Micropartículas de Silício: Síntese e Propriedades Ópticas
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Avaliação de Segurança
Conclusões

 

Como é comumente conhecido, o espectro de radiação solar se estende em comprimentos de onda que vão de 200nm a 3.000nm. Dentro desse espectro, os diferentes tipos de radiação podem ser classificados por comprimento de onda e conteúdo de energia. A radiação ultravioleta (UV), que vai de 200nm a 380nm, produz queimaduras e eritemas no caso da UVB, ou envelhecimento da pele e fotocarcinogênese, possivelmente, provocando câncer na pele, no caso da UVA.1 A luz visível fica na faixa de 380nm a 700nm, e a radiação infravermelha (IV), que está dentro da faixa de 700nm a 3.000nm, é responsável pelo calor e parece estar envolvida no envelhecimento da pele2,3 e no desenvolvimento do câncer.4

,A radiação solar que alcança a superfície da Terra é composta de aproximadamente 7% de UV. Os 93% restantes se dividem, aproximadamente, entre radiação visível e radiação IV. Enquanto 7% é aparentemente pequeno se for comparado ao todo, esse nível de radiação UV é suficiente para causar danos à pele. Além disso, o dano à camada de ozônio durante as últimas décadas aumentou os níveis de radiação UV que chegam à superfície da Terra.5 Por isso, foram feitos esforços para desenvolver filtros UV orgânicos e inorgânicos, e a indústria dos bloqueadores solares foi beneficiada com a introdução de novos ingredientes ativos para melhorar a proteção contra a UV.;6

,As moléculas químicas orgânicas, incluindo salicilatos, cinamatos, cânfora, derivados de triazona (UVB) ou benzofenonas, avobenzona e bemotrizimol (UVA), absorvem a radiação UV, enquanto as partículas inorgânicas, como o dióxido de titânio (TiO2) e o óxido de zinco (ZnO), refletem e espalham os raios UV. As partículas micronizadas desses compostos posteriores foram usadas para melhorar a proteção contra a UVA, já que dispersam a luz eficientemente na faixa de 320-400nm, sempre que estão presentes em quantidades suficientes. Atualmente, os fabricantes cosméticos usam esses materiais conjuntamente com ingredientes químicos orgânicos absorvedores de UV para aumentar a proteção na região UVA ou para ampliar o espectro de cobertura. Entretanto, apesar de essas partículas espalharem efetivamente a UV, seu uso em formulações de cuidado solar representa um desafio já que apresentam coloração branca na pele. Isso se deve à atenuação da luz visível, particularmente dependente do tamanho de partícula, e, em geral, esteticamente inaceitável.

Para evitar esse efeito branqueador, foram desenvolvidas partículas de dimensões “nano” para proporcionar proteção UV aceitável, já que elas se apresentam muito mais transparentes na pele, uma característica que não é obtida com as partículas maiores. Além disso, após a controvérsia sobre a possível penetração na pele de nanopartículas e sua localização nos nodos linfáticos,7-9 recentes descobertas mostraram que nanopartículas como TiO2 ou ZnO, utilizadas em cosméticos, penetram na pele, porém não vão além do estrato córneo.10

Adicionalmente, vários estudos demonstram que, devido às fortes forças entre nanopartículas – como a de Van der Waals e forças eletrostáticas, e as pontes de hidrogênio entre partículas na água -, os agregados tendem a se formar durante a preparação de filtro solar, portanto, são geradas aglomerações de partículas que são muito grandes para penetrar no estrato córneo.11,12

Entretanto, reduzir o tamanho das partículas dos cristais, particularmente do Ti02, pode provocar aumento da atividade fotocatalítica13-16 e causar formação de radicais livres sob a presença de luz. Portanto, muitas manipulações, como coberturas, pré-tratamentos e pré-dispersões, são necessárias para minimizar esse efeito,17,18 assim como melhorar a qualidade e a compatibilidade da dispersão das partículas de TiO2 e de ZnO nas formulações cosméticas.19

Até agora, a pesquisa de cuidado solar na indústria cosmética tem enfocado principalmente os efeitos danosos das radiações UV na pele humana e o desenvolvimento de filtros de radiação UV para as formulações cosméticas. Porém, as radiações nas faixas visível e IV também devem ser consideradas, pois são absorvidas pela pele humana.20,21

Também como o que foi descrito anteriormente, a radiação total direta a que os indivíduos estão expostos é aproximadamente 39% na faixa visível e 54% na faixa IV – quantidade bastante significativa. É importante notar que se conhece pouco sobre os efeitos biológicos da radiação IV na pele22 e que, apesar de alguns estudos indicarem que eles podem estar envolvidos no envelhecimento prematuro da pele21,23,24 e, em sinergia com a radiação UV, no desenvolvimento de câncer na pele,4,25 outros mostram que a radiação IV pode ter efeito protetor contra o dano da radiação UV.26 Apesar de tudo, a presença de qualquer radiação IV corresponde à radiação de calor, que é absorvida na camada epidérmica e causa aumento na temperatura da pele,22 assim como lesões e carcinogênese.27 Por isso, aumentou o interesse em se estudar e desenvolver filtros solares que protejam a pele contra os efeitos térmicos da radiação IV.