãos
Com o objetivo de minimizar ou até mesmo evitar o desenvolvimento de problemas dermatológicos nas mãos, é importante tomar algumas precauções na hora de escolher os produtos antissépticos e de higiene.

Existem sabonetes em barra que contêm ingredientes hidratantes lipofílicos adicionados (por exemplo, vaselina, óleos vegetais e manteiga de karité), que permitem a limpeza eficaz da pele com o mínimo de remoção dos componentes essenciais do estrato córneo. Esse sabonetes são preferíveis em relação aos sabonetes comuns, visando preservar a saúde da pele.15 Os sabonetes supergordurosos são aqueles que apresentam o processo de saponificação de ácidos graxos e óleos incompleto ou contêm na sua composição a adição de substâncias gordurosas. São mais suaves que os sabonetes tradicionais e apresentam melhor capacidade de umectação. Os sabonetes transparentes apresentam adição de umectantes como a glicerina e o propilenoglicol na sua composição, por isso são considerados mais suaves do que os sabonetes tradicionais.25,48 As barras combinadas, que são outro tipo de sabonete, apresentam uma combinação de sabão com tensoativos sintéticos e, por terem pH de 7-9, são menos irritantes que os sabonetes tradicionais.49 Outra opção são os sabonetes em barra chamados syndet, baseados em tensoativos sintéticos, com menos de 10% de sabão na composição e pH entre 5,5 e 7, semelhante ao pH da pele íntegra.15 Por serem menos agressivos, os sabonetes syndet são indicados para peles sensíveis ou que apresentam problemas dermatológicos.50

Os sabonetes líquidos, por sua vez, são compostos de tensoativos sintéticos derivados de óleos, gorduras ou petróleo, produzidos por meio de reações químicas (esterificação, etoxilação e sulfonação), exceto a saponificação. Apresentam pH similar ao da pele e são superiores aos sabonetes em barra tradicionais em relação à maior tolerabilidade cutânea e à ausência de interação com os sais minerais presentes na água. Comumente contêm emolientes e umectantes que reduzem o ressecamento e a irritação da pele, sendo considerados suaves e pouco irritantes.25

Com relação aos antissépticos à base de álcool , o ideal é procurar aqueles que contenham emolientes, umectantes ou outros agentes condicionadores na formulação, os quais podem diminuir o efeito de ressecamento provocado pelo álcool por meio da hidratação da pele.14

Além disso, outras recomendações são importantes para a manutenção da saúde da pele das mãos:

• Não é necessário lavar as mãos com água e sabonete imediatamente antes ou depois de usar um antisséptico à base de álcool, isso apenas irritaria mais a pele.51

• É importante evitar usar água muito quente ou muito fria na higienização das mãos, para prevenir o ressecamento da pele.51

• Nas mãos não devem ser aplicados sabões, detergentes e outros produtos saneantes (produtos de limpeza), uma vez que seu uso é destinado a objetos e superfícies inanimadas.14

• Produtos hidratantes para a pele devem ser aplicados após a higienização das mãos.28 Esse passo é essencial para manter a pele hidratada. Eles devem ser aplicados, generosamente, várias vezes ao dia, principalmente logo após a lavagem das mãos.52 A maior frequência de lavagem das mãos e a menor frequência de aplicação de hidratante geram um desequilíbrio que predispõe as mãos ao maior risco de ter dermatite.15 A aplicação de um creme hidratante, posteriormente ao antisséptico ter secado nas mãos, não interfere nas propriedades e na eficácia do antisséptico contra os patógenos.23

Existem diferentes tipos de agentes hidratantes. Para melhorar de forma eficiente a qualidade da barreira da pele é interessante que os cremes e as loções hidratantes contenham substâncias umectantes combinadas com emolientes oclusivos. Os umectantes, como a ureia e o propilenoglicol, são capazes de atrair a água para a pele. Os emolientes oclusivos, como os óleos minerais e vegetais e ceras, evitam a perda de água da pele e aliviam a irritação. Uma combinação dos dois tipos de compostos hidratantes é útil para atrair e manter a água na pele, e consequentemente acalmá-la. Pomadas e cremes gordurosos fornecem maior proteção contra a descamação da pele do que as loções, que são mais líquidas e menos gordurosas. E, para reduzir o risco de sensibilização por contato, é recomendado o uso de produtos sem fragrâncias e que sejam hipoalergênicos.23 Todos esses cuidados ajudam na manutenção da saúde da pele em uma rotina de higienização das mãos.

 

Conclusão

A higiene frequente das mãos com água corrente e sabonete, bem como o uso de formulações antissépticas, como as que são à base de álcool, pode levar ao desenvolvimento de danos à saúde da pele das mãos, que vão desde ressecamento até dermatites. Entretanto, a higienização das mãos é uma das principais ações profiláticas no combate à Covid-19 e deve ser realizada por toda a população. Dessa forma, é importante a utilização de formulações de higiene e antissepsia que agridam menos a pele, bem como a implementação de uma rotina de hidratação, propiciando a manutenção da integridade da pele das mãos. Com essa revisão, as autoras pretendem elucidar o estado da arte sobre as formulações destinadas à higiene e à antissepsia das mãos, com enfoque em sabonetes e antissépticos à base de álcool, respectivamente. A compreensão do impacto do uso dessas formulações na saúde da pele é fundamental para o desenvolvimento de novos conhecimentos sobre produtos de higiene e antissépticos e suas aplicações no controle da disseminação de doenças infecciosas como a Covid-19.

 

 

Agradecimentos
Agradecemos à agência de fomento Capes pelo suporte financeiro para a realização deste trabalho. Agradecemos, também, aos trabalhadores da saúde que estão na linha de frente de combate ao SARS-CoV-2, bem como aos trabalhadores dos serviços essenciais em geral, pelos serviços que estão sendo prestados à humanidade durante a pandemia de Covid-19.

 

Marina Gomes é farmacêutica, mestre e doutoranda em Farmácia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis SC, Brasil.
Bianca Ramos Pezzini é farmacêutica e mestre em Farmácia pela UFSC, doutora em Fármacos e Medicamentos pela Universidade de São Paulo (USP), e professora da disciplina de Cosmetologia na UFSC, Florianópolis SC, Brasil.

 

 

Este  artigo foi publicado na revista Cosmetics & Toiletries Brasil 34(1): 36-41, 2022.