Envelhecimento Intrínseco Comparado ao Actínico
Teorias do Envelhecimento
As Proteínas do Envelhecimento Cutâneo
Importância Cosmética
Envelhecimento e Síntese de Colágeno
Rejuvenescimento da Pele Envelhecida
Resumo

 

A manutenção da juventude, ou pelo menos da aparência jovem, é significativa do ponto de vista do contato social e da satisfação social. Entretanto, a preocupação com a aparência externa não é garantia de boa saúde permanente. Tampouco tem paralelo com a atenção semelhante dada ao bem-estar dos órgãos internos, tais como o fígado, que em geral só é cuidado e conservado quando o órgão, maltratado, deixa de funcionar como deveria.

Como outros órgãos do corpo, a pele passa continuamente por pequenas modificações com o avanço da idade. O envelhecimento da pele e as consequentes mudanças na aparência ocorrem gradualmente. A “melhora da aparência” equivale a manter ou restaurar o aspecto jovial da pele e seus complementos.

Espessura da Pele e Envelhecimento

Takema e col. Relatam que a pele normalmente protegida do sol fica mais fina à medida que envelhece.38 A pele exposta, envelhecida, como a do rosto, pode apresentar um padrão de combinação de afinamento e espessamento. Assim, não é possível determinar a espessura exata de pele pela simples observação visual.

 

Envelhecimento Intrínseco Comparado ao Actínico

As investigações sobre os fenômenos biológicos e físicos responsáveis pelo envelhecimento geraram quantidade considerável de informações. No entanto, apenas parcela desse trabalho foi especificamente direcionada para entender como a pele envelhece. A avaliação da pele senescente se torna ainda mais complexa porque o envelhecimento intrínseco (ou cronológico) ocorre simultaneamente ao envelhecimento actínico ou induzido pela luz. A insolação, contudo, é um desencadeador do envelhecimento basicamente limitado às expostas do corpo, embora a radiação solar também possa exercer efeitos sistêmicos.

Esta revisão é uma tentativa de relacionar o atual conhecimento sobre dependência do envelhecimento natural da pele e atividade dos fibroblastos. Como cientistas especializados em cosmetologia, sempre nos preocupamos com a tarefa de camuflar as manifestações externas do envelhecimento. Entretanto, temos relativamente dado pouca atenção às contribuições da derme reticular e papilar ao aspecto da pele envelhecida. Isso acontece porque a regulamentação restringe a intervenção cosmética nessas camadas inferiores da pele.

Consciente ou inconscientemente, as pessoas associam o aspecto da pele do rosto e a cor dos cabelos à idade. Apenas aqueles entre nós que possuem maiores conhecimentos técnicos, tentam diferenciar os fenômenos atribuíveis ao envelhecimento natural e actínico. Essas diferenças se tornam mais visíveis quando se compara a pele não exposta do abdômen ou das nádegas à pele do rosto ou dos membros.

Esta revisão aborda, basicamente, as mudanças associadas à idade em adultos normais, saudáveis e amadurecidos.  A Tabela 1 descreve alguns sinais importantes da pele cronológica e actinicamente envelhecida. A lista inclui parâmetros que sabemos serem diferentes na pele idosa e jovem. Dessa forma, ela exclui algumas das alegações promocionais prediletas dos fabricantes de cosméticos, tais como o teor de água e a maleabilidade. Apesar de incluir tanto danos actínicos quanto fenômenos do envelhecimento natural constantes dessa tabela, nossa revisão trata primordialmente do envelhecimento cronológico. 

Histologia papilar. A Tabela 1 mostra as semelhanças e diferenças entre aspecto histológico da pele actinicamente danificada e da pele envelhecida. As principais diferenças ocorrem basicamente na derme papilar, onde as fibras de oxitalano, elaunicas e elásticas começam a desaparecer na quarta década da vida.7,21 O envelhecimento actínico se caracteriza pelo aumento do tamanho das fibras elásticas, que ocorre principalmente na pele exposta, mas pode ser normalmente observado na derme reticular. A maioria das pessoas está predisposta aos fenômenos associados tanto à exposição actínica quanto ao envelhecimento cronológico. 

As mudanças morfológicas da derme são acompanhadas por mudanças funcionais. Isso é particularmente verdadeiro em relação à proliferação e ao reparo à vigilância imunológica e à síntese de fibras. No entanto, a função barreira sofre apenas pequenos prejuízos, e o estrato córneo (EC) envelhecido continua a funcionar como uma barreira de permeação eficaz. 

 

Tabela 1. Alterações da pele associadas à idade

Marcador histológico

Descrição

Normal

Actínica

Ressecamento

Aspereza, escamação

+

+

Errugamento

Acentuação das linhas de expressão

+

+

Flacidez

Pele caída, sem firmeza

+

+

Neoplasmas (benignos)

Hiperproliferação

+

+

Achatamento da interface dermo/epiderme

Perda de prendedores da rede (ou papilas dérmicas)

+

+

Células de Langerhans

Número

-

-

Melanócitos

Número

-

±

Corneócitos

Área superficial

+

+

Derme

Espessura

-

+

Estrato córneo (EC)

Espessura

±

+

Glândulas écrinas

Número

±

±

Glândulas sebáceas

Número

-

?

Secreção sebácea

Nível de sebo

±

?

Tempo de renovação

Proliferação

-

?

Célula basal

Número

+

+

Reação elástica

Extensão imediata

-

?

Reação elástica

Extensão retardada

+

-

Derme, celularidade

Número de células

-

-

Derme, vascularidade

Número de vasos sanguíneos

-

-

Elastina

Número de libras

-

+

Colágeno 

Número de libras

+

+

+ = aumento;  - = diminuição; ± dados inconsistentes; ? = desconhecida

* As informações desta tabela foram extraídas de dados apresentados nas referências 3, 11, 14-18, 20, 27, 30, 34-39, 42, 44 

 

 

Teorias do Envelhecimento 

As mudanças cutâneas associadas à idade, relacionadas na Tabela 1, baseiam-se em observações experimentais e documentação científica. Juntamente com o limite (experimentalmente determinado) da proliferação de células humanas diploides in vitro,25 essas observações constituem o ponto de partida para identificar os mecanismos fundamentais responsáveis pelo fenômeno do envelhecimento cutâneo. 

Alguns dos melhores cérebros do século XX conceberam avançadas teorias sobre o envelhecimento humano. Em geral, estes estudiosos tentavam explicar as fraquezas e a destruição de órgãos provocadas pela idade, que acabam levando à morte. Muitas dessas ideias são originais, enquanto outras devem ser consideradas basicamente como refinamentos. 

Infelizmente para os formuladores cosméticos, poucas das teorias abordam especificamente o envelhecimento cutâneo natural. A pele, embora envelhecida na aparência, raramente falha em sua função protetora primordial e raramente é responsável pela morte, a menos que acompanhada de alguma transformação maligna. As teorias do envelhecimento geral que tratam principalmente da morte, portanto, precisam ser utilizadas com cautela para explicar o envelhecimento cutâneo. No entanto, pode-se modificar essas teorias para explicar os fenômenos do envelhecimento cutâneo. Alguns dos enfoques de aceitação mais unânime são facilmente reconhecíveis e receberam ampla divulgação. 

• Mutação somática. As influências externas adversas alteram o genoma, provocando o envelhecimento. A instabilidade da estrutura genética dá origem a anomalias celulares que prejudicam a função celular. 

• Catástrofe de erros. Os erros de duplicação nem sempre são plenamente reparados. Se acumulados, podem resultar em mau funcionamento com tendência à piora constante levando à morte celular ou à morte sistêmica. 

• Envelhecimento programado. O envelhecimento é controlado por um relógio genético indefinido. A um tempo pré-determinado, as células fatalmente se degeneram resultando, em última análise, na morte do organismo. 

• Formação de radicais livres. Os radicais livres, formados durante circunstâncias metabólicas normais ou produzidos como resultado de condições ambientais, não reativos. Podem alterar quimicamente importantes constituintes do corpo diminuindo, assim, sua capacidade de funcionamento. 

Resposta autoimune. O mecanismo de vigilância autoimune se deteriora e perde a capacidade de discriminar, resultando no ataque dos tecidos normais pelos linfócitos. 

Acumulação de metabolitos tóxicos. Esta teoria sustenta que o envelhecimento e a morte celular podem ser atribuídos à eliminação incompleta de excreções. 

Teoria da ligação cruzada. A ligação cruzada de proteínas e outras macromoléculas biológicas pude ser o resultado do acúmulo de excreções ou radicais livres. As substâncias de ligação cruzada resultantes não podem funcionar adequadamente, e os produtos finais poliméricos podem resistir aos processos normais de degradação ou reparo. 

Uma teoria apresentada recentemente refere-se ao déficit telomérico na pele naturalmente envelhecida.44 Este conceito pode constituir um enfoque para identificar o papel vital desempenhado pelos fibroblastos na pele envelhecida. 

• Ação complementar. Embora cada uma das teorias tenha defensores e críticos, todas oferecem uma explicação plausível para a morbidez. Em princípio, qualquer uma ou grupo delas, funcionando em conjunto, pode participar dos fenômenos de envelhecimento cutâneo. Assim, nenhuma teoria deveria ser considerada à exclusão das outras. Com efeito, pode ser que todas elas operem simultaneamente. A descoberta de Hayflick sobre a limitação proliferativa in vitro, dependente da idade, respalda esse conceito.25 

 

As Proteínas do Envelhecimento Cutâneo 

Lavker e col,,27 usando um método mais conclusivo do que a microscopia de varredura eletrônica, realizou estudos distintos sobre as mudanças nas fibras de colágeno e elastina. Na pele neonatal, o colágeno está presente em pequenos feixes alinhados paralelamente à superfície da pele. Esse colágeno passa por mudanças graduais. Nos idosos, os feixes de fibras de colágeno ficam mais apertados e mais densos, com menos espaço entre eles. 

• Estruturas de elastina. A distribuição tridimensional da elastina é semelhante a uma rede que, na pele do adulto jovem, possui vazios relativamente grandes. À medida que a idade aumenta, essa rede fica mais apertada e os vazios se tornam menores. Na derme papilar da pele do adulto normal, as fibras de elastina são menos abundantes que as de colágeno. 

• Ligações cruzadas. Tanto a elastina quanto o colágeno podem formar ligações cruzadas, que aumentam a rigidez da fibra e diminuem sua solubilidade em água. As ligações cruzadas covalentes resultam, evidentemente, das mudanças oxidativas dos resíduos de lisina entre as cadeias adjacentes de proteína. As ligações cruzadas, em seguida, reagem entre si, formando núcleos de piridina. Os efeitos da exposição actínica e da idade são notavelmente semelhantes, por isso não é de surpreender que às vezes não reconheçamos a necessidade de diferenciar o dano induzido pela luz daquele provocado pelo envelhecimento cronológico. 

 

Importância Cosmética 

A preocupação primordial dos formuladores cosméticos tem sido com o tecido epidérmico, o fino enrugamento do EC e a transformação de queratinócitos em células escamosas. Na pele, as grandes mudanças histológicas associadas ao envelhecimento ocorrem na derme. São de particular importância a perda de vascularidade (ou suprimento de sangue) e a notável incapacidade de formar a matriz dérmica. Parece que as proteínas fibrosas e os glicosaminoglicanos são criticamente alterados durante a senescência, porque os fibroblastos perdem a capacidade de produzi-los em quantidades adequadas 

• Feixes de colágeno. Através de ensaios de hidroxiprolina da pele, os pesquisadores demonstraram que a quantidade de colágeno geralmente declina com o avanço da idade.36,33 

A maior densidade dos feixes de colágeno na pele envelhecida provavelmente resulta da compressão da substância básica e da elastina.27 

• Radiação ultravioleta. Não é incomum ler-se que a radiação UV influencia a ligação cruzada de fibras na derme. Isto poderia explicar a presença de resíduos elastóticos na derme papilar. A absorção e a difusão da radiação incidente asseguram que apenas a radiação UVA de penetração mais profunda e energia baixa, pode atingir a derme. 

• Outras influências externas. Outros mensageiros não identificados têm mais probabilidade de efetuar essas mudanças dramáticas na derme. Estamos quase certos de que o dano cutâneo actínico exige alguma intervenção externa, possivelmente de citócinos ou de radicais livres. 

No entanto, essa intervenção difere daquela que provoca o envelhecimento natural. Além disso, a senescência e o dano actínico são diferentes. As diferenças entre a pele facial actinicamente danificada e a pele danificada pela idade foram demonstradas por Gilchrest e col., usando culturas de queratinócitos in vitro. Esse primeiro trabalho foi posteriormente confirmado, usando-se outras técnicas, por Bouissou e col.11 e Bhawan e col.6 

• Retinóides. O ácido retinóico (AR) é geralmente considerado como promotor de efeito salutar para a pele envelhecida, independentemente da causa deste envelhecimento. Há cerca de 10 anos, tornou-se evidente que um dos efeitos dos retinóides era sua capacidade de inibir a colagenase e a gelatinase em culturas de fibroblasto da pele humana in vitro.4 Outros investigadores relataram que os retinóides aplicados topicamente aumentam os níveis de colágeno I e III na pele humana.5,6,21.26,41 No entanto, os mecanismos que controlam esse efeito não foram totalmente estabelecidos. Kim e col. consideram como mediadores do reparo da derme o TGF-b 1 e2, através da estimulação da expressão do gene do colágeno.26 Por outro lado, Bailly e col. defendem a diminuição da colagenase pelo AR.2 

 

Envelhecimento e Síntese de Colágeno 

A colagenase é basicamente um produto do fibroblasto, mas a atividade da colagenase foi observada em queratinócitos epidérmicos pela estimulação por agentes inflamatórios. A síntese do colágeno é um processo complexo que inicia com a síntese do polipeptídio. A hidroxilação da prolina e da lisina é seguida pela glicosilação, que leva à formação da tripla hélice intracelular. Após a secreção no espaço extracelular, através do complexo de Golgi, os propeptídeos são clivados, formando monômeros de colágeno. Estes, por sua vez, reúnem-se espontaneamente formando fibrilas, que em seguida passam por ligação cruzada. 

Com base nas evidências atualmente disponíveis, o envelhecimento da pele parece correr em paralelo com o decréscimo da síntese de colágeno e/ou o aumento da proteólise. O aumento da atividade de colagenase parece uma argumentação mais provável, já que a síntese de pró-colágeno não diminui antes da faixa etária dos 30-40 anos. 

• Participação física do colágeno. Há anos, os cientistas conhecem o pronunciado achatamento da junção derme-epiderme durante o envelhecimento cutâneo. Infelizmente, nenhuma explicação foi proposta para esse estranho fenômeno (Figura 1). A perda de interdigitação na epiderme e na derme papilar provoca muitos efeitos adversos. A área da superfície de junção diminui em cerca de 30 a 40%. O número de células de ramificação localizadas na camada basal declina, diminuindo o número de queratinócitos que se diferenciam em células córneas. Além disso, a adesão entre a derme papilar e a epiderme viável diminui. 

• Blocos de formação de colágeno. Os químicos estudam, há algum tempo, as proteínas fibrilares na junção derme-epiderme. A derme papilar, que fica logo abaixo da junção derme-epiderme, consiste primariamente em colágeno, cerca de 75%, por peso de pele seca, sem gordura. O componente predominante é o colágeno l, o que provavelmente explica a resistência à tração da rede dérmica. A importância do aumento da formação de colágeno I, depois da dermabrasão da pele fotoenvelhecida, fica evidente a partir de um recente estudo in vivo realizado por Nelson e col.31 Essa equipe investigou os benefícios clínicos da dermabrasão quando acompanhada pela maior formação de colágeno na derme papilar. Os autores sugerem que as melhorias clínicas da pele fotoenvelhecida derivadas da dermabrasão superficial são, em grande parte, resultado do aumento da síntese de fibroblastos do colágeno I. 

Os colágenos tipo III e V contribuem para o comportamento elástico da pele. A ligação das células epidérmicas ocorre através da lâmina densa e dois outros colágenos, tipo IV e VII. Este breve resumo se baseia em estudos de Burgeson31 e Uitto e col.32 Evidentemente, a síntese desses colágenos ocorre nos fibroblastos.32 

• Rede. Uma revisão feita por Smith inclui muitas comparações histológicas entre a pele jovem e envelhecida, enfatizando mudanças na zona de ligação.37 O importante papel desempenhado pelos colágenos na ligação da epiderme com a pele é bem conhecido e foi documentado em vários estudos. 37,12,14 O achatamento da junção derme-epiderme durante o envelhecimento natural, exige um certo rearranjo das fibras da derme, passando de um padrão ondulado de ligações à rede para um padrão mais achatado. Não está de forma alguma claro o que desencadeia a perda, ou pelo menos a mudança, do colágeno. Entre as possibilidades estão a menor síntese de colágeno, os maiores níveis de colagenase na derme e alguma mensagem desconhecida da epiderme viável. 

Os relatos mostram que o colágeno Tipo VII pode ser elaborado por células epiteliais (queratinócitos). Não se sabe exatamente como essa grande molécula, que mede 400 nm e pesa 170.000 D, pode atingir a camada papilar na pele normal. 

• Camadas. Lovell e col. mostram que os feixes de fibras na derme papilar jovem são dispostos de forma irregular, mas se organizam em camadas na pele envelhecida.28 Suas fotomicrografias são notavelmente semelhantes às de Lavker e col.27Presume-se que a membrana básica se ligue à rede de fibras dérmicas de forma diferente, com feixes irregulares de fibras e não com folhas relativamente planas. 

Os queratinócitos não crescem bem in vitro, a menos que sejam apoiados por um substrato com fibroblastos. Os queratinócitos in vivo crescem em camada de colágeno tipo IV, a “lâmina densa”. A ligação exata da lâmina densa com a fibrila base das placas de sustentação Tipo IV, ainda é incerta.12 No entanto, há quase 15 anos mostrou-se que a célula epidérmica basal adere seletivamente ao colágeno. Essa camada basal celular precisa fazer contato com um substrato mesenquímico para proliferar. 

A separação da camada basal interrompe a proliferação e provoca diferenciação terminal. O papel específico do colágeno nessa ligação não foi estabelecido. 

 

Rejuvenescimento da Pele Envelhecida 

• Enxerto de pele. Experimentos com enxertos conduzidos por Gilhar e col. demonstraram, de maneira surpreendente, como o sistema combinado derme/epiderme reage ao ambiente.19 O grupo de pesquisadores transplantou enxertos espessos de pele (espessura de 0,4 mm) de voluntários saudáveis de 25 e 82 anos de idade para ratos sem pelo. Depois de 4 semanas, os enxertos de pele foram removidos e submetidos à análise morfométrica (Tabela 2). As fotos histológicas dos enxertos mostraram não apenas o espessamento da epiderme, mas também a restauração das ligações de rede. Isso foi observado até nas amostras de pele retiradas de voluntários idosos.

t2.png

Com o aumento do número de células dérmicas, esperar-se-ia aumento do nível de formação de colágeno na derme. No entanto, os resultados obtidos por enquanto não estabelecem relação causal para explicar as mudanças na epiderme e a angiogênese. Mais pertinente é o fato de que algumas das mudanças observadas na pele humana naturalmente envelhecida, podem ser revertidas durante esses estudos e aqueles relacionados a transplantes. 

 

Hipótese do Telômero 

O objetivo básico da apresentação desta revisão é proporcionar evidencias anteriores do papel da derme no envelhecimento natural da pele. As mudanças morfológicas da pele envelhecida (Figura 1) parecem apontar para alguma participação funcional das células dérmicas no crescimento e na proliferação de queratinócitos. As mudanças da pele relacionadas à idade também são perceptíveis na mudança da forma dos fibroblastos. Os fibroblastos de pessoas jovens têm a forma de um fuso, enquanto os de pessoas idosas são mais achatados.44 Quando deixamos as células jovens crescerem na presença de soro fetal de bezerros até a senescência, ocorre mudança da sua forma, e como observou Hayflick,25 elas deixam de se duplicar. 

f1.png

• Mau funcionamento do fibroblasto. Os fibroblastos se encontram (na derme) em estado inativo, portanto sem dividir-se e secretando proteínas na matriz extracelular. A ativação, por inflamação ou ferimento estimula a duplicação, essencial para a remodelagem. Isto resulta no reparo normal dos danos pelos fibroblastos estimulados. Como resultado da senescência, os fibroblastos não reagem adequadamente, presumindo se que não consigam participar dos processos necessários de reparo. 

• Perda de telômero. Cerca de 10 anos após a descoberta de Haytlick, Olovnikov sugeriu que a duplicação do DNA na célula resulta na perda de alguns nucleotídeos das extremidades dos cromossomos.22 Número suficiente de duplicações, acompanhadas pela chamada perda de telômeros, pode provocar a morte celular. A integridade de seu DNA também pode ficar suficientemente prejudicada, a ponto de interferir na função celular. Até recentemente, era limitado o interesse pelos telômeros e sua importância na biologia dos eucariotas, apesar da questão sobre a “duplicação das extremidades", ou seja, a incapacidade da polimerase do DNA de duplicar as extremidades de uma molécula linear de DNA ser conhecida há quase 25 anos. 

• Estrutura e função. Harley22 e Blackbum7-9 estudaram a estrutura e a função teloméricas. Em documentos distintos, observaram que a unidade de repetição telomérica GGGATT (de 5’ a 3’) notavelmente conservada nos mamíferos. Além disso, é muito semelhante à encontrada em plantas e espécies monocelulares. 

• Telomerase. A perda continua de telômeros do DNA celular durante a duplicação, poderia ser contrabalançada por uma enzima incomum, a telomerase. Conforme estudos de Blackburn a Marx,9,29 a telomerase contém alguma proteínas e seu próprio RNA, que serve como modelo para a síntese de DNA do telômero. Acredita-se que essa síntese envolva várias etapas que efetuam a síntese do DNA e o deslocamento.9 

O processo começa com o pareamento da base de nucleotídeos 3' da projeção cromossômica terminal e a sequência complementar de telômero no RNA da telomerase. Em seguida, o acréscimo dos seus nucleotídeos teloméricos aumenta a extremidade cromossômica. Para completar o processo, a extremidade prolongada do DNA desliga-se de seu modelo de RNA. 

• Telômeros e envelhecimento. O reabastecimento de telômeros perdidos pela telomerase não é suficiente para eliminar o evidente desequilíbrio no sistema de perda e síntese de telômeros. Isso explica as observações de Olovnikov. Esse fenômeno, relacionado ao comprimento do telômero e à senescência humana (fibroblasto in vitro), foi quantificado em 1992.1 O comprimento médio do fragmento de restrição terminal (FRT), medido em unidades de pares de quilobase (pkb), diminuiu com a idade do doador. O FRT variou, aproximadamente, de 8,7±1.5 na idade zero até cerca de 7,5±1,5 na idade 80. A correlação é fraca. Os espécimes de células dessas amostras de pele foram, então, cultivados. Os pesquisadores puderam então usar a média do dobro da população para determinar a capacidade de duplicação. Como mostra a Figura 2, eles traçaram o tempo de vida restante em relação ao comprimento do FRT. O traçado revelou que o FRT é proporcional à média do dobro da população e que os dois têm forte correlação. O comprimento do telômero marca tanto a idade das células somáticas ir vivo, como as influências sobre a proliferação de células in vitro

• Rejuvenescimento induzido por telomerase. A atividade da telomerase é ligada à capacidade do fibroblasto em proliferar e sintetizar proteínas fibrilares. O colágeno confere à pele resistência à tração, e a elastina, elasticidade.44 Se este conceito básico estiver correto, a administração ou a transformação de telomerase poderia reiniciar a atividade de rejuvenescimento do fibroblasto dérmico. 

No entanto, um estudo sobre os telômeros, realizado por Harley em 1991,22 acrescentou importante restrição ao nosso entendimento a respeito destes, grande parte do qual é revisado neste trabalho (Figura 2). No embrião, no início da vida de um organismo, a telomerase é ativa ou ativada. Postula-se que as células de germe mantêm o comprimento de seus telômeros na presença da telomerase até serem modificadas em células somáticas, que contêm pouca ou nenhuma telomerase. 

f2.png

• Inibidores da telomerase. Durante a duplicação in vivo, as células somáticas perdem cerca de 15 pares-base por ano. Quando a perda das repetições teloméricas atinge ponto critico, as células já não podem se dividir. Harley compara esse ponto no limite de Hayflick.23,25 

Os agentes de transformação, ao provocarem perda de produtos do gene de supressão de tumores, podem contornar a interrupção da divisão de células nesse ponto Nesse estágio critico as células podem morrer, a menos que a telomerase seja reativada e, nesse caso, as células são preservadas. A possibilidade dos inibidores de telomerase terem atividade antineoplásica, entusiasmou a comunidade médica e bioquímica nos últimos meses.10,13,23,24,43 

Os fibroblastos dérmicos não podem se duplicar além do limite de Hayflick, in vitro ou in vivo. A hipótese de envelhecimento do telômero atribui essa falha nas células senescentes à perda gradual dos fragmentos de repetição telomérica do DNA. O desempenho do fibroblasto da pele fica prejudicado pela desestabilização do DNA, decorrente                da perda de telômeros. O número de fibroblastos viáveis da pele de uma pessoa de 50 anos de idade, é apenas cerca da metade da de um bebê recém-nascido. De acordo com a hipótese do telômero, os efeitos adversos sobre a atividade fibroblástica resultam da perda de telômeros. 

 

Resumo 

Poucos cientistas discordam de que existam duas causas para explicar o envelhecimento. O fotoenvelhecimento, desencadeado por várias fontes luminosas, foi extensamente pesquisado. Alguns dos principais fatores, como a luz UV, os radicais livres e o dano oxidativo, são razoavelmente bem conhecidos. No entanto, o envelhecimento natural continua sendo um enigma. Remanescentes metabólicos, ligações cruzadas e erros na duplicação do gene, controlam esse processo. Contudo, sabemos relativamente pouco sobre esses e outros fatores: apenas que o processo é desencadeado pela longevidade. É estimulante saber que os pesquisadores podem estar no limiar da descoberta de informações sobre a duplicação do genoma humano no processo de envelhecimento. Só o tempo dirá se essa pesquisa melhorará nossa aparência ou aumentará nosso tempo de vida. 

 

 

Este artigo foi publicado na revista Cosmetics & Toiletries (Edição em Português), 8(4): 34-55, 1996.
Publicado originalmente em inglês, Cosmetics & Toiletries, julho 1995.