Derivados de AHA: Desodorantes Enzimáticos Alternativos aos Bacterianos Convencionais
publicado em 02/02/1997
Filippo Montesion, L Deiana e C Genova
Condea, Milão, Itália
Recentemente, um novo derivada de AHA surgiu no mercado cosmético, um éster do ácido lático que, ao contrário dos moderadores enzimáticos comuns, é um produto estável, que apresenta grande compatibilidade química/física com todos os excipientes cosméticos Além disso, é de fácil incorporação em sistemas aquosos ou hidroalcoólicos.
AHA como Desodorantes Enzimáticos
Lactato de Alquila C12-C13: Novo Sistema Desodorante
Eficácia à Formação de Odor
Avaliação Final
Comentários
Aplicações Desodorantes
O problema do odor humano representa um dos mais importantes desafios da indústria cosmética. Atividade física intensa, uso de roupas sintéticas e comidas sofisticadas aumentam a perspiração, que produz ácidos orgânicos como o butírico, o isovalérico e o capróico, através da degradação microbiana. Para manter este fenômeno sob controle, a pesquisa cosmética tem tradicionalmente levado em conta a inibição microbiana ou a redução da perspiração: ambas, porém, interferem na fisiologia da pele.
Os desodorantes antimicrobianos atuam diretamente na flora bacteriana saprófita da pele, mas não potencialmente tóxicos não só para o usuário, como também para o meio ambiente. Antiperspirantes à base de sais de alumínio modificados são, por natureza, irritantes potenciais e sensibilizantes.
A pesquisa cosmética tem objetivado selecionar novos sistemas desodorantes que ajam sobre a secreção da perspiração, prevenindo-a ou encobrindo o odor, sem alterar a fisiologia da pele.
AHA como Desodorantes Enzimáticos
No passado, foram descobertos diferentes moderadores enzimáticos que agem sobre a atividade da lipase, prevenindo a formação do odor da perspiração. Alguns deles são derivados do ácido cítrico ou lático, como o citrato de trietila ou e lactato de etila. Estes derivados de AHA não encontraram grande aplicação em desodorantes porque, embora ativos, não garantem a estabilidade do produto final e não asseguram a atividade duradoura de prevenção do odor. Recentemente, um novo derivada de AHA surgiu no mercado cosmético, um éster do ácido lático que, ao contrário dos moderadores enzimáticos comuns, é um produto estável, que apresenta grande compatibilidade química/física com todos os excipientes cosméticos Além disso, é de fácil incorporação em sistemas aquosos ou hidroalcoólicos.
Lactato de Alquila C12-C13: Novo Sistema Desodorante
O lactato de alquila C12-C13 (Figura 1), produzido pela Condea Augusta, Itália, é um composto obtido da esterificação do ácido lático com álcool ramificado exclusivo.
O lactato de alquila C12-C13 é emoliente ativo que age na pele como AHA lipofílico, exibindo as atividades dermatológicas típicas dos AHA, como a hidratante, com propriedades queratolíticas suaves. Observando a estrutura do composto, torna-se evidente que há alguma polimerização do ácido lática e que os grupos éster estão em diferentes posições na cadeia alcoólica.
A estrutura particular do lactato de alquila C12-C13, caracteriza-o como sistema liberador de ácido lático na pele com importante atividade reguladora enzimática.
Esta atividade aplicada na lipase, produzida pela flora saprófita da pele, inibe o desenvolvimento de odor no corpo. Além disso, ao contrário dos ésteres láticos comuns ou outros moderadores enzimáticos, o lactato de alquila C12-C13 altera por longo tempo as enzimas envolvidas na produção do odor, conferindo propriedades duradouras ao produto final.
Eficácia à Formação de Odor
Para determinar as propriedades desodorantes e antimicrobianas, o lactato de alquila C12-C13 foi submetido a testes in vivo e in vitro. Um dos testes foi realizado com 12 voluntários (10 mulheres e 2 homens, 22-46 anos), aos quais foi solicitado que usassem dois diferentes produtos, um à base de triclosan e o outro de lactato de alquila C12-C13 (Quadro).
• Pré-tratamento: Os voluntários selecionados tiveram, durante período de 7 dias, que evitar o uso de desodorantes, antiperspirantes, perfumes e medicamentos, lavar a área das axilas com sabonete sem perfume; evitar vestir roupas sintéticas e evitar de depilar as axilas 5 dias após o tratamento de pré-condicionamento.
No final da primeira fase, os indivíduos foram submetidos ao teste de odor e à prova microbiológica.
• Uso dos produtos: Esta fase teve a duração de 15 dias, durante os quais os indivíduos testados usaram os produtos fornecidos pelos pesquisadores: um na axila direita e outro na esquerda. Durante esse período, os voluntários foram instruídos a não nadar ou depilar a área das axilas e a evitar a ingestão de álcool em excesso e o uso de desodorantes, antiperspirantes, medicamentos e produtos pessoais contendo perfume.
Depois de 15 dias, foram realizados os controles olfativo e microbiológico finais, após 6 e 24 horas da última aplicação do produto.
Avaliação Final
• Olfativa: Solicitou-se aos indivíduos testados que permanecessem 15 minutos numa sala com ar condicionado antes da a realização do teste. O odor axilar foi avaliado por três avaliadores que, assim como os assistentes do laboratório não furaram ou comeram nos 30 minutos que antecederam ao teste.
O odor das axilas foi avaliado com base no seguinte procedimento: o voluntário levantava um braço, após o que os avaliadores, um-a-um, avaliavam o odor, atribuindo uma nota (0=sem odor; S = odor mediano e 10 = odor forte) em função da intensidade de odor perceptível. O mesmo procedimento foi adotado para a outra axila.
A avaliação olfativa é expressa como redução do odor corporal de:
T0 = após 7 dias de pré-condicionamento
T6 - após 6 horas da última aplicação
T24 = após 24 horas da última aplicação
O uso dos produtos contendo lactato de alquila C12-C13 durante duas semanas, induziu a redução do grau inicial de odor, principalmente depois de 6 horas e, menos evidentemente, depois de 24 horas. Significativo é o fato da atividade do produto à base de lactato de alquila C12-C13 ser comparável a do produto à base de triclosan, também depois de 24 horas.
Os valores obtidos durante a avaliação olfativa estão de mostrados na Figura 2.
• Microbiológica: No final da avaliação olfativa foi retirada a microflora da axila. Foi solicitado aos voluntários que deitassem e então levantasse o braço. Foi despejado 5 ml de solução fisiológica esterilizada num pequeno cilindro de vidro (raio = 2,5 cm) e colocados na axila. Durante 30 segundos o operador raspou a área da pele fixada pelo cilindro e retirou a solução fisiológica.
A solução fisiológica foi então analisada através do método de contagem TSA (Triptic Soy Agar). As amostras foram incubadas a 37oC por 72 horas. Os resultados obtidos estão expressos em UFC - unidades formadoras de colônias (Figura 3).
No caso da amostragem microbiana, o lactato de alquila C12-C13 não apresentou atividade antimicrobiana, mas após 6 horas manteve praticamente constante a flora saprófita da pele, enquanto o triclosan, conforme é sabido, age como bactericida, reduzindo o conteúdo microbiano. Após 24 horas, a atividade do triclosan estava praticamente extinta.
Comentários
Os resultados dos testes realizados significam que para controlar o desenvolvimento do odor corporal não é necessário utilizar produtos bactericidas. Deveria dar-se preferência a sistema enzimático mais compatível com a pele. A ação enzimática do lactato de alquila C12-C13 é ilustrada na Figura 4.
A eficácia antimicrobiana é dada pela redução da contagem microbiológica total.
Aplicações Desodorantes
O lactato de alquila C12-C13 é emoliente hidroalcoólico solúvel em emulsões, sistemas anidros, propilenoglicol e surfactantes. Por esta razão, é muito facilmente introduzido cm desodorantes alcoólicos e não alcoólicos, emulsões, roll-ons, sticks ou na presença de propelentes. Além disso, promove excelentes aplicações em shower-géis ou sabonetes líquidos, melhorando a viscosidade do produto final e conferindo efeitos hidratantes,
Usado isoladamente, o lactato de alquila C12-C13 confere propriedades desodorantes aos produtos finais; em combinação com outros ingredientes comuns, como o triclosan, farnesol e sais de alumínio, melhora a eficácia e reduz possíveis problemas toxicológicos, assim como confere proteção à pele, graças à sua atividade emoliente e hidratante (Fórmulas 1-5).
Fórmula 1. Desodorante hidroalcoólico |
||
A |
Álcool etilico 96 vol. |
qs 60 vol. |
|
Água |
qsp 100,00% |
B |
Lactato de alquila C12-C13 |
2,00 |
|
PEG 60 de óleo de rícino hidrogenado |
0,50 |
|
Essência |
1,00 |
C |
Citrato de sódio |
0,50 |
Procedimento: Misturar os ingredientes da fase A e adicionar a fase B previamente homogeneizada. Ajustar o pH 5,5 com a fase C. |
Fórmula 2. Loção milk roll-on |
||
A |
Tartarato de di-miristila (e) álcool cetearílico (e) C12-C15 pareth (e) PPG 25 laureth 25 |
6,00% |
|
Lactato da alquila C12-C13 |
3,00 |
|
Octonoato de alquila C12-C13 |
3,00 |
|
Óleo mineral |
3,00 |
B |
Carbopol 940 |
0.15 |
C |
Água com preservante |
qsp 100,00 |
|
Glicerina |
2,00 |
|
Propilenoglicol |
2,00 |
D |
NaOH |
pH 6,00 qs |
E |
Acetato de vitamina E |
0,05 |
|
Essência |
qs |
Procedimento: Aquecer A a 65°C e adicionar B mexendo devagar. Aquecer C a 70°C e emulsificar A+B+C agitando por 1 minuto. Adicionar De agitar vagarosamente. Resfriar e adicionar E a 30°C. |
Fórmula 3. Creme desodorante |
||
A |
Tartarato da di-miristila (e) álcool cetearílico (e) C12-C15 pareth (e) PPG 25 laureth 25 |
5,00% |
|
Tartarato de di-miristila |
2,50 |
|
Lactato de alquila C12-C13 |
2,50 |
|
Álcool cetearílico |
3.00 |
|
Acido esteárico |
2,50 |
B |
Água com preservante |
qsp 100,00 |
|
Glicerina |
3,00 |
C |
Essência |
qs |
Procedimento Aquecer A a 65°C. Aquecer B a 70oC e emulsificar A+B agitando por 1 minuto, Resfriar e adicionar C a 30°C. |
Fórmula 4. Shower-gel desodorante transparente |
||
A |
Lauril sulfato de sódio |
45,00 |
|
Lactato de alquila C12-C13 |
1,00 |
|
Essência |
qs |
B |
Água preservante |
qsp 100,00 |
C |
Cocoamido-propil-betaína |
5,00 |
D |
Cloreto de sódio |
qs |
Procedimento: Misturar A até obter sistema transparente. Adicionar B e depois C. Ajustar a viscosidade com D. Se necessário, ajustar o pH 6,0 com ácido cítrico ou lático. |
Fórmula 5. Sabonete líquido íntimo |
||
A |
Lauril sulfato de sódio 27% |
30,00% |
|
Lactato de alquila C12-C13 |
0,50 |
|
Essência |
qs |
|
Cocamida DEA |
1,00 |
B |
Aqua com preservante |
qsp 100,00 |
C |
Cocoamido-propil-betaína |
5,00 |
D |
Cloreto de sódio |
qs |
Procedimento: Misturar A até obter sistema transparente. Adicionar B e depois C. Ajustar a viscosidade com D. Se necessário, ajustar o pH 6,0 com ácido lático ou cítrico. |
Filippo Montesian é gerente de produtos da área de cosméticos e personal care da Condea Augusta, Milão, Itália.
Este artigo foi publicado na revista Cosmetics & Toiletries (Edição em Português), 9(1): 38-41, 1997.
1. Dulbecco D. Battari Ospiti dell'Uomo.
2. Nolte WA. The Normal Microflora of the Body. In Oral Microblology, lll ed, 1977.
3. Rennie PJ, Gower DB e Holland KT. In vitro and in vivo Studies of Human Axillary Odour and the Cutaneous Microflora, Brit Journ of Dermatology, 1991.
4. Proserpio G. Chimica e Tecnica Cosmetica p 417-413,6o ed, 1993.
5.Deodorant Testing. IFSCC Monograph no 1. Black Bear Press Ltd, Cambridge, 1974.
6. Henry SM. Deodorants: Clinical Safety and Efficacy Testing of Cometias. William C. Waggoner, Marcel Dekker, New York, 1990.
7. Osberghaus R. Non Microbicidan Deodorizing Agents, Cosmetic & Toiletries 95:48,1980.
8. Condea Augusta, C12-C13 Alquil Lactate: New Deodorant System, abril, 1996.
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