Desenvolvimento
Materiais e Métodos
Resultados e Discussão
Conclusão

 

A pele facial apresenta quatro tipos de aspectos: normal, com textura aveludada e oleosidade natural na quantidade adequada; oleosa, com produção de sebo maior que o normal e aspecto brilhante; mista, que apresenta aspecto oleoso com poros dilatados na zona T (testa, nariz e queixo) e seca nas bochechas e extremidades do rosto; e, por fim, a pele seca, que tem como característica a perda excessiva de água, pouca luminosidade e poros pouco visíveis. Todos os tipos de pele demandam os mesmos cuidados faciais básicos, porém peles oleosas e/ou que apresentam manchas, conhecidas como melasmas, necessitam de cuidados específicos.11

Como parte de uma rotina de cuidados com a pele, as máscaras faciais são uma opção emergente que possibilita a utilização de diversos ativos, sejam os de origem natural, entre os quais a argila é uma das principais matérias-primas utilizadas para tratar disfunções, como oleosidade excessiva e melasmas, sejam os sintéticos.

Por serem formadas por uma mistura de minerais argilosos, as argilas apresentam grande capacidade de absorção e de aderência, formando uma película sobre a pele após a evaporação da água do sistema em que estão e, por isso, são frequentemente utilizadas nas formulações de máscaras faciais.2

Como exemplo de ativo sintético utilizado em máscaras faciais clareadoras há o alfa-arbutin, um ingrediente ativo puro biossintético e que clareia e uniformiza a pele. Há, também, a niacinamida, o ácido hialurônico, a vitamina C, entre outros ativos que são produzidos pelo corpo humano, porém, atualmente, eles também podem ser sintetizados em laboratório e utilizados pela indústria como ativos dermatológicos.16

 

Desenvolvimento

Pele
A pele é dividida em três camadas: a epiderme, a camada mais externa, que apresenta poros dos folículos polissebáceos e das glândulas; a derme, que promove a sustentação da epiderme e é composta de fibras de elastina, colágeno, glândulas sebáceas e sudoríparas imersas em tecido conectivo e, por ser altamente vascularizada, garante nutrição à epiderme; e, na parte mais interna, há a hipoderme, constituída de tecido adiposo e rica em nervos e vasos sanguíneos.5,16

Na pele existem glândulas que são responsáveis por algumas funções como controlar a temperatura corporal, proteger contra a desidratação, eliminar impurezas, entre outras. Uma dessas glândulas é a sebácea, que por meio da liberação de uma mistura lipídica conhecida como sebo tem a função de proteger a pele, lubrificando a região, controlando a saída de água e inibindo o crescimento de fungos e bactérias. Existem três grandes grupos principais em termos de tipos de pele, que podem aparecer isoladamente ou coexistir na mesma região. Há a pele seca, que apresenta baixa produção de sebo, a pele oleosa, que apresenta produção excessiva de sebo, e a pele normal, que apresenta produção equilibrada de sebo. A produção de sebo está relacionada aos hormônios, cujos precursores estão presentes em toda a pele. Os hormônios androgênicos, que são hormônios masculinos, aumentam a produção de sebo; já os estrogênicos, hormônios femininos, têm poder de diminuir a produção do sebo e, também nas mulheres, os ciclos menstruais influenciam no aumento da atividade das glândulas sebáceas.

Porém, a produção de sebo também pode ser relacionada com a posição geográfica em que o indivíduo se encontra, pois regiões de clima mais seco requerem uma pele mais impermeável, sendo assim, maiores quantidades de sebo são toleradas. Já nas regiões de clima mais quente ocorre aumento da liberação de sebo devido à sua fluidificação, o que aumenta o desconforto de pessoas com peles mais oleosas.5,11

Os problemas de pele oleosa podem ser agravados pelo uso indevido de produtos cosméticos, pois há a busca em diminuir quase totalmente a produção do sebo, mas isso pode interromper sua função de barreira e permitir a evaporação da água. Por isso, é importante a utilização de produtos que promovam sensação de limpeza agradável, mas que também sejam hidratantes, uma vez que ter a pele oleosa não indica que se esteja com uma pele corretamente hidratada. Gel ou loções hidratantes sem óleo ajudam a pele oleosa a manter sua elasticidade e umidade. Máscaras faciais também são indicadas para essa finalidade, principalmente as que contêm argilas em sua composição, uma vez que a argila tem as capacidades de absorver o sebo superficial e de promover sensação agradável de pele mais macia.4

Outra alteração inestética que incomoda muito as pessoas é a hiperpigmentação, caracterizada pelo aparecimento de manchas escuras e irregulares na face ou no corpo e que pode ser desencadeada por diferentes fatores, como uso de drogas, agentes fotossensibilizantes, luz ultravioleta e alterações hormonais.16

Máscaras faciais
As máscaras faciais são consideradas uma opção de tratamento muito viável e de fácil utilização, e, apesar de já estarem no mercado há décadas, recentemente passaram por uma remodelação, que consistiu na inclusão de ingredientes inovadores; no aumento da eficácia dessas máscaras, que passou a ser perceptível de imediato; e no desenvolvimento de funcionalidades criativas. Essa remodelação diferencia essas máscaras de formas tradicionais de máscaras e chama cada vez mais a atenção para sua utilização.

As máscaras faciais podem apresentar diferentes tipos de formas cosméticas, como géis viscosos, pastas ou emulsões espessas, ou ter diferentes formas de aplicação, como por meio de em tecido, de alguns tipos de compressa ou de laminado polimérico, para manter a aplicação por mais tempo. No momento da formulação, o local da aplicação e a quantidade aplicada determinam, em grande parte, quais são as propriedades reológicas que as máscaras faciais vão ter. Os principais objetivos cosméticos das máscaras faciais são proporcionar umectação rápida e profunda, recomposição e restauração da pele; absorção e eliminação do sebo, rejuvenescimento da pele; clareamento de manchas; e sensação de tensionamento.3,12

Entre as inúmeras opções de ingredientes possíveis para formular as máscaras faciais estão ativos naturais e sintéticos, que podem atuar de forma semelhante na formulação e trazer os mesmos benefícios para a pele. Um dos ativos naturais mais utilizados atualmente são as argilas.3

A argila é um produto natural, terroso e que pode ser formada por apenas um mineral argiloso ou, mais frequentemente, por uma mistura de minerais argilosos, com o predomínio de um deles. Esses minerais proporcionam às argilas diferentes propriedades que fazem delas um material geológico com aplicações diversas e importantes. Os elementos mais encontrados nesses minerais são: oxigênio, silício, alumínio, ferro, potássio, magnésio e sódio. As argilas são divididas em vários grupos, que têm diferentes características de acordo com sua composição, por exemplo: a paligorsquita, a sepiolita, a caulinita, as esmectitas e o talco. A maioria das argilominerais é constituída, essencialmente por partículas (cristais) com dimensões inferiores a 2 μm. Além de formarem um filme protetor, as argilas atuam como agente de aderência e de suavidade e proporcionam opacidade à pele. Elas podem ser incorporadas a emulsões e pós, com os objetivos de remover o brilho e cobrir manchas da pele, e, dessa forma, modificam a aparência física e preservam as propriedades físico-químicas da pele.1,2

A caulinita (ou caulim) é uma argila formada essencialmente por caulinite branco, cuja formação é resultado da alteração meteórica das rochas ricas em feldspato e mica. É um tipo de argila utilizado em formulações cosméticas, como pós faciais e máscaras para o clareamento de manchas na pele.

O efeito adstringente e de aquecimento (tightening) resultante da aplicação desses produtos produz sensação revigorante e, ao mesmo tempo, o caulim adsorve os materiais gordurosos e remove a poeira aderida à pele.15

Já a argila verde, de origem mineral terrosa, constituída basicamente da combinação de sílica e alumina, tem cores variadas, grande plasticidade e realiza fácil absorção de água e sebo, sendo por isso muito utilizada em máscaras faciais seborreguladoras.1

 

Materiais e Métodos

Esta pesquisa tratou-se de uma revisão bibliográfica sobre artigos científicos relacionados à diferença química entre ativos seborreguladores e ativos clareadores naturais e sintéticos, utilizados em máscaras faciais em creme e de uso não profissional.

Foram utilizados artigos com delimitação temporal de 2007 até 2020. A pesquisa bibliográfica para a obtenção de artigos foi realizada por meio da consulta de banco de dados eletrônicos científicos, como PubMed e Scielo, utilizando palavras-chave como: máscaras faciais, argilas, clareadores e seborregulador. Os fatores de inclusão para os artigos foram: artigos em português, inglês e espanhol que contivessem pelo menos uma das palavras-chave em seu conteúdo. Os fatores de exclusão foram: artigos somente com o resumo disponível ou em outros idiomas, como o francês.

Também foram utilizados livros acadêmicos, revistas, como a Cosmetics & Toiletries (Brasil), e informativos técnicos de empresas de matérias-primas e de empresas de produtos acabados.

Depois da obtenção desses dados foi realizada a análise de rotulagem de máscaras faciais em creme, com ação clareadora e com ação seborreguladora, encontradas no mercado nacional e de uso não profissional, vendidas em lojas on-line. Então foram comparados, qualitativamente, os ativos naturais e sintéticos que estavam presentes nessas máscaras faciais.

 

Resultados e Discussão

Foi realizada uma pesquisa de mercado sobre máscaras faciais em creme com apelos mercadológicos de tratamentos faciais antioleosidade e/ou seborreguladoras e de clareamento de manchas. Entre as máscaras analisadas foi obtido acesso à formulação completa de 13 delas e foi realizado seu estudo crítico. Verificou-se que todas essas 13 máscaras apresentaram em sua composição pelo menos um tipo de argila mineral. A argila branca, mais conhecida como caulim, foi encontrada nas máscaras com ação clareadora e a argila verde foi encontrada nas máscaras antioleosidade e/ou seborreguladoras, e todas elas apresentaram ao menos um óleo ou extrato vegetal em sua composição. Muitas vezes, esse óleo ou extrato vegetal foi destacado como ativo do produto, conforme o Quadro 1.

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Entre os vários ativos sintéticos, foram encontrados o ácido hialurônico, que mantém a pele hidratada e ao mesmo tempo a protege do excesso de oleosidade, sendo indicado para todos os tipos de pele; e o ácido mandélico um ácido alfa-hidroxi (AHA), derivado de amêndoas-amargas e que é mais suave do que alguns outros AHA’s, como o ácido glicólico e o ácido lático. Os AHA’s atuam esfoliando as camadas de pele morta, tornando a superfície da pele mais uniforme.16

Cada tipo de argila apresenta um potencial de aplicação cosmética diferente, de acordo com sua composição química, com sua estrutura cristalina, presença de minerais associados e seus efeitos na pele.

Pode ser considerada a existência de dois grandes grupos de argilas: a bentonita, formada por estruturas cristalinas chamadas de esmectitas, e o caulim, formado por caulinitas.16,17

Algumas das propriedades químicas que fazem da bentonita um ativo natural ideal para uso em formulações de máscaras faciais são:

• seus cristais lamelares, muito pequenos e delgados, propriedades que os tornam flexíveis e macios ao tato;

• a reologia de seus cristais com a água, formando um sistema consistente e com boa propriedade adesiva (poder ligante), o que proporciona aplicação fácil e formação de película contínua sob a pele e que, após a evaporação da água, forma películas aderentes às superfícies aplicadas;

• seu pH, que é semelhante ao da pele, para evitar irritações;

• a grande superfície de contato de suas partículas, que dá à bentonita capacidade de absorção e adsorção elevadas;

• a boa capacidade de troca de cátions, que facilita a movimentação de nutrientes e de outras substâncias químicas catiônicas sobre a pele.8

O caulim é branco ou quase branco, hidrofílico, tem granulometria fina natural e área específica baixa, e é quimicamente inerte. Essa é uma descrição sintética e preliminar das propriedades dos diferentes tipos de caulim. Há algumas diferenças entre a caulinita e o grupo das esmectitas. Uma delas é que a caulinita tem área específica baixa e capacidade de realizar trocas catiônicas bem menores do que as realizadas pelas esmectitas.8

As propriedades mais importantes do sistema caulim/caulinita, que servem de base para diferentes aplicações industriais, inclusive para a produção de produtos cosméticos, são:

• cor branca ou quase branca, muito clara;

• baixa reatividade química em uma faixa de pH entre 4 e 9;

• granulometria natural muito fina dos cristais com morfologia lamelar (placas);

• alta capacidade de realizar troca catiônica;

• cristais com superfície externa hidrofílica, o que a torna facilmente solúvel em água;

• seu preço é relativamente baixo.8

Estudo clínico realizado por Velasco e colaboradores (2016)17 mostrou que, mesmo que as argilas comerciais sejam submetidas a processos de purificação, elas apresentam minerais associados e um desses minerais encontrados, a mulita, não é natural, indicando provavelmente que houve contaminação industrial da amostra. Infelizmente, a presença desses minerais pode impactar negativamente as propriedades da argila e a estabilidade de preparações cosméticas.

Outro ativo encontrado nas máscaras é o óleo de rosa-mosqueta, rico em ácidos graxos insaturados ácido oleico (16%), linoleico (41%) e linolênico (39%), e em vitamina A ácida (tretinoína) e compostos cetônicos, que proporcionam a esse óleo a função de regenerador dos tecidos, conservando a textura da pele e atuando como cicatrizante e emoliente.10

Os extratos vegetais e os óleos essenciais são ativos amplamente encontrados nas máscaras faciais. Em 9 das 14 máscaras analisadas foram encontrados extratos vegetais. Entre eles, estão:

• extrato de melissa, que contém ácidos fenólicos e ácidos triterpênicos atuando como anti-inflamatório, adstringente, levemente antisséptico, tônico e refrescante;9

• extrato de camomila, que contém sesquiterpenos (bisabolol), flavonoides (luteolina, apigenina), cumarinas e ácido salicílico, atuando como emoliente, cicatrizante, suavizante, refrescante e protetor dos tecidos, além de terem ação antiacneica e de ser antialergênico (em peles facilmente irritáveis);6

• extrato de hamamélis, que contém tanino pirogálico (hamamelitanino), saponina ácida, colina e ácidos graxos, atuando como adstringente, vasoprotetor, vasoconstritor, descongestionante, além de ter ação antioleosidade e de ser antiacneico;6

• extrato de chá verde, que contém bases xantínicas (cafeína e teofilina), proantocianidinas (procianidinas, teasinensinas e asamicaínas), flavonoides (flavanonas, epicatecol, epigalocatecol e seus ésteres gálicos), taninos (ácido galotânico), vitaminas do complexo B, sais minerais (F, Ca, K, Mg) e ácidos fenólicos, clorogênico, cafeico e gálico, atuando como estimulante, adstringente, antioxidante e antibacteriano.7,13

É importante verificar que todas as máscaras analisadas, sejam seborreguladoras, sejam clareadoras, apresentam grande quantidade de emolientes e umectantes na sua formulação, pois, independentemente do tipo de pele, todas elas necessitam de hidratação. Além disso, houve presença dos emulsionantes e espessantes nas formulações; eles dão estabilidade ao produto e garantem que durante a aplicação da máscara todos os ativos sejam distribuídos de maneira homogênea pela superfície onde forem aplicados.

 

Conclusão

Todas as substâncias encontradas nas máscaras faciais de mercado têm origem natural, porém algumas delas são sintetizadas por meio de reações químicas controladas, processo que viabiliza a produção de cosméticos em grande escala. Outra parte dessas substâncias, como os extratos, os óleos e as manteigas, é proveniente de espécies vegetais de fácil cultivo e obtenção, não trazendo prejuízo ao meio ambiente.

A principal matéria-prima de origem natural presente em todas as máscaras analisadas neste trabalho foi a argila, substância que pode ser encontrada em diferentes composições, dependendo de sua origem e de qual mineral está presente em sua estrutura. Essas diferentes composições interferem nas propriedades cosméticas que cada uma delas tem sobre a pele. Por isso, a cada dia cresce a diversidade de cores de argilas encontradas como matérias-primas para a produção de cosméticos.

Dentro dessa perspectiva concluiu-se, pela análise teórica das argilas betonita e caulim, que elas têm propriedades que justificam sua utilização em máscaras faciais com ações seborreguladora e clareadora. Em relação aos demais tipos de argila, ainda é necessário realizar estudos para que se possa de fato verificar a eficácia de cada uma delas nas afecções dermatológicas apresentadas.

 

 

Joana Christine Domingo Shigueyama e Thamires Agio Barros são alunas do Curso Superior de Tecnologia em Cosméticos, da Faculdade de Tecnologia de Diadema – Fatec Luigi Papaiz, Diadema SP, Brasil.
Carla Aparecida Pedriali Moraes é farmacêutica e doutora na área de cosméticos. É pesquisadora e orientadora da Faculdade de Tecnologia de Diadema (Fatec Luigi Papaiz), na área de tecnologia em cosméticos, e atua no desenvolvimento de formulações capilares, faciais e corporais.

 

Este artigo foi publicado na revista Cosmetics & Toiletries (Brasil), 33(6): 10D-13D, 2021.