Crescente Preocupação com a Segurança
A Naturalidade: Produtos Naturais
Maior valorização de Experimentos
Estado de Espírito
A Tendência Faz a Variedade

 

 

A fragrância tem o aspecto primordial de um pro duto cosmético e demonstra que influi tanto na apreciação da qualidade do produto quanto na do seu efeito. A fragrância tem o efeito do encantamento do produto, ou seja, pode-se considerá-lo como simpático, luxuoso, feminino, etc, como também a expectativa do consumidor tem efeito sobre o produto. Por isto, a fragrância é o elemento primordial para a comunicação e o marketing de qualquer produto cosmético. 

Por estas razões, não é possível contemplar as perspectivas para o futuro da perfumaria sem se levar em conta o possível desenvolvimento do campo de marketing, especialmente se considerarmos o crescente reconhecimento da importância do perfume por parte dos responsáveis pelo product management

São cada vez mais escassos os produtos cosméticos para os quais se aplicam uma fragrância determinada por uma única razão, de que assim foi feito ou porque assim gostou-se. Está aumentando o número de produtos nos quais a fragrância utilizada se aplica para um determinado fim, como por exemplo para apoiar certo aspecto da comunicação transmitida pelo produto ou então para enfatizar a expectativa do consumidor para um efeito determinado do produto. 

Quais são então, os futuros desenvolvimentos no marketing, decisivos para a perfumaria? 

Podemos reconhecer quatro tendências básicas que estão se desenvolvendo em parte, em direções distintas e que incluem vários seguimentos de mercado. 

 

Crescente Preocupação com a Segurança 

Alarmado por informações e reportagens à respeito de catástrofes ecológicas, escândalos pelo uso de hormônios ou a existência de resíduos de pesticidas em alimentos, o consumidor se preocupa cada vez mais com segurança e inocuidade dos alimentos e produtos que consome. 

Trata-se de uma tendência que se reflete na crescente influência política dos partidos ecológicos e das associações de consumidores, que têm aumentado o seu poder e volume durante os últimos dez anos e que seguramente não desaparecerá tão rapidamente 

Esta tendência já alcançou a indústria de cosméticos, basta recordar a preocupação com os fluorclorohidrocarbonetos, o dioxano e a lanolina. 

No momento em que os produtos cosméticos abandonam seu papel tradicional de atuação na superfície da pele e das camadas celulares superiores da camada córnea, para entrar no tecido epitelial vivo e no interior das células (lipossomas), a indústria de cosméticos se fez mais propensa a controles estritos e à criticas mais fortes à respeito de produtos inofensivos à saúde. 

Também o perfume, como componente de quase todos os produtos cosméticos, não pode escapar desta preocupação dos consumidores. Já que se trata de uma mistura desconhecida de várias substâncias, o perfume vem se constituindo desde algum tempo, num motivo de suspeita para dermatologistas, tão logo sejam constatadas alergias ou irritações da pele. 

Por esse motivo, a indústria de substâncias odoríferas está reagindo há aproximadamente duas décadas com uma consequente política de auto controle e, em 1986, foi fundado nos Estados Unidos o Research Institute for Fragrance Materials (RIFM), cuja tarefa é analisar sistematicamente o risco que substâncias odoríferas podem causar à saúde, hoje 70 empresas participam dessa instituição que dispõe de crescente orçamento de vários milhões de dólares por ano. 

Uma segunda organização, International Fragrance Association ou IFRA, foi fundada em 1973 em Genebra, Suíça. A IFRA fixou a meta de desenvolver um código de procedimentos para a criação e manipulação de material odorífero e, tem publicado recomendações para aplicação segura de substâncias odoríferas. 

A IFRA é composta por associações de fabricantes de substâncias odoríferas de vários países. 

Graças às suas atividades, o RIFM e a IFRA têm estudado várias substâncias odoríferas tradicionais que sob certas condições podem ser prejudiciais e que, hoje em dia, são utilizadas apenas em casos muitos especiais e com limitações. 

Estas instituições têm sabido convencer a opinião pública, especialmente os investigadores dermatológicos, os órgãos legislativos, de que os perfumes, tal como são utilizados atualmente, não representam nenhum risco substancial e por isto não devem ser submetidos a nenhuma regulamentação legal. 

Se o público em geral mantém certa reserva com relação ao caráter inofensivo dos perfumes, isto se deve a alguns dermatologistas críticos que periodicamente promovem esta mesma insegurança com relação a indústria de cosméticos. 

Qualquer publicidade para um produto no qual se associem conceitos como "inofensivo", "submetido à provas de alergia", "indicado para peles sensíveis" ou com o conceito "100% sem perfume", dão a entender que o perfume é um fator de risco a saúde. 

Este tipo de publicidade poderá ser efetivo a curto prazo, mas a longo prazo é nocivo para a própria indústria de cosméticos. 

Pesquisas realizadas, demonstram que vez ou outra que o consumidor prefere utilizar um produto não perfumado a um perfumado. 

Atualmente, a maioria dos consumidores não leva em conta que a fragrância agradável dos produtos cosméticos é proveniente de um perfume. Apesar disso, há risco de prejuízo para a indústria de cosméticos na sua totalidade quando se sugere ao consumidor que a agradável fragrância, em qualquer produto cosmético, pode ser nociva para a saúde. 

Então, o que nos mostra o futuro? 

Que a indústria de substâncias odoríferas por seu lado, manterá o controle de segurança sobre as substâncias odoríferas aplicadas. Que a indústria de cosméticos passará a utilizar perfumes mais suaves em produtos que possam apresentar risco para a saúde, tais como aqueles para a área dos olhos e, que permaneçam sobre a pele, como cremes e sombras para os olhos, produtos com efeito profundo e produtos que introduzam substâncias ativas nas células e produtos para peles sensíveis. 

Entende-se por uso de perfumes mais suave como:

- Utilização de matérias primas de alto grau de pureza química e olfativa, assim como de perfumes em concentrações muito baixas mas, suficientes para cobrir o odor da base e proporcionar ao produto cosmético uma fragrância leve e agradável; dosagens de perfume acima de 0,15%, deveriam ser utilizadas apenas em casos excepcionais. 

- Aplicação de alguns óleos essenciais ou de substâncias odoríferas quimicamente unitárias ou então de misturas simples ao invés de composições comuns dos perfumes. 

- Em casos extremos, a completa renúncia a qualquer perfume ou fragrância, porém sem que isto esteja implícito na publicidade. 

A primeira vista, pode-se pensar que este é uma decisão lamentável de perfumaria. Porém pode-se assegurar que, para a indústria, é mais importante manter a imagem do bom nome e do respeito a segurança dos produtos, do que alcançar maior volume de vendas para os fabricantes de cremes para o cuidado da pele e de produtos para os olhos. 

 

A Naturalidade: Produtos Naturais 

A mesma tendência dentro da sociedade que tem gerado preocupações à respeito da segurança dos produtos, tem levado a polarização de produtos e de substâncias em dois grandes campos: "natureza" versus "química." 

Como sabemos, o campo natureza representa uma carga emocional positiva, em contrapartida, o campo química, negativa. Por consequência, aqueles fabricantes de produtos cosméticos que se dirigem aos grupos de consumidores nos quais está muito marcada a polarização natureza-química, fazem todo o possível para posicionar os seus produtos em torno do natural e não do químico. 

Não nos referimos aqui ao que diz respeito à denominação do produto, ao envasamento, à publicidade, etc, pois isto significa para a perfumaria uma preferência por tipos de fragrâncias que são forçosamente muito semelhantes às naturais (camomila, ervas, flores do campo, etc.), e portanto se orientam nestas. 

No campo da cromatografia gasosa, desenvolveram se nos últimos anos métodos de especial transcendência para a análise de perfumes semelhantes aos naturais. A cromatografia gasosa, juntamente com métodos de identificação, especialmente a espectrometria de massa, foi muito aplicada e com êxito em décadas passadas, para analisar a concentração de fragrâncias obtidas de plantas por extração ou destilação a vapor. O constante aperfeiçoamento do método, tornou possível a analise das misturas de fragrâncias que as plantas difundem no meio ambiente, no transcurso de seus processos fisiológicos normais. 

De tal forma é possível analisar as fragrâncias de plantas vivas utilizando-se métodos que geralmente se conhecem sob o bonito nome Living Flower Technology. Os resultados destas análises representam uma base muito valiosa, a partir da qual poderá se iniciar o desenvolvimento de composições de perfumes bem mais próximas das naturais do que as que se conhece até agora. 

A volta ao natural não é semelhante à tendência da segurança, mas algo mais inovador. Vale esta citação porque o desenvolvimento desta tendência será mais intenso nos próximos anos. O êxito sem igual alcançado por empresas como Yves Rocher e ultimamente Body Shop, está baseado nesta tendência. 

É bem possível que no futuro a tendência do retorno ao natural se combine com a tendência de segurança do produto, como já se pôde observar, há algum tempo, na área de aromas para alimentos, onde se registra a tendência de utilizar unicamente substâncias aromáticas e odoríferas naturais. 

Neste caso, pode se tratar de óleos essenciais, de absolutos e resinoides (ou seja, de complexos que se obtêm do processamento de produtos naturais), assim como de substâncias naturais individuais definidas que se obtêm mediante separação do produto natural ou por meio de elaboração enzimática. Particularmente, este tipo de desenvolvimento levaria a um encarecimento considerável na perfumação sem melhorar com isso a qualidade ou segurança, porém não se pode excluir a possibilidade desse desenvolvimento no futuro. 

 

Maior valorização de Experimentos

Os produtos cosméticos que se encontram em nosso mercado altamente desenvolvidos, há muito tempo e por vezes, tem deixado de se diferenciar por sua utilidade primária, adquirindo a utilidade secundária com maior importância. 

Todos os géis ou sabonetes líquidos para o banho que se podem comprar hoje em dia lavam bem, fazem muita espuma e são bem tolerados pela pele. É por isso que a diferenciação dos produtos se dá através de distintos aspectos que se podem definir como referencial do que foi experimentado: hoje em dia não se compra simplesmente um gel ou sabonete líquido, ou um frasco bonito. 

Neste caso, não se trata de uma tendência nova, mas sim de uma tendência que seguirá se desenvolvendo no futuro. Trata-se de uma tendência similar àquela que distingue os relógios pela pulseira, um Swatch ou um Rolex com diamantes, são mais que um simples medidor do tempo. 

Na área de perfumação de cosméticos, esta tendência tem levado em muitos casos a fragrâncias fortes; com muito caráter e muita fantasia. Um exemplo típico, é o aroma de coco e frutas tropicais em loções para proteção solar. Outros exemplos são os desodorantes perfumados que têm transformado a luta contra os odores corporais em uma aventura olfativa, assim como os produtos para banho mencionados anteriormente. 

Quando se aplica um perfume para enriquecer o valor de um produto cosmético, geralmente usam-se fragrâncias que nos fazem recordar produtos de luxo, preferindo-se especialmente aquelas fragrâncias que estão em moda. 

Hoje em dia, não se observa esta tendência apenas em desodorantes perfumados, mas também na perfumação de produtos para o banho e muitos outros tipos de produtos cosméticos. 

Diante desta semelhança, sobressaem o luxuoso e, especialmente, o moderno do produto perfumado. 

Nos próximos anos, surgirão no mercado muitos produtos interessantes para adultos. O sentimento de se ter direito a uma vida cheia de experiências interessantes, também na terceira idade, se desenvolverá nas pessoas adultas mais rápido do que será possível saciar seu desejo com viagens e outras “aventuras”. Por isso, procurarão produtos que lhes proporcionem experiências simbólicas e também momentos agradáveis e bonitos em sua vida cotidiana. Estes podem ser produtos excitantes, alegres, aromáticos, para o cuidado da pele e cabelos, assim como para a higiene diária. 

 

Estado de Espírito 

Para encerrar, mencionaremos uma tendência que, mais que as outras até agora citadas, está por realizar-se, são aqueles produtos cujas fragrâncias influem no estado de espirito. 

Basicamente, esta tendência é a mais antiga de todas, pois os egípcios e as religiões orientais usam o incenso há milhões de anos em seus rituais religiosos, muito antes dos cristãos adotarem este costume. 

O incenso perturba o juízo demasiadamente crítico e prepara a alma para receber verdades que ultrapassam o entendimento. 

Há dez mil anos, Cleópatra já conhecia o poder das fragrâncias pesadas de flores que excitavam a sensualidade. O alecrim já era muito conhecido no final da Idade Média e durante o Renascimento, por seu efeito positivo de excitar e estimular o estado de espírito. 

No racional século XIX, perdeu-se quase por completo o encanto que se pode evocar das fragrâncias, porém, ao final do século XX, o estamos descobrindo novamente. 

A base científica para esta tendência são os neurofisiologistas, que têm mostrado que o sistema libídico, o que também controla os hormônios e com ele as emoções, reage diretamente aos estímulos cerebrais provenientes das fragrâncias. 

Apesar disso, essa tendência não tem alcançado nenhuma importância econômica. Talvez porque os estudos e informações sobre a influência das fragrâncias no estado de espírito venha quase exclusivamente dos terapeutas de aromas. 

Estes terapeutas se interessam principalmente por óleos essenciais puros, não por composição de fragrâncias. Além da fragrância em si, julgam ter um papel muito importante a terapia com fragrâncias junto a outros aspectos de tratamento (técnicas de massagem, o ambiente no consultório e principalmente a relação pessoal com o paciente), que impede uma evolução objetiva do ponto de vista científico. 

O que faz falta para ativar economicamente esta categoria de produtos são resultados de estudos com composições de perfumes que cumpram com os requisitos de uma análise crítica. 

Não é fácil desenvolver estes estudos, porém é possível, como demonstram certas publicações e descrições de patentes, publicados anos passados. 

O que faz falta, além de fragrâncias efetivas, são condições experimentais que excluam qualquer influência externa, assim como métodos de medição capazes de evoluir estatisticamente as modificações sutis do estado de espirito para obter um resultado científico. Talvez tenhamos um grande avanço neste campo nos próximos dez anos. 

Então, disporemos de produtos que com sua fragrância nos ajudarão a superar o cansaço e o esgotamento, a eliminar o estresse e a desenvolver o equilíbrio interno, da mesma forma que fragrâncias que nos ajudam à relaxar. Tratar-se-ão de perfumes e óleos essenciais que poderão ser aplicados à pele, em produtos para banho e também sob a forma de diferentes tipos de aromatizantes ambientais. 

 

A Tendência Faz a Variedade

Aqui tratamos de quatro tendências que se desenvolveram ao mesmo tempo, porém em direções distintas, o que, por sua vez, é um indicador para outra tendência, a tendência de se ter sempre uma variedade maior de produtos e, dar a estes formas em vista da expectativa dos distintos grupos psicográficos. 

Trata-se de uma tendência que demanda sempre mais esforços nas áreas de logísticas e da distribuição dos produtos, assim como da publicidade. 

Certamente, detém também as tarefas perfurmísticas do futuro. Teremos então que aprender a criar melhor Os perfumes que não somente estejam a nível mais alto do ponto de vista estético e técnico, mas também correspondam da melhor maneira possível às ideias dos grupos de consumidores a que se destinam. 

Não há necessidade em se dizer que esta será uma nova tarefa do perfumista. Porém, acreditamos estar a indústria de perfumes preparada para desafiar os anos 90, que nós vemos com grande expectativa. 

 

 

 

Este artigo foi publicado na revista Cosmetics & Toiletries (Edição em Português), 3(2): 58-61, 1991.