Qualidade dos Extratos Vegetais 
Processos de Extração 
Formulações com Extratos de Ervas 

 

Sabe-se que as plantas têm sido utilizadas como matéria-prima para preparações medicamentosas e cosméticas desde a antiguidade. 

Após um período em que houve predominância de uso de compostos sintéticos e que se seguiu à 2a Grande Guerra, produtos contendo extratos ou componentes naturais voltaram a ser utilizados. 

Têm ocupado um lugar de destaque cada vez maior, dentro de uma tendência geral de “volta à natureza", maior preocupação com o meio ambiente e aumento das exigências do consumidor. A não toxicidade dos produtos consumidos e a ausência de efeitos secundários indesejáveis passam a constituir características cada vez mais importantes. 

Esta preocupação resultou em elevação dos padrões de qualidade dos extratos e componentes naturais dos cosméticos e medicamentos. Estes passam por critérios rígidos e que começam com os cuidados na obtenção do próprio vegetal, que irá fornecer o extrato do componente desejado. 

 

Qualidade dos Extratos Vegetais 

A obtenção de produtos vegetais de qualidade inicia se na coleta do material destinado ao processamento. O extrativismo, coleta de plantas nativas, resulta habitualmente em material heterogêneo, nem sempre permitindo dispor de droga de qualidade homogênea e reprodutível. 

A coleta do material nativo ressente-se também da falta de coletores especializados, o que dá margem a substituições e até falsificações da droga. Isto sem falar da quase extinção de algumas plantas medicinais e aromáticas, como a Ipeca e o Pau-Rosa, que até recentemente eram produtos de exportação. 

Assim, a melhor maneira de contar com matéria prima de qualidade é cultivá-la. O sucesso de um cultivo, por outro lado, não depende da quantidade de massa produzida, mas sobretudo de suas características em termos de teor de componentes ativos. 

São diversos os fatores que podem influenciar o teor de substâncias ativas em plantas cultivadas. Dentre outros, podemos citar a vocação genética e hereditária em função dos metabólicos secundários, a variabilidade morfogenética e a ontogenética (a diferença do teor de substâncias ativas nas diversas partes da planta e durante as fases de seu desenvolvimento) e as influências ambientais. 

A droga homogênea e com teor de princípios ativos desejados, deve sofrer um processo de estabilização que impeça a deterioração de suas qualidades durante o armazenamento e o transporte. A alteração da qualidade pode ser causada por processos de natureza química, física e biológica. 

O conceito de estabilidade não é absoluto, pois alterações no estado físico, no teor de substâncias ativas ou de aumento da carga bacteriana geralmente se verificam no decorrer do tempo. Entretanto, limites para estas alterações são estabelecidos em códigos oficiais e, uma vez ultrapassados, a droga se torna imprópria para o consumo. 

Antes de ser submetida a processos de extração e elaboração, a droga vegetal estabilizada é submetida a ensaios de qualidade que compreendem uma série de determinações farmacognósticas, físicas, químicas e mesmo biológicas. 

As provas principais são: 

• Identificação macroscópica e microscópica;
• Identificação através da cromatografia de camada delgada;
• Pesquisa de material estranho, orgânico e inorgânico; 
• Determinação do teor de água e da perda por dessecação; 
• Determinação de cinzas;
• Determinação da fração extraível; 
• Determinação do teor de princípios ativos:
• Determinação da carga bacteriana e da ausência de patógenos;
• Controle de resíduos de pesticidas. 

 

Processos de Extração 

Se a extração for feita com solventes, estes deverão ser selecionados em função dos princípios ativos da droga em questão. 

O solvente selecionado deve possuir um elevado poder de solubilização e uma seletividade em função dos princípios ativos cuja extração é efetuada. 

Assim, quando se deseja extrair óleos vegetais, por exemplo, deve-se evitar a dissolução de outras substâncias, mucilagens, corantes e resinas. 

A extração é do tipo "sólido-liquido", porque o só lido (droga) é extraído com um meio liquido (solventes). 

No processo extrativo, a seletividade do solvente, a velocidade de sua passagem e a temperatura da operação, são parâmetros que influenciam a eficiência global. 

O extrato obtido pode conter, além das substâncias cuja extração seja desejável, componentes por sua vez indesejáveis, como por exemplo, taninos que dão lugar a precipitados durante o armazenamento. 

Eventualmente, é preciso retirar do extrato, compostos que prejudiquem a estabilidade das substâncias ativas nele contidas. 

Na purificação dos extratos utilizam-se processos físicos (decantação, filtração e centrifugação) ou físico-químicos (absorção, precipitação e troca iônica). A utilização de métodos físico-químicos importa também no uso de métodos físicos para separar os substratos aglomerados. 

A água, como solvente, adquire particular importância, principalmente na produção de extratos secos, quando o produto final deve ser completamente solúvel em água. Entretanto, as soluções extrativas aquosas, preparadas em baixa temperatura, para se evitar a degradação térmica dos princípios ativos, contém numerosos microrganismos como fungos, leveduras e bactérias provenientes sobretudo do próprio material vegetal. Mais comum é o uso da água em mistura com álcoois inferiores em proporções variadas. 

Para se reduzir a carga bacteriana os procedimentos usuais incluem, além do uso da água correspondente às normas de higiene habituais, a esterilização da droga a ser extraída ou a esterilização do produto final, por meios adequados, como radiação, óxido de etileno, etc. 

 

Formulações com Extratos de Ervas 

A literatura internacional menciona pelo menos 150 extratos de ervas, para uso em preparações cosméticas, o que sem dúvida é uma fonte expressiva de alternativas para formuladores interessados em produtos com base natural. 

Ao se selecionar um extrato vegetal a ser incluído numa formulação, deve-se ter em mente os efeitos desejados, muitos dos quais estão descritos na literatura. Como as diversas ervas são extraídas com diferentes solventes é preciso também avaliar o efeito destes sol ventes na fórmula final. 

Muitos glicóis por exemplo, diminuem a viscosidade de sistemas tensoativos, fato este que deve ser com pensado. 

Alguns sistemas hidroalcóolicos podem, com o tempo formar precipitados indesejáveis, que seriam evita dos com o emprego de álcoois mais leves. 

Evidentemente, a formulação do produto final fica a cargo dos respectivos especialistas. Entretanto, o uso de matérias-primas naturais de alta qualidade, resulta em produto final de alta qualidade, também, com reflexos positivos quanto à sua aceitação pelo mercado. 

 

 

Este artigo foi publicado na revista Cosmetics & Toileltries (Edição em Português), 2(5): 16-17, 1990.