Cosméticos e Etnia
publicado em 09/02/2024
Erica Franquilino
Jornalista
Valores espirituais e comportamentais de diversas etnias ditam escolhas diárias de milhões de pessoas no planeta. São códigos imutáveis e que asseguram a continuidade da identidade cultural e religiosa de comunidades, onde quer que estejam. Com base na ancestralidade e alinhados ao presente, alimentos e uma grande diversidade de produtos são desenvolvidos de acordo com os preceitos ayurvédicos, halal e kosher.
A aura de pureza e saúde associada a esses tipos de produtos – que, em alguns casos, passam por rigorosos processos de certificação – tem potencial para atrair outros consumidores, para além dos respectivos nichos.
Ayurveda
Na Índia, o mercado de produtos de beleza ayurvédicos vale cerca de US$ 4 bilhões, segundo a Market and Researchers – quase 90% do mercado global. Criada em 1997, a norte-americana Aveda, do grupo Estée Lauder, tem produtos inspirados nas terapias ayurvédicas e protocolos realizados em salões de beleza em todo o mundo.
Em 2008, a Estée Lauder adquiriu uma participação de 20% na marca indiana de produtos para pele e cabelo Forest Essentials, que tem 130 lojas na Índia e exporta para 120 países. Em 2021, a Forest Essentials chegou ao Reino Unido, onde atualmente tem 12 lojas.
Ao adquirir participação majoritária na indiana Kama Ayurveda, em 2022, o grupo espanhol Puig ampliou seu investimento em um mercado “com vasta oportunidade de crescimento em produtos de beleza e bem-estar”, disse o conglomerado, em comunicado.
O conceito que atrai gigantes do setor é uma terapia milenar indiana focada no equilíbrio entre corpo, mente e espírito. O termo é formado por “Ayu” (vida) e “veda” (conhecimento). É uma filosofia holística voltada ao equilíbrio energético e ao restabelecimento da harmonia do organismo. De acordo com o ayurveda, a energia de cada pessoa está conectada com o todo, com o universo e com os ciclos naturais da vida. Problemas emocionais, traumas físicos e má alimentação podem causar um desequilíbrio energético e acumular toxinas no corpo, dando origem a doenças.
A medicina ayurvédica utiliza massagens, nutrição, aromaterapia, técnicas de respiração, fitoterapia, yoga, meditação, uso terapêutico de pedras e minerais e atividade física, dentre outras abordagens, para prevenir doenças e apoiar processos de cura.
Há também o panchakarma, um conjunto de terapias de purificação do corpo e da alma para eliminar toxinas e prevenir doenças, que inclui a aplicação de óleos corporais, a ingestão de chás de plantas medicinais, limpeza intestinal com enemas, aplicação de medicamentos na forma de spray nasal preparados com plantas medicinais, terapia com cristais e cromoterapia.
Na alimentação, o objetivo é ingerir alimentos orgânicos e saudáveis, em oposição ao consumo de industrializados. É uma dieta que preconiza o consumo de grãos integrais, sementes e leguminosas de fácil digestão. Uma refeição ayurvédica deve conter os seis sabores (doce, salgado, ácido, amargo, picante e adstringente) para ser completa e trazer plenitude.
Ainda que não sejam aprovadas pelo Conselho Federal de Medicina – uma vez que não há comprovações científicas a respeito de sua eficácia –, terapias ayurvédicas são oferecidas pelo SUS, como parte do Programa Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC). Elas têm caráter complementar no tratamento de condições como ansiedade, estresse, depressão, insônia, dores musculares, asma e problemas dermatológicos.
No ayurveda, o corpo é constituído por três princípios, os doshas, que são combinações dos elementos ar, éter, fogo, água e terra. Os doshas são: Vata, Pitta e Kapha (veja mais abaixo). Cada dosha agrega características físicas e psicológicas associadas a energias que coexistem em cada pessoa. A combinação dos três doshas é chamada de Prakriti.
Todas as pessoas são regidas pelos três doshas, mas têm um dominante, que se expressa com maior intensidade. Doenças surgem quando há um desequilíbrio entre eles. Na medicina ayurvédica, alcançar o equilíbrio é alinhar os doshas conforme a energia original de cada pessoa. Dentre as técnicas usadas para harmonizar os doshas, estão as massagens e manobras corporais, feitas com óleos essenciais e pedras vulcânicas.
Existem diversos tratamentos que usam a pele como principal condutor para o equilíbrio energético, como a Abhyanga (massagem nutritiva feita com uma grande quantidade de óleo morno, em movimentos fluidos e ritmados) e a Garshana (estímulo na pele realizado com uma massagem feita com luva de seda, sal grosso, óleos vegetais e ervas medicinais).
A pele é considerada um mecanismo de entrada e saída de purezas e impurezas. Óleos naturais como os de mostarda, gergelim, coco, girassol, amêndoas, rícino e de sementes de uva são muito utilizados em tratamentos ayurvédicos. Em massagens realizadas por um terapeuta, os óleos podem ser aplicados puros ou com a adição de ervas, para a criação dos óleos medicados.
Os óleos medicados são elaborados a partir da fervura do óleo-base com os ingredientes necessários para a terapia. Eles são criados e classificados em grupos de propriedades, para serem destinados a várias pessoas, e também podem ser elaborados especialmente para uma pessoa, a partir do diagnóstico feito pelo especialista.
O equilíbrio entre corpo e mente, bem como a lógica da alimentação – natural, leve e orgânica – também se aplicam aos cosméticos ayurvédicos. A norte-americana GuruNanda lançou recentemente um enxaguatório bucal inspirado nas capacidades curativas naturais do ayurveda. O enxaguatório bucal concentrado é formulado com uma mistura patenteada de sete óleos essenciais 100% naturais, para melhorar a saúde bucal e promover hálito fresco.
Para usar o produto, os consumidores são orientados a pingar quatro gotas no copo dosador, adicionar água e agitar por um minuto. Segundo a GuruNanda, cada frasco rende cerca de 300 utilizações. O enxaguatório não contém álcool, flúor, conservantes ou glúten.
O Sabonete Facial Ayurvédico em Pó com Grão De Bico e Neem, da brasileira Baddha Skincare, é formulado com farinha de grão-de-bico (rica em magnésio, ajuda a suavizar linhas finas e controla a acne), neem (com ação bactericida e purificante, ideal para peles com acne e inflamações) e argila branca (clareia a pele, remove células mortas e promove regeneração).
A promessa é de limpeza profunda e renovadora, com eliminação de impurezas, oleosidade e maquiagem, sem ressecar a pele. O sabonete combate radicais livres, estimulando a renovação celular e a vitalidade da pele; suaviza pequenas linhas de expressão e os efeitos da poluição; reduz a vermelhidão, suaviza manchas, hidrata e controla o excesso de oleosidade.
Para usar o produto, é preciso misturar uma pequena quantidade do pó com água até formar uma pasta e aplicar no rosto. “Faça movimentos circulares e enxágue em seguida. Se desejar um leve efeito lifting, deixe agir por alguns minutos antes de enxaguar”, informa a marca. A composição foi elaborada para equilibrar os doshas, promovendo harmonia interna “que se reflete na beleza da pele”.
A Sri Sri Ayurveda nasceu na Índia em 2003, e os produtos são comercializados no Brasil desde 2017. Dentre os itens do portfólio está o Hidratante Corporal Açafrão-da-Índia (Kesar Cream), que combina açafrão (com propriedades antioxidantes e antibacterianas) e proteínas da soja para uma pele suave, macia e hidratada por mais tempo.
O Henna Shikakai Shampoo Sri Sri Tattva, para o cuidado diário dos cabelos, é indicado para fios normais ou oleosos. A composição traz shikakai, henna, reetha e ácido cítrico. “A henna nutre o cabelo, proporcionando brilho, movimento e maciez. O shikakai, conhecido como ‘fruta para o cabelo’ é usado na ayurveda para tratar o couro cabeludo, limpando-o profundamente e fortalecendo a raiz, para um crescimento saudável”, destaca a Sri Sri Ayurveda.
A AyurBrasil é uma empresa de origem indiana, fundada pela terapeuta ayurvédica Seema Khulbe, com o objetivo de “democratizar o acesso ao conhecimento do ayurveda no Brasil”. Os produtos são formulados com ingredientes que desintoxicam, nutrem e hidratam profundamente a pele, com ações antioxidantes, antibacterianas, antifúngicas e tonificantes, para um cuidado completo.
A Máscara Facial de Neem oferece os benefícios da planta asiática rica em vitamina E e com propriedades antioxidante, antisséptica e anti-inflamatória, que promovem a renovação celular e devolvem o brilho natural da pele. Indicada para peles oleosas, inflamadas e acneicas, a máscara tem ação tônica, adstringente, calmante e cicatrizante. A aplicação (no rosto, pescoço, ombros e região do peito) é feita a partir da mistura de uma a duas colheres da máscara em pó com água ou leite, até formar uma pasta. O tempo de ação é de 10 a 15 minutos.
O Óleo de Mostarda e Gergelim é formulado especialmente para pessoas dos doshas vata (“que sofrem com extremidades do corpo ressecadas”) e kapha (“que geralmentetêm má circulação sanguínea e excesso de tecido adiposo”). A composição inclui gergelim, mostarda e outros ingredientes termogênicos, como óleo de cravo, canela, laranja, uva e alecrim. Ele estimula a circulação sanguínea em áreas com pouca vascularização e ajuda no combate à celulite.
O Sal de Banho de Lavanda e Manjericão Sagrado, também da AyurBrasil, proporciona uma experiência relaxante e terapêutica, aproveitando as propriedades da lavanda e do manjericão. “Essa combinação é perfeita para pessoas que sofrem com inchaço nas pernas e têm tendência a acumular tecido adiposo nos membros inferiores (dosha kapha). No entanto, seu uso é recomendado para todos, especialmente para aqueles que vivem em regiões mais quentes”, diz a marca.
Halal
O termo halal (em árabe, “permitido, autorizado”) refere-se a comportamentos, alimentos, produtos e serviços permitidos pela religião islâmica – a única que cresce mais rapidamente do que a população global. Atualmente, o islamismo é a segunda maior religião do mundo, com aproximadamente 1,9 bilhão de fiéis. No Brasil, existem entre 800 mil e 1,5 milhão de muçulmanos, segundo a Federação das Associações Muçulmanas no Brasil (Fambras).
O produto halal é aquele que atende às exigências da religião islâmica em toda a cadeia produtiva, incluindo matérias-primas, insumos, transporte e armazenamento. Todas as regras seguem as diretrizes do Alcorão, o livro sagrado do Islã. Tudo o que é expressamente proibido pelo Alcorão é haram.
Na alimentação, suínos e bebidas alcoólicas são proibidos. Há regras específicas para o abate de bois e frangos, que não podem ter comido rações com aditivos ou com proteína animal, nem recebido doses de hormônio para engorda. Peixes são considerados halal por natureza, porque saem da água vivos.
O mercado halal movimenta cerca de US$ 6 bilhões por ano no Brasil. Em 2022, o país exportou US$ 23,41 bilhões em alimentos e bebidas para os 57 países de maioria muçulmana da Organização da Conferência Islâmica. Esses embarques fizeram do Brasil o maior fornecedor de gêneros alimentícios ao mundo muçulmano e representaram um desempenho 41% superior em relação ao ano anterior.
O relatório State of the Global Islamic Economy, produzido pela DinarStandard, estima que o mercado halal no mundo é de aproximadamente US$ 5,74 trilhões, englobando vários segmentos, como: agronegócio, alimentos, produtos farmacêuticos, de cuidado pessoal, cosméticos, vestuário, bancos e finanças, logística, armazenamento, mídia, turismo e distribuição.
No período de 2019 a 2024, o mercado de alimentos e bebidas halal tende a ter um superávit de US$ 21 bilhões; o de turismo, US$ 14 bilhões; o de moda, US$ 34 bilhões; o de fármacos, US$ 34 bilhões; e o de cosméticos, US$ 10 bilhões. Ainda segundo a DinarStandard, o mundo muçulmano registrou um aumento de 8,9% nos gastos do consumidor em 2021.
“Cosméticos são importantes no mundo muçulmano, especialmente para as mulheres. Alguns grupos religiosos acreditam que o corpo é dado a cada pessoa como um presente de Deus, que deixou esse corpo sob os cuidados dessa pessoa. Portanto, é necessário cuidar do corpo da forma adequada, por meio da aplicação dos produtos corretos, de modo a preservar o recato. Comportar-se de maneira diferente, para os verdadeiros muçulmanos, é cometer um pecado”, afirmou Luigi Rigano, autor do artigo Cosméticos Halal, publicado na revista Cosmetics & Toiletries Brasil, em junho de 2018.
Para cumprir os regulamentos do halal, cosméticos não podem conter álcool na formulação. O álcool é considerado uma substância tóxica (devido aos efeitos de sua ingestão), bem como o etanol, que deve ser evitado na extração química e na síntese de matérias-primas. A utilização de derivados de suínos também é proibida, com base na facilidade com que a carne e a gordura do porco se decompõem em climas quentes – onde o Islã nasceu e se desenvolveu.
O artigo mencionado anteriormente informa que, para que o cosmético seja considerado halal, deve-se atentar à origem e ao processamento de colágeno, queratina, ácido hialurônico, aminoácidos e proteína animal hidrolisada.
“Outras restrições abrangem o sangue e seus derivados; insetos e seus derivados, como o extrato de cochonilha ou o carmim CI 75470, extraído do Dactylopius coccus; e drogas ou álcool etílico, que são considerados tóxicos mesmo que tenham sido usados apenas para limpeza de equipamentos nas linhas de produção ou para produzir extratos. Em especial, a noz-moscada, a assafétida, o extrato de baunilha e a gelatina (especialmente de porco) estão proibidos, seja por serem considerados tóxicos, seja por conterem algum percentual de outras substâncias tóxicas”, apontou o autor.
Todos esses requisitos são verificados por meio da certificação halal. Certificadoras habilitadas atestam a capacidade das empresas para produzir, manusear, armazenar e distribuir produtos que obedecem aos preceitos da jurisprudência da lei islâmica. Essa comprovação torna os produtos aptos para o consumo.
O controle de conformidade dos produtos às regras muçulmanas é feito de forma preliminar, num processo bastante detalhado, que envolve as etapas de documentação, implementação do sistema de qualidade halal, auditoria e emissão do certificado.
“As mulheres muçulmanas, assim como as de outras religiões, têm nos cabelos uma fonte de sensualidade muito grande, e o uso de produtos hair care é muito intenso. Shampoos, condicionadores, finalizadores, alisantes e outros aparecem nos toucadores dessas mulheres”, destacou Valcinir Bedin na coluna Tricologia da revista Cosmetics & Toiletries Brasil, de junho de 2018. Segundo dados da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, divulgados em 2021, o mercado de beleza halal deve faturar mais de US$ 76 bilhões até 2024.
São exemplos de marcas halal internacionais: a norte-americana Shade M, especializada em batons, com destaque para a versão mate de altíssima duração; Somenthic, marca de skincare e maquiagem indonésia; PHB Ethical Beauty, multimarca norte-americana que comercializa apenas produtos halal e veganos, incluindo a marca própria; e Rella Beauty, marca norte-americana especializada em batons halal. A cada batom Rella Beauty comercializado, um é doado para mulheres carentes. A marca tem parceiros ao redor do mundo, que atendem comunidades vulneráveis – muçulmanas ou não.
Outros destaques são: a norte-americana Flora and Noor, primeira marca halal de skincare a ser comercializada na rede Ulta Beauty; a australiana Inika Organic, com itens de maquiagem e cuidado da pele; os esmaltes de luxo da britânica Nailberry; e a varejista de beleza on- -line PrettySuci, que vende exclusivamente produtos halal (de produtos para unhas a higiene masculina), abrangendo 25 marcas, além da própria, que também é comercializada em várias lojas da Sephora na Malásia.
No Brasil, a Adélia Mendonça Cosmiatria é a primeira indústria de cosméticos a receber a certificação halal na América Latina. “Ser halal também é ser reconhecida internacionalmente por sua reputação em qualidade, confiança e excelência. A importância das certificações se dá pelo fato de permitirem o incentivo à inovação e à evolução do setor de dermocosméticos no Brasil, além de assegurar a qualidade de forma auditada rigidamente, em diversos parâmetros”, destacou a marca, com sede em Minas Gerais.
Kosher
A palavra kosher ou kasher tem origem hebraica e pode ser traduzida como “próprio”, “adequado” ou “correto”. Kosher é o termo usado pela tradição judaica para designar tudo o que é apropriado para consumo. Muitos judeus praticantes em todo o mundo seguem essa tradição. Os alimentos kosher obedecem a uma série de regras descritas na Torá, o livro sagrado dos judeus. O objetivo é ingerir alimentos puros e nutritivos, para o corpo e para a alma.
A Torá, ou Bíblia Hebraica, corresponde aos cinco primeiros livros do Pentateuco – Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio – e constitui também a primeira grande parte da Bíblia Cristã, ou Antigo Testamento. No Levítico, estão as leis alimentares conhecidas como “leis da kashrut”, que formam a base do sistema Kosher.
O conjunto de regras que estabelece quais alimentos podem ser consumidos também orienta o preparo e a combinação dos ingredientes. Segundo as leis do Kosher, os animais terrestres que são permitidos para consumo são aqueles que têm casco fendido e ruminação, como vacas, ovelhas e cervos. Animais como porcos, coelhos e camelos são considerados impuros.
Peixes são considerados Kosher se tiverem barbatanas e escamas, como salmão, atum, truta e tilápia. Dentre as restrições, a mais conhecida é não misturar carne e leite em uma mesma refeição. A proibição vai além de comer carne e leite ao mesmo tempo, abrangendo a utilização de utensílios e recipientes diferentes para preparar e consumir alimentos de origem animal e láctea.
De acordo com um relatório da Persistence Market Research, o mercado global de alimentos kosher deverá registrar uma expansão de 11,6% até 2025, com receita de US$ 60 milhões. Segundo o relatório, cerca de 65% dos consumidores escolhem alimentos kosher por razões não religiosas, como a preocupação com a saúde.
A certificação kosher é fornecida por autoridades rabínicas ou organizações especializadas, que realizam inspeções e verificam o cumprimento das leis da kashrut. O processo de certificação envolve etapas que podem variar de acordo com a instituição certificadora, mas geralmente incluem: avaliação inicial, inspeção no local, verificação dos ingredientes, análise das etiquetas e embalagens, supervisão contínua e emissão do Selo Kosher. A certificação para produtos não alimentícios segue os mesmos princípios e requisitos aplicados à certificação de alimentos.
Assim como no setor alimentício, cosméticos kosher excluem ingredientes derivados de animais proibidos, derivados de sangue, algumas partes de gorduras animais e produtos lácteos. As matérias-primas devem ser derivadas de fontes que atendam às diretrizes kosher, bem como os processos de produção e embalagens, que devem privilegiar o uso de materiais ecológicos e práticas sustentáveis.
O mercado de beleza kosher é modesto ante a diversidade de marcas halal e de inspiração ayurvédica. A marca de maquiagem ShainDee Cosmetics, criada há 40 anos pela judia ortodoxa Shaindy Kelman, atende mulheres de comunidades judaicas de todo o mundo. Os destaques são as formulações em pó, que podem ser usadas inclusive durante o shabat (período que começa no pôr do sol de sexta-feira e termina no pôr do sol de sábado), quando não são permitidos produtos cremosos e mistura de cores no rosto.
A certificação kosher é uma das características da Kreizi Beauty, que abraça diferentes públicos em produtos para maquiagem e cuidado da pele. “Temos orgulho de sermos clean, livres de crueldade, veganos, certificados Kosher e certificados halal. Não é comum que marcas de beleza tenham todas essas certificações, mas é isso que nos torna Kreizi”, diz a marca.
Criada em 1989, a Schraiber, sediada na cidade paulista de Cotia, tem vários produtos com certificação kosher e parve (termo utilizado para informar que o produto não contém leite, carne ou seus derivados) no portfólio. O Enxaguatório Bucal de Calêndula tem formulação isenta de corantes artificiais e flúor e combina ativos naturais como a calêndula, reconhecida pelas propriedades anti-inflamatória e cicatrizante, alcaçuz, com ação bactericida, e guaiacum, que tem ação anti-inflamatória. A composição, sem álcool, ainda traz óleos essenciais “que proporcionam hálito puro e refrescante e não agridem o esmalte dos dentes”.
O Creme Facial Luminous Schraiber combina os benefícios do extrato de romã com ingredientes emolientes e umectantes. A romã é uma fruta rica em vitaminas A e E, potássio, ácido fólico e polifenóis, ativos com alto poder antioxidante. O produto combate a ação dos radicais livres, mantém a umidade natural da pele e reduz a perda de água da derme. A indicação é de uso diário, após a limpeza facial. O creme reduz rugas, confere firmeza, estimula a renovação celular e melhora a elasticidade.
Em 2021, a Harus desenvolveu uma linha exclusiva de amenities com certificação kosher para a Kur Cosméticos, marca própria do Kurotel, Centro Contemporâneo de Saúde e Bem-Estar, localizado em Gramado, no Rio Grande do Sul. A linha, composta por shampoo, condicionador, sabonete corporal e emulsão para peles ressecadas, é formulada com extrato de broto de bambu, vitaminas B5 e E, óleo de jojoba e manteiga de karitê. O Kurotel foi certificado pela Wedo Kosher, consultoria responsável pela capacitação e orientação de hotéis que oferecem culinária à comunidade judaica, como o primeiro SPA kosher do mundo.
Características dos Doshas
Os doshas são os biotipos do ayurveda. São três grupos de características físicas e psicológicas associadas a energias que coexistem em cada indivíduo. Cada dosha é formado pela combinação de dois elementos. Um profissional especializado em medicina ayurvédica pode oferecer uma orientação personalizada – o que inclui alimentação, atividade física e terapias com óleos essenciais, por exemplo – para o equilíbrio dos doshas e a manutenção da saúde e do bem-estar.
Pitta (fogo e água)
Pessoas com a predominância desses elementos têm estatura mediana, pele mais delicada, geralmente clara e com sardas, tendência à acne, metabolismo acelerado, são ativas e sentem muita sede. São características desse dosha a fala bem articulada, a veia empreendedora e a atração por desafios. O dosha Pitta está relacionado à digestão, ao metabolismo, à transformação e ao que é quente, líquido, azedo e oleoso.
Vata (éter e ar) É um biotipo com tendência à insônia, falta de foco e ansiedade. Pessoas com esse dosha são magras, com pouca musculatura, longilíneas e friorentas. Indivíduos com o Vata dominante costumam ser ágeis, entusiasmados e comunicativos, quando estão em equilíbrio. São pessoas com pele seca e propensa à descamação, cabelos escuros e finos, apetite instável e sono leve.
Kapha (água e terra)
O biotipo é descrito como tranquilo, afetuoso e tolerante. Essa combinação está associada a uma estrutura física forte e resistente, com tendência a ganhar peso. Frio, pesado, lento, macio, estável e viscoso são termos associados a esse dosha. Ele representa a proteção e a manutenção de um sistema imunológico forte e está relacionado às funções estruturais e de lubrificação do corpo. Pessoas com o Kapha dominante costumam ter pele oleosa, espessa e fresca ao toque, com poros dilatados e tendência à retenção de água.
Matéria publicada na revista Cosmetics & Toiletries Brasil, Jan/Fev de 2024, Vol. 36 Nº1 (pág 12 a 18)
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