Especificidades da Pele 
Anatomia e Fisiologia do Cabelo
Limpeza do Cabelo
Condicionamento do Cabelo
Classificação das Substâncias Condicionadoras
Alisamento do Cabelo
Classificação dos Alisantes
Conclusão


 

Os produtos cosméticos para pessoas de pele negra, ou produtos étnicos como são conhecidos, têm ganhado espaço no mercado brasileiro com grande oferta de marcas e tipos, impulsionando o desenvolvimento de novas formulações de tratamento da pele e cabelo, que se adequam às novas tendências da moda. O consumidor, que envolve principalmente a população afro-americana, africana, afro-caribenha e sul-americana, tem necessidades diferenciadas dos demais de vido às características especiais de pele e cabelo. Esse público também está disposto a investir mais dinheiro em produtos cosméticos que realmente atinjam suas necessidades.1,2,24,27 

Nos Estados Unidos, os produtos étnicos têm seu valor reconhecido, com movimento de recursos da ordem de 1,5 bilhões de dólares. No Brasil, a indústria destes produtos cosméticos está em expansão, envolvendo principalmente: shampoos, condicionadores, alisantes, modeladores, cacheadores e descolorantes para os cabelos.2,24 

O objetivo do penteado nas pessoas de pele negra é permitir que o cabelo permaneça organizado, sendo o tipo de corte ditado pela moda. Os estilos que requerem o mínimo de produtos para os penteados são os "Afros” naturais, tipo de corte de cabelo bem curto com as hastes capilares de aproximadamente 0,5cm de comprimento, não necessitando o uso do pente. Requer manutenção do corte e exige produtos especiais para o cuidado do cabelo.5 

 

Especificidades da Pele 

A pele e o cabelo das pessoas de pele negra apresentam especificidades e constituem um desafio cosmetológico devido a grande variabilidade nos tons de cor da pele e no formato do cabelo, que são específicos deste grupo racial tão heterogêneo do ponto de vista genético.4,9,11,14,15 

Além disso, a pele negra é estruturalmente diferente dos caucasianos (brancos) especialmente por causa da maior presença de glândulas sudoríparas do tipo misto apócrina-écrina, número elevado dos vasos sanguíneos e linfáticos, predisposição à hiperpigmentação, estrato córneo mais compacto e mais denso, aumento da perda transepidérmica de água após irritação, e possivelmente elevação da sensibilidade cutânea à substâncias irritantes.9,11,14,15 

 

Anatomia e Fisiologia do Cabelo 

Considerando-se a estrutura do fio de cabelo, temos: a medula (parte central), a cutícula (parte exterior) e o córtex (localizado entre a medula e a cutícula). O córtex é o principal componente da haste do cabelo, que é formada por células queratinizadas, cementadas entre si. É responsável pela resistência mecânica do fio e determina sua forma (Figura 1).21,28,29 

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O cabelo dos indivíduos negros é idêntico ao dos brancos quanto seu conteúdo de aminoácidos, mas possui diâmetro levemente superior, menor conteúdo de água, e o mais importante, forma anatômica diferente, quando visto em corte transversal. Nos indivíduos brancos possui formato simétrico e redondo, permitindo que os fios fiquem lisos e retos, enquanto que nas pessoas negras têm formato elíptico e achatado. Essa assimetria de formato é responsável pela aparência carapinha dos cabelos das pessoas de pele negra (Foto 1). 1,6,8,10,19,22,24,25,27,30

foto1.png

O cabelo que é ondulado ou levemente encarapinhado possui formato de hasta entre o círculo e a elipse achatada enquanto que o liso possui forma circular. Entretanto, o formato da fibra do cabelo tem mais importância do que apenas dar forma aos cachos dos cabelos. Ele também determina a quantidade de brilho e a capacidade do sebo de cobrir a haste capilar, cuja distribuição é irregular.1,6,8,10,19,20,22,25,28,30 

Cabelo liso tem mais brilho que o de aparência carapinha devido a sua superfície lisa, que permite reflexa máxima de luz. As fibras irregulares o tornam opaco, até mesmo quando têm a cutícula do cabelo intacta. É mais seco na média.6,22,24,25 

O formato da haste também determina a facilidade de penteabilidade. O cabelo liso é mais facilmente arrumado e modificado, uma vez que a fricção dos fios é reduzida. No carapinha, por sua vez, é difícil de ser penteado, sendo mais facilmente realizado quando o cabelo está molhado e apresenta maior incidência na quebra da haste. Existe maior tendência ao embaraçamento, à formação de nós e ao rompimento do fio. Também ocorre maior desgaste da cutícula quando compara da no liso. O cabelo carapinha também não fica facilmente numa posição predeterminada de penteados, a não ser que as hastes estejam curtas.1,6,8,10,24,25,30 

Neste grupo étnico há predisposição para algumas patologias do cabelo e dos pelos, como triconexis nodosa, triconodose e pseudo-foliculite da barba. Por isso, é que este tipo de cabelo requer instrumentos especiais de penteado que diminuam a fricção e eleve sua maleabilidade.1,10,19,22,24,30 

 

Limpeza do Cabelo 

A limpeza dos cabelos entre brancos e negros deve levar em consideração algumas diferenças. O cabelo liso é difícil de pentear e arrumar se estiver recoberto com sebo, estimulando dessa forma, a lavagem frequente com shampoo. Por outro lado, o cabelo carapinha precisa desse elemento para conferir brilho, diminuir a fricção entre os fios e aumentar sua maleabilidade.4,7,8,31 Ele fica naturalmente afastado do couro cabeludo entretanto, o excesso de sebo pode elevar a facilidade de penteabilidade. Este é o motivo dos indivíduos que possuem cabelos lisos poder lavá-los com shampoo, dia sim, dia não, enquanto que aos negros recomenda-se a lavagem apenas uma vez por semana, ou até menos, para obter uma aparência ativa. Outro problema que ocorre com a lavagem no tipo carapinha é maior incidência de quebra dos fios no ponto de maior curvatura.8 

Existem no mercado shampoos especificamente desenvolvidos para pessoas com pele negra. São conhecidos como shampoos condicionadores porque são formulados com tensoativos suaves ou pouco agressivos aos fios e substâncias condicionantes. Eles removem o sebo da haste do cabelo e o substituem por ingredientes substantivos aos cabelos. Com isso eleva-se a maleabilidade, diminui-se a fricção dos fios e acrescenta-se brilho aos cabelos.4,7,8 

Um dos problemas enfrentado pelas pessoas de pele negra é o desenvolvimento de dermatite seborreica, que pode ser de difícil tratamento, caso a pessoa utilize shampoo uma vez por semana ou a cada 15 dias. Os shampoos antisseborreicos tradicionais contêm alcatrão de hulha, enxofre, sulfeto de selênio ou piritionato de zinco em excipiente detergente. 

Este tipo de shampoo pode não ser o mais indicado de uso neste grupo étnico, porque removem todo o sebo. Deixaria os cabelos opacos, sem maleabilidade e quebradiços Com alternativa, temos o tratamento noturno para o couro cabeludo com ácido salicílico em excipiente oleoso a fim de soltar a caspa. Na manha seguinte, segue-se a lavagem com shampoo, juntamente com una formulação com cetoconazol. 

 

Condicionamento do Cabelo 

Os cabelos dos indivíduos de raça negra normalmente são submetidos a diversos tratamentos químicos, como alisamento ou relaxamento, cacheamento e descoloração, causando grande dano pois interferem nas ligações de enxofre da queratina originais da estrutura do fio de cabelo.3.6 

Com grande frequência, os indivíduos se submetem ao alisamento ou relaxamento e em seguida ao cacheamento, conhecido como "permanente afro", onde as ligações dissulfídicas são recompostas, conferindo ao cabelo nova configuração. Nestes dois processos, o cabelo fica danificado, pois são necessárias condições drásticas para eficácia do tratamento cosmético. Torna-se fragilizado, quebradiço, opaco, sem brilho, áspero ao toque e sem aparência natural.3,6 

Além dos processos citados, a descoloração interfere negativamente sobre as ligações de enxofre da queratina do córtex, causando os mesmos problemas mencionados.6 

A manutenção das características ideais dos cabelos de aparência carapinha é obtida através de produtos cosméticos ou cosmecêuticos que visam promover: hidratação, brilho, maciez e durabilidade nos cachos após o alisamento, relaxamento, ondulação ou descoloração, visando conferir aspecto saudável. Cada vez mais o consumidor exige resposta satisfatória em seus tratamentos.2,6,8 

Dentre os produtos disponíveis no mercado para esta finalidade temos: bálsamo condicionador, permite que o cabelo fique macio e fácil de pentear; recondicionador, recupera e mantém a textura e umidade dos fios; ativador de cachos, ativa, recupera e retém a umidade dos cachos e umidificador, hidrata e amacia o cabelo. Estes cosméticos utilizam diversos tipos de substâncias condicionadoras e em proporções variadas.2,6 

Os condicionadores possuem grande afinidade pela queratina e conferem propriedades físicas favoráveis aos fios, tais como: vida, elasticidade, suavidade, corpo ou volume, brilho, maciez (aumentando a aderência das escamas da cutícula capilar), controle do movimento e facilidade no penteado úmido e seco, pois ocorre diminuição da eletricidade estática.2,4,6,7,8,24,26,31

O mecanismo de ação do condicionador baseia-se no conceito da substantividade isto é, a absorção dos ingredientes adequados para modificar as propriedades superficiais e talvez a textura do cabelo. A substantividade é maior, quanto mais lesado e poroso estiver o cabelo.4,7,8,31 

A queratina é uma resina aniônica e apresenta afinidade por substâncias catiônicas, como é a natureza da maioria das substâncias condicionadoras.31 

Há três tipos de cosméticos condicionadores empregados pelas pessoas de pele negra. O primeiro é um condicionador instantâneo do tipo emulsão fluida, gel e creme, aplicados após o shampoo e a seguir, enxaguado. Com isso, ocorre período de contato muito curto do produto com o cabelo.4,7,8,13,17,18 

Este tipo de produto auxilia no tratamento cosmético, mas para a maioria das pessoas deste grupo étnico precisa ser seguido por um condicionador do tipo leave-in, como mousse ou leite siliconado. São aplicados nos cabelo seco ou úmido antes do penteado e podem ser reaplicados diariamente, até mesmo quando não ocorrer a lavagem. Contém substâncias de elevado poder condicionante e por não serem eliminados com enxágue, apresentam período de contato elevado com o fio, garantindo a eficácia de seu efeito.4,13,17,18,24 

Temos ainda os condicionadores profundos, como banho de creme contendo proteínas (conhecidos como "pacote de proteínas") ou óleo aquecido, desenvolvidos para a utilização semanal que devem ser deixados nos cabelos por 20 ou 30 minutos antes de serem eliminados com o enxágue. No primeiro caso, temos elevada concentração de substâncias condicionantes e o objetivo é reparar a haste capilar levemente danificada e no segundo, tem-se por objetivo melhorar o brilho e lubrificação dos fios.7,8,13,17,18 

 

Classificação das Substâncias Condicionadoras 

Tensoativos catiônicos: Muito utilizados em formulações de cosméticos condicionadores. Temos como exemplo, sais de amônio quaternário, como o cloreto de cetil-trimetil-amônio, brometo de cetil-trimetil-amônio, cloreto de cetil-etil-dimetil amônio, derivados n-acilcolamino-formil-dimetil piridídeo, lauril metil gluceth (alcooxilado metil glicosídeo), dentre outros.4,7,23,24,31 

Seu mecanismo de ação baseia-se na neutralização da carga negativa dos cabelos Os agentes catiônicos penetram no cabelo molhado, interagindo com as ligações estruturais de cada fio de cabelo, ajudando a sustentá-los. Com isso há diminuição da fricção entre o pente e o cabelo, tanto na condição úmida como seca, diminuindo a carga elétrica deste. Dessa forma, melhora-se a textura dos fios no estado seco ocorrendo suavidade e facilita-se o penteado úmido e seco. Melhoram o estado físico do cabelo, impedindo excesso de danos e o aparecimento de pontas quebradas, tornando-o mais maleável quando seco. Seu efeito é mais acentuado quando o cabelo estiver danificado ou sofreu algum tratamento químico.4,8,23 

Formadores de Filme: Os cosméticos são baseados em polímeros catiônicos de elevada viscosidade, como polivinil pirrolidona (PVP), derivados catiônicos da celulose, copolímero vinil-pirrolidona dimetil-amino-etil-metacrilato quaternizado, sal de amônio quaternário da hidróxi-etil-celulose (poliquatérnios 6, 7 e 10) e silicones catiônicos como ciclometicone, dimeticones, alquil-siloxanos, amodimeticone e copoliol dimeticone.1,2,3,6,7,8,23,24,26,31 Estas substâncias são retidas na superfície dos cabelos, encobrindo defeitos e permitindo melhor reflexão da luz. Muitas delas são catiônicas e substantivas aos cabelos, devido ao baixo ponto isoelétrico da queratina capilar (pH 3,67) e diminuem a eletricidade estática do fio.1,2,3,6,8,23,24,26,31 

Os silicones podem ser utilizados também em bases protetoras para o couro cabeludo, como formulações de alisantes com hidróxido de sódio e seus neutralizantes e relaxantes como tioglicolato de amônio e seus neutralizantes (como a água oxigenada), com objetivo de proteger e condicionar os fios e evitar danos ao couro cabeludo, diminuindo o efeito irritante dos produtos. Reparam pontas e restabelecem o brilho.2 

Outro exemplo de substância formadora de filme no fio são os complexos de algas marinhas, biopolímeros polieletrolíticos com elevada substantividade pela queratina. Formam película sobre o cabelo, protegendo-o, conferindo maciez, brilho, balanço e aparência natural.3 

Os polímeros neutros, como o PVP, são menos substantivos ao cabelo e são facilmente retirados durante as lavagens. Muito empregados em mousses e géis modeladores.24 

Proteínas e seus derivados: As formulações utilizam proteínas parcial ou totalmente hidrolisadas, principalmente colágeno, cauda de peixes, queratina, seda e caseína de leite. Estes elementos protegem, enriquecem ou reparam as fibras do cabelo.2,8 

Apresentam a vantagem de serem incorporados às fibras de cabelo, pois os fragmentos de aminoácidos e de polipeptídeos das proteínas hidrolisadas parecem se ligar à queratina do cabelo, restaurando a estrutura proteica danificada, resultando em melhora temporária, com reparação das pontas espigadas.31 

Substâncias lipófilas: São substâncias oleosas que diminuem a fricção das fibras, alisam a superfície irregular do fio e o recobrem com uma substância de elevado índice de refração. Com isso, diminuem-se os efeitos abrasivos da manipulação, melhora-se o estado do cabelo e facilita-se o penteado.31 

Como exemplos temos: derivados da lanolina, cera de abelha, álcoois etoxilados, ácidos graxos e seus ésteres, lecitina, óleos de amêndoas, abacate, rícino e gérmen de trigo.31 

Os diversos tipos de substâncias condicionadoras poderão ser associadas conferindo efeito reparador mais intenso ao cabelo, desde que seja respeitada a compatibilidade entre os componentes da formulação e o material de acondicionamento. 

Com intuito de melhorar a eficácia da formulação condicionadora, podemos incluir substâncias ativas, como vitaminas A e D, filtros solares, ceramidas e extratos vegetais. 

 

Alisamento do Cabelo 

O mercado dos produtos alisantes é muito promissor. Em 1994, a população afro-americana representava 12% da população total dos Estados Unidos, abrangendo a média de 31 milhões de pessoas. Deste montante, calcula-se que 80% das mulheres afro-americanas alisavam seus cabelos (Foto 2). Este fato é explicado, pois a preocupação com o cabelo está em primeiro lugar para os indivíduos de pele negra.20 

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A prática de alisar o cabelo leve início na época da escravidão, quando pessoas da raça negra usavam banha de porco, óleo lubrificante, manteiga e resinas de árvores com essa finalidade.25 

Em 1900, Madame CJ Walker lançou no mercado um método de alisamento temporário denominado "pressão a quente" ou "pente quente", onde os fios eram estirados usando vaselina sólida e um pente metálico quente, na temperatura de 150-250°C. A vaselina lubrificava o cabelo permitindo que o pente deslizasse, facilitando a passagem de calor do pente para os fios de cabelo.3,26,31 

O alisamento a quente modifica as pontes de enxofre que se rompem em contato com a água de lavagem, voltando o cabelo à configuração original. Apresenta como desvantagem o aparecimento possível de inflamação crônica nos folículos pilosos e sua destruição, com substituição por tecido cicatricial. Também podem ocorrer queimaduras no couro cabeludo.26,31 

Com o passar do tempo, a vaselina sólida foi substituída por vaselina líquida. Em 1959, foram lançadas no mercado formulações baseadas em hidróxido de sódio e em 1966, alisantes contendo sulfitos.3,26,31 

A formulação de um alisante é composta por um agente alcalino e pelas fase oleosa e aquosa da emulsão. Nestes produtos há a necessidade de um componente alcalino forte como o hidróxido de sódio ou lítio, ou ainda, hidróxido de guanidina, formado pela reação do carbonato de guanidina e hidróxido de cálcio.20,26,31 

A alta alcalinidade da formulação confere viscosidade elevada, evitando-se assim, que ela escorra para a face, pescoço e nuca durante a sua aplicação no cabelo. A fase oleosa representa o meio de proteção e condicionamento dos fios, enquanto que a fase aquosa é responsável por transportar o ingrediente ativo, no caso o agente alcalinizante.20 

A escolha do creme alisante deve levar em conta o tipo de cabelo e os tratamentos pelo qual passou. Nos seguintes casos, temos restrições para o alisamento: cabelos tingidos ou descoloridos, pois o processo enfraquecerá muito os fios tornando-os quebradiços, e que tenham passado pelo processo de alisamento num período inferior a 6 meses.6 

É importante se realizar o teste de toque na pele do usuário, verificando se ocorre reação alérgica à formulação e teste de uso, utilizando uma mecha de cabelo da nuca do usuário para avaliar se este suportará a ação do creme alisante, quando aplicado em toda a cabeça. 

 

Classificação dos Alisantes 

Alisantes com hidróxido de sódio ou de potássio: São aqueles que utilizam como agente alcalino forte, a hidróxido de sódio ou de potássio, sendo mais comum o primeiro, em concentração que varia de 2-9,0%. Frequentemente se emprega-1 5%. Quanto maior for a concentração do agente alcalinizante, ocorrerá mais rapidamente a penetração, espalhamento e a ação do produto.25,26,31 Estas formulações podem produzir irritações, queimaduras graves no couro cabeludo e acidentalmente lesões nos olhos.26,31 

Nestes cosméticos deve ser evitada a inclusão de ésteres, ácidos e agentes emulsionantes aniônicos, pois podem formar sabões ao reagir com os hidróxidos.31 

O grupo de alisantes com hidróxido de sódio é dividido em dois subgrupos classificados como alisantes sem base e alisantes de base. No segundo caso, temos baixa proporção de fase oleosa e porcentagem relativamente alta de hidróxido de sódio, produzindo resultado rápido de alisamento, mas com a desvantagem de poder provocar irritação no couro cabeludo, além de danificar os fios.20,25 

Os alisantes sem base são emulsões, com alta proporção de fase oleosa. As formulações possuem a vantagem de não provocar irritação no couro cabeludo.25 

No alisamento do cabelo com hidróxido de sódio existe uma mudança da ligação queratina-cistina (ponte dissulfídica) para ligação lantionina (ponte sulfídica), conforme representada no esquema abaixo, onde K representa a cadeia de queratina.12,21 

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A reação acima enfatiza o fato de que a cistina presente no cabelo tratado com o alcalinizante hidróxido de sódio ou de potássio, diminui progressivamente com o aumento do tempo de tratamento. E que, quanto maior loro tempo de uso do alisante, maior será a dificuldade do cabelo voltar a cachear.12 

Alisante sem hidróxido de sódio: É apresentado com mistura e sem mistura.20,25 As formulações com mistura são formadas por uma emulsão consistente contento hidróxido de cálcio e um agente ativador, o carbonato de guanidina, que misturados resulta no carbonato e cálcio c hidróxido de guanidina, com propriedades alisantes.20,25 

As formulações sem mistura utilizam o hidróxido de lítio como agente alisante em suas preparações, que não depende de nenhuma reação química para ser formado.20,25 

Além dos agentes alisantes citados, encontramos outros na literatura, como: 

-Bissulfito de amônio: conferem alisamento mais suave aos cabelos.8 

- Tioglicolato de amônio ou monoetanolamina: presentes em formulações de creme com pH 9,0-9,5. Empregam-se concentrações 8-11%, calculada como ácido tioglicólico, Proporcionam efeito de relaxamento nos cabelos.8,16,31 

Em estudo realizado com biopolímeros marinhos, observou-se que o extrato de algas marinhas em formulações para alisamento dos cabelos, permite a redução do tempo necessário para o tratamento e consequentemente diminuição do tempo de contato do cabelo e do couro cabeludo com o cosmético alisante.3 

A quebra e o rearranjo das ligações altera a estrutura interna das proteínas do cabelo cacheado. O valor elevado do pH da emulsão faz com que o cabelo fique intumescido, ocorrendo a abertura da cutícula, permitindo que o agente alcalinizante penetre na fibra capilar e chegue até a endocutícula.20 

Chegando ao córtex, o alisante reage com a queratina, quebrando as ligações estruturais do cabelo, consequentemente, amolecendo-o e esticando-o. A retirada do agente alcalino dos fios, por meio de lavagem e da ação com o agente neutralizante, como o peróxido de hidrogênio, ácido maleico e perborato de sódio, fecha a cutícula e dá início a nova geração de ligações cruzadas de lantionina, que fixam a nova forma das fibras do cabelo.20 

 

Conclusão 

O grande número de formulações cosméticas para pessoas de pele negra, denominados cosméticos étnicos, existentes atualmente no mercado, demonstram o avanço das pesquisas científicas e a preocupação da indústria cosmética no desenvolvimento de produtos específicos para este consumidor, cujas características de pele e cabelo são diferenciadas. Novas tendências e cuidados com o cabelo étnico ainda estão por vir, despertando nos pesquisadores o estudo para o surgimento de formulações inovadoras. 

 

 

Maria Valéria Robles Velasco de Paola e Maria Elizette Ribeiro são professoras doutoras da disciplina de Cosmetologia e Formulação de Produtos Cosméticos e Cosmecêuticos da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo - USP, São Paulo SP.
Dr. Valcinir Bedin é médico dermatologista e presidente Sociedade Brasileira para Estudos do Cabelo (SBCC) e diretor do Centro de Estudos da Clínica Stöckli, São Paulo SP.
Vilma Vilella Bonzanini é professora das disciplinas de Farmacotécnica e Cosmetologia da Faculdade de Farmácia e Bioquímica de Presidente Prudente da Universidade do Oeste Paulista, Presidente Prudente SP. 

 

Este artigo foi publicado na revista Cosmetics & Toiletries (Edição em Português), 11(3): 36-44, 1999.