Diferenças Intra e Interindivíduos em Pele Sensível
publicado em 01/04/2003
F.Distante. L.Higano, H. D'Agostino e A. Bonfigli
Instituto da Pele e de Avaliação de Produto, Milão, ltália
E.Berardesca
Instituto Dermatológico San Gallicano, Roma, Itália
Os autores investigaram as variações inter e intraindivíduos na perda transepidérmica de água, capacitância e microcirculação em 10 diferentes áreas faciais, em sujeitos "com pele sensível" e em sujeitos "sem pele sensível ".
The author investigated the intraindividual the interindividual variations of transepidermal water loss, capacitance and microcirculation in 10 differentfaciaL areas in subjects with "sensitive skin" and in subjects with "non-sensitive skin ".
Los autores investigaron las variaciones inter e intra-individuos en la perdida transepidermica de água, capacitancia y microcirculacion en 10 diferentes áreas faciales, en sujetos "con piel sensible" e en sujetos "sin piel sensible ".
Materiais e Métodos
Resultados
Discussão
Sumário
A reatividade da pele a vários estímulos apresenta diferenças por regiões do corpo, conforme já foi amplamente documentado.1-5 Essas diferenças localizadas têm sido atribuídas principalmente a dois fatores. O primeiro são as diferenças anatômicas da estrutura da pele.4 O segundo são as propriedades biofísicas da pele, como a função de barreira, permeabilidade da pele e resposta vascular a substâncias aplicadas topicamente.5 Essas constatações implicam que os resultados dos estudos sobre irritação e avaliações estéticas realizadas em diferentes áreas do corpo não podem ser correlacionadas facilmente.
Embora os produtos cosméticos sejam principalmente aplicados na face, a maioria dos estudos de pesquisa por métodos de bioengenharia foi realizada em outros sítios do corpo, como antebraço e tronco. Tem sido dada pouca atenção em investigar diferenças regionais entre as varias áreas da face.6-9
Além disso, muitas pessoas experimentam alta reatividade facial quando expostas a fatores externos. Essas pessoas referem sintomas de rigidez, queimação, coceira e punctura após a aplicação de ácido láctico ou outras substâncias, mas sem sinal objetivo de alterações da pele.10
Uma vez que cerca de 40% da população entrevistada afirma sofrer desta condição, isso foi classificado como um determinado tipo de pele chamado de "pele sensivel".11-13
Porém, modelos para definir essa condição não estão padronizados e seus limites ainda não estão nem bem definidos e nem investigados extensivamente. Assim sendo, o termo "pele sensível" pode ser enganoso.14 Apesar disso, a resposta de puncturas após a aplicação local de 10% de acido láctico (teste de puncturas) é amplamente usado como marcador da sensibilidade da pele.15
O objetivo deste estudo foi o de investigar objetivamente e comparar diferenças entre regiões da face na função de barreira da pele (TEWL), capacitância e microcirculação em sujeitos "sensíveis" e "não-sensíveis".
Materiais e Métodos
População do estudo: O estudo admitiu 20 mulheres caucasianas saudáveis, com idades entre 19 e 45 anos (media de idade 36±2; tipo de pele II-IV). Dez das mulheres tinham pele sensível. Todos os sujeitos assinaram o consentimento informado antes de sua admissão ao estudo. Mulheres com dermatite de contato foram excluídas do estudo.
Para o grupo de pele sensível, os critérios de inclusão foram os seguintes:
- Uma resposta positiva a puncturas detectada 3 minutos depois da aplicação de 1ml de uma solução 10% de ácido láctico na dobra naso-labial, com um chumaço de algodão;
- Autorreferência de pele sensível;
- Percepção de pelo menos um dos seguintes sintomas: vermelhidão associada ao estresse/emoção, ingestão de álcool e alimentos condimentados ou alteração brusca de temperatura; vermelhidão, puncturas e rigidez após exposição ao clima frio, vento; vermelhidão, puncturas, queimação, coceira, descamação após a aplicação facial de cosméticos e contato com água e sabão.
Os sujeitos de pele não-sensível foram definidos com base na resposta negativa a puncturas associada com autorreferência de pele normal e ausência de qualquer sintoma subjetivo indicado para o grupo de pele sensível.
Todos os sujeitos que usavam maquilagem ou creme facial receberam o mesmo tipo de removedor de maquilagem e o mesmo creme facial para usarem nos sete dias anteriores ao início do estudo. Além disso, foram instruídas a não usar nenhum outro cosmético ou sabonete por pelo menos 12 horas antes das avaliações.
Avaliações instrumentais: Selecionamos os sítios de avaliação (2 cm por 2 cm) em 10 áreas faciais anatomicamente definidas, parcialmente modificadas, segundo relatado por Schnetz et al9 (Figura 1).
Em cada sítio foram realizadas as seguintes mensurações biofísicas
- Função de barreira (perda transepidérmica de águaTEWL) por meio de evaporímetro (Tewameter TM210, Courage +Khazaka, Colônia, Alemanha)
- Hidratação pelo método de capacitância (Corneometer CM825, Courage+Khazaka, Colônia, Alemanha)
- Fluxo sanguíneo da pele por um doppler laser (Perimed PerifluxPF 4001, Suécia)
Todos os sujeitos descansaram por 30 minutos antes das avaliações e permaneceram deitados enquanto estavam sendo realizadas as avaliações, num ambiente controlado (21-23°C; DR =45-55%).
Análise estatística: as dados relacionados a cada grupo de sujeitos (sensíveis e não-sensíveis) foram analisados estatisticamente por ANOVA (análise de variância) para as avaliações repetidas e após pelo teste de Tukey para comparação post-hoc. Foi usado o teste t de Student para comparar cada sítio facial entre os dois grupos de sujeitos.
Resultados
Diferenças de TE WL intraindivíduos: A comparação de todas as áreas faciais testadas nos indivíduos mostrou um padrão semelhante de distribuição nos dois grupos de sujeitos. As médias dos valores de TEWL mais altos foram obtidas no queixo (sítio 7) e nos sítios paranasais (4R e 4L) e próximo à comissura oral (sítio 6). A média dos valores mais baixos foram obtidas na parte lateral das bochechas (sítios 3R, 3L, 5R e 5 L) e na testa (sítios 1e 2) (Tabela1).
Foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre o queixo (sítio 7) e todos os demais sítios faciais (p<0,05) e entre partes as partes laterais das bochechas (sítios 3 e 5) (p<0,05) e entre os sítios paranasais (sítios 4) e a testa (sítios 1 e 2) (p<0,05).
Diferenças de TEWL intraindivíduos: A comparação dos valores TEWL entre os dois grupos mostrou valores médios mais altos em todos os sítios do grupo de "pele sensível" em comparação com o grupo de pele "não-sensível". Tais diferenças foram consideradas estatisticamente significativas na região malar (p<0,05) . Diferen~as de capacittincia intra-individuos: Como foi constatado para TEWL, a comparayao de todas as areas faciais testadas mostrou padrao semelhante de distribuir;ao nos dois grupos de sujeitos. as maiores valores medios de hidratar;ao fo- ><0,05).
Diferenças de capacitância intraindivíduos: Como foi constatado para TEWL, a comparação de todas as áreas faciais testadas mostrou padrão semelhante de distribuição nos dois grupos de sujeitos. Os maiores valores médios de hidratação foram obtidos no queixo (sítio 7), malar (sítios 3) e sítios paranasais (sítios 4). Os valores médios mais baixos foram obtidos nas partes laterais das bochechas (sítios 5) e testa (sítios 1 e 2) (Tabela 1).
Foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre as áreas dos malares (sítios 3) e testa (sítios 1 e 2) (p<0,05) e também entre as áreas dos malares (sítio 3) e áreas inferiores das bochechas (sítios 5 e 6) (p<0,001). No grupo de "não-sensíveis" também foi encontrada diferença significativa entre o queixo (sítio 7) e testa (sítios 1 e2)(p=0,001).
Diferença de capacitância interindivíduos: A comparação dos valores de capacitância entre os dois grupos mostrou valores mais baixos em todos os sítios do grupo "sensível" em comparação com o grupo "não-sensível" (Tabela 1). Porém, as diferenças entre os dois grupos não foram estatisticamente significativas. Este resultado poderia ser devido ao pequeno tamanho da amostra do estudo.
Diferenças de fluxometria por Doppler Laser intraindivíduos: Como foi encontrado nos valores de TEWL e capacitância, o perfil facial para o fluxo sanguíneo facial mostrou valores médios mais elevados nos sítios paranasais (sítio 4) e do queixo (sítio 7). O valor médio mais baixo do fluxo da pele foi no malar (sítios 3), na parte lateral das bochechas (sítio 5) e testa (sítios 1 e 2) (Tabela 1).
Nos dois grupos, foram observadas diferenças estatisticamente significativas entre os diferentes sítios faciais: área paranasal (sítios 4) versus malares (sítio 3) (p<0,05); área paranasal (sítio 4) versus bochechas (sítio 5) (p<0,001); e área paranasal (sítio 4) versus testa (sítio 2) (p<0,05).
Diferenças de fluxometria por Doppler Laser interindivíduos: A comparação dos valores de fluxos sanguíneos na pele entre os dois grupos mostrou valores mais elevados em todos os sítios no grupo de "pele sensível" em comparação ao grupo "não-sensível", exceto por um sítio da testa (sítio 2). No entanto, as diferenças entre os dois grupos não foram estatisticamente significativas (Tabela 1).
Discussão
Foram referidos achados contraditórios sobre pele sensível. A causa pode ser genérica. Na verdade, alguns autores documentaram diferenças raciais na irritabilidade da pele, que demonstrou como as diferenças na reatividade da barreira de água e diferenças em respostas vasculares.12 ,16-18 A crença geral é que pessoas hiper-reativas podem ter um estrato córneo permeável com menor área corneócita.19 Uma informação neurossensorial aumentada também poderia resultar num limite reduzido de estímulos irritantes.13
Diferenças regionais na susceptibilidade da pele a irritante: Neste estudo, investigamos as variações interindivíduos e intraindivíduos de perda transepidérmica de água, capacitância e microcirculação em 10 áreas faciais diferentes em sujeitos com "pele sensível" e sujeitos com "pele não-sensível".
Descobrimos - de acordo com o trabalho de outros autores7 - que entre os sítios faciais investigados houve diferenças regionais que seguem um perfil característico nos dois grupos de sujeitos: TEWL, capacitância e valores de fluxo na pele foram significativamente mais elevados nos malares, nos sítios infraorbital/paranasal e queixo, em comparação com a testa (p<0,001). Regiões simétricas das duas faces não mostraram diferenças significativas.
Os resultados deste estudo confirmam que diferenças intrarregionais nas propriedades biofísicas da pele podem estar por trás da variabilidade da reatividade da pele entre diferentes sítios faciais. Especialmente, a menor função de barreira e o menor fluxo na pele encontrado no queixo e no sítio infraorbital-paranasal poderiam resultar numa permeabilidade mais alta desses sítios da pele, possivelmente levando a maior susceptibilidade às substâncias topicamente aplicadas à testa e às partes laterais da face.
Essas diferenças foram muito mais evidentes no grupo de "pele sensível", que mostrou valores mais elevados de TEWL, de fluxo da pele e hidratação mais baixa em todos os sítios faciais investigados em comparação com o grupo com pele "não-sensível". Essas constatações suportam a hipótese de que defeitos na função de barreira, estrutura de estrato córneo e a dinâmica vascular podem induzir uma penetração transcutânea mais alta em sujeitos com "pele sensível", levando a maior hiper-reatividade da pele.
Sumário
Neste estudo, foram realizadas avaliações da função de barreira (TEWL), capacitância e microcirculação em 10 sítios de teste anatomicamente definidos nas faces de 10 sujeitos de "pele sensível" e 10 sujeitos de "pele não-sensível".
Não foram encontradas diferenças intraindivíduos entre os sítios localizados nas duas bochechas, na testa e no queixo. Em particular, maiores valores de TEWL e de fluxo foram encontrados na área da bochecha no grupo com pele sensível em comparação com o grupo de pele não-sensível.
Nosso estudo confirma que a barreira de permeabilidade alterada e a dinâmica dos vasos podem contribuir para a susceptibilidade das pessoas com pele sensível a vários estímulos. Além disso, como havia sido anteriormente demonstrado por outros autores, diferenças das regiões da face em alguns parâmetros biofísicos deveriam ser consideradas para estudos de bioengenharia.
Este artigo foi publicado na revista Cosmetics & Toiletries (Edição em Português) 15(2): 2003.
Publicado originalmente em inglês, Cosmetics & Toiletries 117(8): 39-46, 2001.
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