Beleza de dentro para fora
publicado em 03/04/2020
Kátia Neves - Jornalista
Suplementos com finalidade cosmética
Princípios ativos mais utilizados
Nutracêuticos, alimentos funcionais e cosmecêuticos
Beleza de dentro para fora
Especialistas em nutrição são categóricos: “Você é o que você come”. Para eles, uma alimentação balanceada faz bem à saúde e ajuda a tornar as pessoas mais bonitas e atraentes. Partindo desse princípio, a indústria cosmética, em parceria com a indústria de alimentos, colocou no mercado uma nova categoria de produtos que prometem melhorar a aparência da pele, dos cabelos e das unhas. Chamados nutri cosméticos, esses produtos são formulados com biotina, niacina, luteína, ácidos graxos ômega-3 e ômega-6, vitaminas C e E, coenzima Q10, chá verde, entre outras substâncias, prometendo prevenir o envelhecimento, a queda dos cabelos, o fortalecimento das unhas e até a diminuição da celulite.
Muitas definições e expressões têm sido usadas para descrever esses produtos, que pertencem a uma categoria não bem definida, pois poderiam pertencer, ao mesmo tempo, às categorias de cosméticos, medicamentos e suplementos nutricionais. Para a dermatologista Flávia Addor, diretora técnica do Medcin Instituto da Pele, em Osasco, na Grande São Paulo, os nutri cosméticos podem ser comparados aos nutracêuticos, ou seja, são alimentos que satisfazem requerimentos nutricionais e proporcionam benefícios à saúde (alegação funcional), por exemplo, previnem doenças, reduzem mecanismos de oxidação e funcionam como coadjuvantes no tratamento de doenças ou problemas decorrentes do envelhecimento. “A rigor, não poderíamos chamá-los de nutri cosméticos, pois esta terminologia não é reconhecida do ponto de vista legal. Mas existem inúmeros produtos com essas funções. O mais antigo é o Yakult, leite fermentado com lactobacilos que auxiliam na função intestinal. Hoje existe o iogurte Activia, a margarina Becel e até os shakes emagrecedores”, diz a médica.
Já o farmacêutico bioquímico Henry Okigami, diretor de P&D do Laboratório Bio-Minerais, de Campinas SP, define os nutri cosméticos como cosméticos que apresentam benefício à pele, atuando por meio do fornecimento de nutrientes essenciais ao seu desenvolvimento e à manutenção da saúde. “É ainda um conceito não oficial, porém estudos científicos mostram que este tende a se solidificar. Já existem dados sugerindo que o uso de alguns nutrientes aplicados topicamente traz benefícios para a pele. Exemplos bem recentes disso são a aplicação de cobre e zinco, e a melhora na produção de elastina, bem como o estabelecimento de pontes de ligação cruzada entre elastina e colágeno, via estímulo da lisiloxidase”, diz Okigami.
A indefinição do conceito ocorre porque o nutri cosmético não é nem cosmético, nem alimento. No Brasil, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) enquadra os produtos nutri cosméticos na categoria de alimentos funcionais, porque produzem efeitos metabólicos ou fisiológicos por meio da atuação de um nutriente na manutenção do organismo. “Na legislação da Anvisa, o cosmético age topicamente, portanto só é aprovado para uso externo. Assim, produtos ingeridos não são considerados cosméticos e necessitam de outro tipo de registro, bem como de normas mais criteriosas”, diz o farmacêutico bioquímico e especialista em tecnologia de cosméticos Emiro Khury, diretor da EK Consulting, em São Paulo. A
Diretiva Européia 2002/46/EC classifica os nutri cosméticos na categoria dos gêneros alimentícios e apresenta uma lista de vitaminas e minerais autorizados, com seus devidos critérios de pureza. As doses máximas ficaram para ser definidas posteriormente, porém, até o momento, a diretiva especifica apenas o conceito que deve ser adotado para determinar as dosagens. Um projeto para definir padrões e harmonizar os apelos mercadológicos dos benefícios desses complementos ainda está em discussão.
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