Produtos para gestantes

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Formulações

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Relações delicadas

Produtos para gestantes

     A gestação é um período de transformações. Tudo acontece ao mesmo tempo nos meses que antecedem a chegada do bebê: mudanças na pele, cabelos, olfato, paladar, reacomodação dos órgãos... Saiba quais são as principais alterações que acontecem no organismo da mulher, os ingredientes e tipos de produtos recomendados para esse momento e as substâncias que não podem estar na formulação desses produtos, em função da saúde da mãe e do bebê.

     Durante a gestação, o organismo da mulher sofre alterações hormonais que acarretam mudanças na pele e nos cabelos. A maior produção dos hormônios estrógeno e progesterona pode estimular o aumento da oleosidade da pele e o fechamento dos poros. Esse quadro leva à incidência de pontos de inflamação, que provocam as acnes. “Há mudanças na pele, como alteração de oleosidade e pigmentação, principalmente em peles mais morenas, nas quais há um estímulo muito grande para a produção de melanina. As áreas mais afetadas são as mamas, mamilos, genitália, linha alba [linha central, que vai do umbigo à região pubiana] e a face”, sintetiza a dermatologista Angélica Pimenta, de São Paulo.

     O aumento da oleosidade no couro cabeludo pode levar à dermatite seborréica, a caspa. No entanto, os cabelos das grávidas também podem ficar mais encorpados e resistentes, graças ao aumento da pressão sanguínea, que por sua vez amplia o fornecimento de nutrientes aos folículos capilares. Angélica explica que nessa fase há uma tendência de crescimento de pelos no corpo e no couro cabeludo, “com um aumento da quantidade de cabelos na fase anágena, que é a fase de crescimento do fio. Porém, logo depois do parto, há uma queda capilar muito importante, pois há uma mudança brusca da fase capilar anágena para a telógena, que é a fase de queda capilar”, acrescenta.

     Nos casos em que a mulher já possui uma doença do couro cabeludo, como a calvície, após o nascimento do bebê os cabelos não serão repostos na mesma intensidade e não terão o mesmo volume que tinham antes da gestação. “Assim que souber que está grávida, o ideal é que a mulher procure um dermatologista, e de preferência que saiba realizar exames tricológicos, como o tricograma. Esse é o exame que mais gosto de fazer nesses casos, para identificar de forma precoce se ela tem doenças e realizar o acompanhamento e o controle delas”, diz Angélica.

     Para o cuidado da pele, a dermatologista recomenda o uso de óleos de banho, hidratantes com elastina, colágeno, vitaminas e umectantes e, naturalmente, “muito protetor solar”. “Nem todas as medicações usadas habitualmente são liberadas pela Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] para o uso em gestantes. Os medicamentos ou sabonetes à base de ácido salicílico, por exemplo, devem ser substituídos por outros sem essa substância. Ácidos retinóicos e seus derivados também são contraindicados. Já os ácidos azelaico, glicólicos e algumas vitaminas são liberados”, ela completa.

     Sergio Floriano de Toledo, ginecologista, obstetra e professor de obstetrícia da Faculdade de Ciências Médicas de Santos, destaca que o bem-estar da futura mãe está relacionado ao tripé: alimentação saudável, atividade física compatível para cada gestante, e medidas de orientação para a higiene pessoal.

     “Para os cuidados da pele da gestante existem situações que merecem cuidado especial, como os problemas de pigmentação (cloasma), do tecido conectivo (estrias), dos fâneros (pelos e unhas), bem como o aparecimento de espinhas. Outro aspecto fisiológico significativo é o aumento do fluxo sanguíneo em locais distintos do corpo, o que pode aumentar a absorção de determinadas substâncias, acarretando risco para a mãe e o feto”, ressalta Toledo, que é presidente da regional Santos e Baixada Santista, da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (Sogesp).

Formulações

     Devido às alterações descritas anteriormente e à baixa no sistema imunológico, o desenvolvimento de produtos para gestantes segue os mesmos cuidados observados na elaboração dos itens para peles sensíveis. São produtos com “pouco ou nenhum perfume; sem álcool e corantes sintéticos; sem óleo mineral, propilenoglicol ou derivados petroquímicos; e sem parabenos. [É importante] utilizar tensoativos suaves, com baixo potencial irritante, ação calmante e hidratante. Além disso, é primordial não causar nenhum risco de má formação ou qualquer outro dano à saúde do bebê, durante a gestação ou a amamentação”, diz Simone Ribeiro, gerente de Inovação e Tecnologia da Dermage.

     A premissa básica é utilizar apenas matérias-primas que sejam aprovadas pela Anvisa, “comprovadamente testadas [testes clínicos de segurança e eficácia] e que não tenham restrições para uso em gestantes”, diz Antonio Celso da Silva, diretor industrial da Payot. Dentre os cosméticos desenvolvidos para gestantes estão os cremes para evitar o surgimento de estrias e para promover a maciez e a hidratação da pele; e os óleos vegetais, como os de amêndoas, semente de uva e germe de trigo.

     São priorizados os ativos hidratantes e que promovam a elasticidade da pele, “os ativos derivados do leite, os extratos vegetais e outros específicos”, diz Antonio Celso. Também são utilizadas substâncias oleosas, “como ceramidas, vitamina E e glicerina”, comenta Simone, da Dermage.

     Para evitar alergias ou irritações, shampoos, condicionadores e sabonetes são formulados com pouco ou nenhum perfume e sem corantes. O protetor solar ajuda a evitar as manchas na pele [chamadas de cloasma gravídico]. “Cada formulador elege um ativo ou mais, para suportar os benefícios e a segurança, sempre com os melhores fabricantes e os testes comprobatórios da inocuidade dos ativos em gestantes”, ressalta Antonio Celso.

     Os produtos formulados para gestantes devem evitar os ingredientes com potencial irritante. São exemplos o ácido salicílico “ou os que possam atravessar a barreira cutânea e causar má formação ao bebê, como no caso dos produtos com ácido retinoico. Produtos que estimulam a circulação também não são recomendados, visto que, nesse período, a circulação já é mais acentuada. Sendo assim, devem-se evitar produtos com mentol, canfora ou nicotinato de metila”, destaca Simone.

     Antonio Celso lembra a restrição aos produtos para relaxamento capilar, às tinturas e aos alisamentos. “A Anvisa tem legislação específica que restringe o uso de cânfora, chumbo e ureia. Médicos recomendam não usar produtos que contenham ácido retinoico, ácido glicólico, resorcina, hidroquinona, formol, além de produtos depilatórios”, completa.

     Lorena Mañes, gerente de marketing da Mustela no Brasil destaca os ingredientes dos Laboratórios Expanscience, detentor da marca Mustela para a linha 9 Meses. Dentre eles está o Lupeol, que permite estimular a biossíntese de colágeno e os peptídeos de abacate, que aliviam a sensação de tensão. “O Estrias Ação Intensa, por exemplo, traz, além dos ativos já citados, vitamina B5 e sófora japônica, hidratante que auxilia na diminuição das estrias no período pós-parto”, comenta.

     “A utilização de produtos como despigmentantes, citoestimulantes, e o ácido retinoico pode favorecer a má formação do feto, por essas serem substâncias potencialmente teratogênicas”, ressalta Toledo. Substâncias teratogênicas são as que, quando presentes durante a vida embrionária ou fetal, produzem alterações em sua estrutura ou função, ocasionando anormalidades em seu desenvolvimento.

     Segundo o médico, não há um consenso sobre a utilização de cosméticos na gestação e a orientação varia de acordo com o ginecologista. “Não existe uma recomendação formal que proíba as mulheres grávidas de usar produtos para tingir ou alisar os cabelos durante a gravidez, depende do tipo de ingrediente. O que existe é uma cautela geral, por parte dos médicos e das próprias gestantes, exatamente por causa da falta de estudos detalhados e que apontem os possíveis riscos do uso desses produtos”, ele aponta.

     “Há uma tolerância maior para a proibição da utilização [de produtos como tinturas e alisantes] no primeiro trimestre de gestação, e uma cautela no uso a partir do segundo trimestre, dependendo do tipo e da dose de cada formulação. Quando se fala em segurança, o importante é sempre levar em conta a relação risco-benefício. Existe uma extrema dificuldade em se afirmar que o produto é totalmente seguro, ou que ele poderá causar algum prejuízo para a mulher ou para o feto, uma vez que a quase totalidade dos ativos cosméticos (...) não apresenta segurança definida para uso em gestantes”, acrescenta Toledo.

     As escovas progressivas, os relaxamentos e as tinturas convencionais não são recomendados durante todo o período de gestação e de amamentação, uma vez que ingredientes como a amônia, o formol e o chumbo podem, por via sanguínea, contaminar o feto, assim como o leite materno.

     Na hipótese de a gestante optar por tingir os cabelos após a 12ª semana de gestação, recomenda-se o uso de produtos à base de henna natural ou os shampoos tonalizantes, “que não tenham iodo nem amônia na composição. Os reflexos [clareamento de mechas de cabelos] deverão ser feitos da metade dos fios para baixo, no mesmo período gestacional, observando os mesmos cuidados com a exclusão de substâncias potencialmente teratogênicas”, completa Toledo.

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CONHEÇA ALGUNS DOS PRODUTOS DISPONÍVEIS NO MERCADO, DESENVOLVIDOS ESPECIALMENTE PARA AS GESTANTES:

1 – O BOTICÁRIO - O Mamie Bella Creme Intensivo para Prevenção de Estrias Pré e Pós-Parto prepara as fibras da pele para o crescimento do bebê e oferece 24 horas de hidratação. Os cuidados com a pele são complementados com o Mamie Bella Óleo Vegetal para Prevenção de Estrias, formulado com óleo de semente, vitamina E e óleo de amêndoas doces.

2 – BETULLA – O Creme Corporal Cia da Natureza Hidratação Intensa para Gestantes proporciona hidratação e maciez, graças à formulação enriquecida com óleo de amêndoas, macadâmia e as vitaminas E e B5. A composição também traz colágeno e elastina, que auxiliam na manutenção da elasticidade da pele.

3 – DERMAGE – com formulação rica em ativos emolientes e umectantes, o Creme Corporal Hidratante Preventivo de Estrias promete hidratação intensiva à pele por até 24 horas. A composição inclui ativos como ceramidas, pantenol, glicina de soja, alantoína e manteiga de karitê.

4 – HYPERMARCAS – a marca Mantecorp Skincare desenvolveu dois produtos específicos para gestantes: Hydramamy e Lanidrat. A loção hidratante Hidramamy melhora a fi rmeza, elasticidade e hidratação da pele. A formulação inclui ativos que estimulam a formação de colágeno e elastina. Formulado com lanolina 100% purificada, Lanidrat prepara, protege e trata as mamas para a amamentação. O produto restabelece e mantém a umidade da pele das aréolas, tornando-a macia e flexível, e não precisa ser removido a cada mamada.

5 – PALMER’S – a marca possui vários produtos para gestantes, distribuídos no Brasil pela Bee Cosméticos. O Óleo Suavizante Cocoa Butter Itchy Skin é formulado com manteiga de cacau 100% pura, enriquecida com vitamina E, colágeno e elastina, que acalma, hidrata e suaviza a pele seca e a coceira natural associada à gravidez. A Loção de Massagem para Estrias e o Creme de Massagem para Estrias aumentam a produção de colágeno e elastina, ajudando a diminuir as marcas de estrias pré-existentes e auxiliando na flexibilidade da pele durante e após a gravidez.

     Os produtos são formulados com o Bio-C Elaste, um blend elaborado para aumentar a capacidade de elasticidade da pele e que combina: colágeno, elastina, centella asiática, óleo de argan, óleo de amêndoas, manteiga de karitê e agentes firmadores da pele.

6 – PAYOT – a linha Maternité possui produtos para o cabelo, corpo e banho, voltados para o período de gestação e para o pós-parto. Dentre os itens da linha estão o shampoo e a emulsão relaxante para pernas e pés. O shampoo foi desenvolvido para os cabelos que necessitam de cuidados específicos durante o período da gravidez. A formulação combina extrato de algodão e pró vitamina B5, que promovem suavidade, maciez e hidratação aos fios. Os aminoácidos do leite auxiliam na nutrição dos cabelos, proporcionando maior resistência e brilho. A emulsão relaxante para pernas e pés minimiza o desconforto e alivia a sensação de cansaço. Sua formulação traz alantoína, extrato de algodão, óleo de amêndoas, além de extratos de ginkgo biloba, arnica e calêndula.

7 – EXPANSCIENCE – a marca Mustela possui vários produtos desenvolvidos para gestantes, na linha 9 Meses. O item Cuidado Específico Busto é indicado para uso desde o início da gravidez, uma vez que previne os sinais de flacidez e garante hidratação reforçada. A formulação inclui ativos naturais como calêndula e castanha da índia, que nutrem a pele e diminuem a sensação de tensão mamária. A loção Hidratação Extrema é formulada com germe de trigo, raiz de alcaçuz e vitamina B5. Ela atua no combate ao ressecamento da pele e alivia a sensação de irritação. O Reestruturante Corporal Pós-Parto tem alto poder de nutrição. Enriquecido com centella asiática, o produto age também na tonificação e vitalidade da pele.

Relações delicadas

Tudo muda ao mesmo tempo no organismo da gestante. Confira algumas dessas alterações:

SANGUE: a quantidade de sangue aumenta em 50%. Para facilitar a disponibilidade de glicose para o feto, a placenta produz um hormônio que compete pela ação da insulina. Consequentemente, o pâncreas da gestante produz uma quantidade maior de insulina. Quando acontece um desequilíbrio expressivo nessa produção, pode ocorrer o diabetes gestacional.

CORAÇÃO: com o dobro do volume de sangue circulando no organismo, o coração é submetido a uma situação de estresse. O aumento da circulação sanguínea chega ao pico no sexto mês de gravidez. Nesse período, cresce a possibilidade, em mulheres predispostas, de que aconteçam problemas cardíacos. Exames prévios são essenciais para detectar e acompanhar possíveis problemas.

OLFATO E PALADAR: o hormônio gonadotrofina cariônica, produzido pela placenta, é responsável pelas alterações no paladar e olfato, bem como pela vontade de consumir alimentos específicos. Segundo especialistas, o desejo por um determinado alimento pode indicar a falta de algum nutriente no organismo.

DENTES: com o aumento da circulação sanguínea, a gengiva fica mais sensível e suscetível à infecções. A perda de cálcio deixa os dentes mais fracos e propensos às cáries. Nesse período é preciso redobrar os cuidados com a higiene bucal.

COLUNA: o centro de gravidade da gestante desvia-se para a frente, em função do aumento do volume abdominal. Esse quadro acentua a lordose, que se agrava quando a mulher tem um ganho significativo de peso. Exercícios nos quais não há o impacto da gravidade, como a hidroginástica, favorecem o fortalecimento da coluna.

Esta matéria foi publicada na edição jul/ago_2014 da revista Cosmetics & Toiletries Brasil
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