Origem e Características das Hiperpigmentações
Tratamentos Descritos
Objetivo
Materiais e Métodos
Formulações
Resultados
Discussão
Conclusões

 

 

A hiperpigmentação da pele é devida a vários fatores, como envelhecimento, gravidez, distúrbios endócrinos, tratamentos com hormônios sexuais, queimaduras de sol de diferentes graus etc. Muitos estudos foram conduzidos recentemente sobre diversas manifestações crônicas que afetam o aspecto pessoal e a satisfação estética. Muitos desses estudos provam que as radiações da luz solar são as principais responsáveis pela maioria dessas anomalias, seguidas pelos hormônios e/ou fatores externos, como a formação de ROS. 

Quando nossa pele é exposta à luz do sol, como a radiação UV de qualquer fonte, podem ocorrer na pele várias reações que aumentam a transferência de melanina para os queratinócitos. A radiação UV faz mais que aumentar a quantidade de melanócitos detectáveis na pele. Parece que a radiação UV aumenta a taxa de transferência de melanina dos melanócitos para os queratinócitos. Essa descrição do “sistema de pigmentação" resume vários anos de estudos de centenas de investigadores. Não obstante, para entender a base da pigmentação precisamos investigar a estrutura química da melanina. 

O hormônio estimulador dos melanócitos (MSH ou melanotropina) desempenha papel muito importante na regulação da pigmentação. Foi provado que a exposição à radiação UV aumenta não apenas a melanogênese, mas também a quantidade de melanócitos ativos, de tal forma que o MSH regula a pigmentação e também a proliferação de melanócitos.7 

A proteção da pele contra as radiações actínicas tem sido atribuída à melanina há muito tempo, constituindo o primeiro sistema de autodefesa do organismo por meio da pigmentação da pele. Os grânulos de melanina que se formam nos melanócitos na parte basal das células da pele, por meio de radiações de ultravioleta B, são removidos na direção da superfície do estrato córneo, onde, conforme se acredita, são oxidados pelas radiações ultravioleta A. 

Na pele, a pigmentação se produz através da formação de melanina pela transformação da tirosina. Essa pigmentação pode ser direta ou indireta. É direta quando ocorre devido a radiações ultravioleta A, responsáveis pelo escurecimento do pigmento existente, que é mais fraco e mais lento em função da pouca energia dessas radiações gama. A pigmentação indireta ocorre após o eritema, é mais rápida e de maior magnitude e começa por meio das radiações ultravioleta B.6 

Sintetizando, podemos dizer que as mais importantes funções da melanina são a proteção contra as queimaduras do sol, afecções actínicas e prevenção do câncer da pele, sendo também importante a termorregulação, maximização da absorção das radiações solares, regulação da síntese de vitamina D, eliminação de ROS etc. 

 

Origem e Características das Hiperpigmentações 

As melaninas são biopolímeros heterogêneos produzidos por células especializadas chamadas melanócitos, encontradas na pele, no bulbo folicular e nos olhos. Elas são sintetizadas pela melanogênese e responsáveis pela pigmentação da pele, do cabelo e dos olhos. 

O hipercromismo corresponde à hiperpigmentação da pele devido ao aumento do pigmento de melanina ou à acumulação de hemossiderina ou hipercarotemia. Piqueiro-Castro1 acreditam que algumas pigmentações produzidas por acumulação de melanina sejam as seguintes: 

                - Efélides correspondem a pequenas manchas hiperpigmentadas que aparecem em zonas expostas e cuja intensidade de cor aumenta rapidamente após a exposição à luz do sol. São comumente conhecidas como sardas. São mais frequentes em pessoas ruivas e louras de olhos azuis. Elas aparecem desde a infância e são transmitidas como caráter autossômico dominante. Histologicamente, não há aumento de melanócitos nas camadas basais da epiderme, mas sim da quantidade de melanina existente na epiderme. 

                - Lentigens são manchas escuras ou pretas de coloração uniforme, de cerca de 1-2 mm que podem ser isoladas ou agrupadas e podem estar distribuídas em qualquer área da superfície do corpo. Ao contrário das efélides, a lentigens não aparecem por causa da exposição à luz do sol e aumentam o número de melanócitos na camada basal da epiderme. 

                - Lentigens senis ou de luz do sol são manchas escuras que aparecem no rosto, na parte de fora dos braços e antebraços em pessoas com mais de 50 anos de idade com histórico repetido de exposição à luz do sol. Histologicamente, existe uma hiperpigmentação melânica em trechos da parte basal da epiderme. Algumas dessas manchas proporcionam uma sensação especial ao tato e são chamadas lentigos queratosis para diferenciar da lentigem de exposição ao sol ou senil. 

                - Melanose de Riehl corresponde a pigmentação de máculas no rosto e é fácil de observar em mulheres. São manchas com pontas de pequeno tamanho que se ampliam, formando um reticulado nos dois lados do pescoço e na base do bulbo capilar.  Histologicamente, existe uma sobrecarga pigmentar de melanófagos dérmicos induzida por fotossensibilidade crônica a alguns perfumes. 

                - Poiguilodermia de Civatte é observada em mulheres na peri e pós-menopausa, como manchas escuras localizadas nos dois lados do pescoço e no V do pescoço, às vezes com áreas atróficas e telangectasias. 

                - Melanodermia residual é o aumento de melanófagos na derme como resposta a um processo inflamatório crônico que pode produzir zonas melanodérmicas que, em várias ocasiões, são difíceis de erradicar, principalmente em peles escuras. 

                - Hiperpigmentação periorbital (círculos) é uma melanose redonda perto das pálpebras e região periocular, onde há aumento de melanina nos melanócitos da epiderme. É um quadro hereditário de transmissão autossômica, que se toma presente no período após a puberdade. Não tem tratamento. 

                - Melasma corresponde a uma hipermelanogênese facial marrom escuro que se desenvolve lenta e simetricamente, principalmente em mulheres, e que tem sido associada a fatores hormonais, uso de perfumes em cosméticos, exposição à luz do sol e herança familiar. Pode ter uma distribuição centrofacial ou malar e depende de onde o pigmento se acumula, pode ser epidérmica, dérmica ou mista. 

 

Tratamentos Descritos 

Os despigmentantes são substâncias que atuam diretamente na região discrômica hiperpigmentada. Essas substâncias podem ser formuladas em diferentes produtos cosméticos, diferentes apresentações e podem ser combinadas com outros ingredientes ativos úteis conforme a indicação. Nos últimos anos, as publicações científicas têm descrito diversos tratamentos, e existem substâncias despigmentantes que foram relatadas.3,4,8 

                - Hidroquinona é um agente de despigmentação usado topicamente e de ação imediata, pois seu mecanismo interfere basicamente na produção da melanina, inibindo a atividade da tirosinase. Em segundo lugar, e de forma mais lenta, a hidroquinona introduz modificações estruturais nas membranas das organelas dos melanócitos, acelerando a degradação dos melanossomas. Com eles, podemos obter uma despigmentação reversível com a suspensão da aplicação do produto. Por causa desse fator, devemos usar filtros solares durante o uso e o tratamento. Ele pode provocar irritação da pele ocasionalmente eritema a erupção. Não deve ser usado em áreas próximas dos olhos, lesões da pele, queimaduras de sol em crianças com menos de 12 anos de idade. A hidroquinona pode ser preparada em associação com o ácido retinóico e o ácido láctico para aumentar a ação da despigmentação. Esse tipo de formulação deve ser preparado com o uso de substâncias antioxidantes, pois o ácido retinóico não é estável diante da luz do sol e do oxigênio. 

                - Ácido kójico corresponde a 5-hidroxi 2-hidroxi-metil 4H-piran-4-ona é um agente de despigmentação de grande eficácia, não citotóxico, que inibe a ação da tirosinase como quelador de íons e promove a diminuição da eumelanina e seu monômero precursor. Tem efeito anti-irritante, é solúvel em água e estável entre pH 3-5. Pode ser incorporado em veículos adequados em loções, cremes não iônicos, géis cremosos não iônicos. Pode ser associado ao ácido glicólico. Buffers, como o ácido cítrico, devem ser incorporados, EDTA (0,2%) como agente de quelação e não se deve usar nenhum éster na formulação. 

                - Arbutin ou hidroquinona-D glucopiranóxido apresenta excelente estabilidade em formulações com atividade de despigmentação, melhor que o ácido kójico e VC-PMG. Possui algum potencial de irritação, nenhuma toxicidade e poucas possibilidades de hipopigmentação irreversível. Seu mecanismo de ação também é a redução da atividade da tirosinase. É importante dizer que é solúvel em água e estável à temperatura ambiente, no escuro, com umidade e EDTA 0,2%. Deve ser incorporado como quelante. Pode ser associado a outros agentes despigmentantes como VC-PMG, lipossomas com vitamina E, C, Antipollon HT etc, em baixas concentrações. 

                - Antipollon HT trata-se de um silicato sintético de alumínio finamente granulado e com absorção muito boa de melanina. É indicado um produtos para o tratamento de hiperpigmentação da pele como cloasmas. Sua vantagem é que absorve e elimina a melanina já formada e não provoca reações adversas ou sensibilização. Pode ser associado a antioxidantes, como a vitamina E e C. Recomenda-se sua in corporação em cremes não iônicos, loções e suspensões aquosas. O melhor pH para seu uso é entre 4-10. Não deve ser incorporado nenhum ácido graxo á formulação. 

                - VC-PMG. A vitamina C (ácido ascórbico) é usada como agente despigmentante com base em seu mecanismo de ação de inibidora do processo de melanogênese, mas é muito instável em formulações para uso tópico. Apresenta baixa estabilidade química em soluções aquosas e se degrada facilmente em géis, géis cremosos e emulsões o/a. Para tornar seu uso mais fácil, foi desenvolvido VC-PMG (fosfato-ascorbato de magnésio), um complexo de vitamina C estável em soluções aquosas, pH 7 e que apresenta a capacidade de penetrar na pele, liberando a vitamina C intacta. Dessa forma, são obtidos os efeitos farmacodinâmicos desejados por meio da inibição da tirosinase, dos melanócitos e, assim, da síntese da melanina. É importante escolher um veículo adequado para assegurar que a quantidade necessária penetre na pele. Estudos recentes sugerem o uso de polímeros específicos como bons veículos de absorção, e também palmitato de ascorbila9 a concentração de 4%. 

                - Ácido retinóico é usado como agente de despigmentação graças a seu efeito de peeling Seu uso é recomendado entre 0,025-0,1%. Diminui a pigmentação, principalmente o melasma epidérmico. É importante usar concomitantemente filtro solar para prevenir reações adversas. Os efeitos indesejáveis são eritema, prurido, descamação e sensação de picada, dependendo da concentração usada. 

                - Ácido glicólico, também é usado como agente de descamação, sem os efeitos indesejáveis de outros agentes queratolíticos. Como cosmético, está sendo usado em concentrações de 4, 8, 10 e 15%. Para obter o efeito de peeling, sob supervisão médica, está sendo usado a 30, 50 e até 70%, aumentando-se a concentração e o período de tempo de acordo com as necessidades dos pacientes. 

                - Ácido azeláico, é o ácido 1,7-dicarboxilico nítrico monadicico, obtido pela oxidação do ácido oléico com o ácido nítrico. In vitro, foi demonstrado que o ácido azeláico é um inibidor competitivo das enzimas de óxido-redução e um antioxidante como os eliminadores de ROS. É eficaz no tratamento de despigmentação pós-inflamatória e melasma. Seu efeito é atribuído a atividade antitirosinase, á inibição da energia produzida durante os processos de síntese da célula e à ação antirradicais. É não tóxico, não teratogênico, não mutagênico e tem sido usado na terapia de melasma em cremes a 2,9%. Os resultados de despigmentação são comparáveis aos da hidroquinona, 

                - Melawhite, extrato aquoso de leucócitos, é uma solução de peptídios seletivamente fracionados por métodos precisos. O Melawhite atua como inibidor especifico, competitivo da tirosinase, diminuindo a formação do pigmento melanina na pele. Assim, o Melawhite pode ajudar a minimizar a formação de bronzeamento da pele, manchas hepáticas ou pigmentos senis. É estável em diversos veículos e incorporado na fase aquosa em concentração entre 2-5%. A segurança desse produto para uso cosmético já foi comprovada. 

                - Mercaptominas, como cloreto de N-dimetil-anina (2 mercapto-etila) e cloreto de beta-caroteno-etilamina a concentrações 1-4% têm efeito citotóxico seletivo sobre os melanócitos. O efeito de despigmentação é acompanhado por ligeira irritação cutânea. 

                - Nanotalasferas de betacarotenos, atingem os melanócitos bloqueando os receptores do núcleo da célula, e assim a produção de melanina, mas não eliminam as manchas já presentes, o que exige período mais longo de tratamento. 

                - Flavonoides, têm efeito antioxidante natural, não poderosos eliminadores de ROS e possuem boa atividade antitirosine, graças a sua estrutura fenólica. É usada a classe citrus.8 

                - Extrato de uva-ursina, nome botânico Arctostaphylos uva-ursi  L. Spreng, nome comercial Melableach e nome INCI Aqueous Bear Berry (Arctostaphylos Uva-Ursi) Extract, é um novo ingrediente funcional que, além de inibir o aumento do escurecimento da pele, também é eficaz na diminuição da pigmentação existente. 

O mecanismo primário de ação é a inibição da tirosinase. Esse efeito é ainda sustentado por uma funcionalidade de segundo nível - o extrato de uva-ursina também tem capacidade de degradar naturalmente a melanina existente na pele. Diversos sistemas associados de enzimas que participam do caminho melanogênico, conforme se acredita, são afetados pelos ativos específicos do extrato de uva-ursina, degradando a melanina existente, provocando modificações estruturais nas membranas das organelas dos melanócitos e acelerando o melanossoma.5

 

Objetivo 

Na população venezuelana há uma grande incidência de formação de hiperpigmentação. Os médicos estão sempre à procura de um produto seguro para indicar a seus pacientes, que não provoque reações adversas, seja fácil de adquirir e realmente eficaz. Com esse problema em mente, os autores decidiram conduzir um estudo clínico comparativo cego com duas substâncias de despigmentação: hidroquinona, um agente de despigmentação de origem química, muito conhecido e que ocasionalmente provoca reações adversas, e o novo produto de origem vegetal, denominado extrato de uva-ursina. 

 

Materiais e Métodos 

O estudo foi conduzido no Hospital Jesus Yerena, Serviço de Cirurgia Estética de Lidice. Participaram 25 pacientes com idades entre 23 e 49 anos. A idade média era 40 anos. Foram localizadas lesões hiperpigmentadas, como nuclasmas, lentigem actínica e cloasmas nos dois lados do rosto, no nariz e na testa desses pacientes. Foram observadas cicatrizes hipercrômicas em várias áreas, com vários anos de evolução. A evolução média era de 4 anos. 

Foi avaliado o histórico dermatológico, como lesões, alergias e cremes de despigmentação utilizados anteriormente. As áreas selecionadas eram de extensão similar e pacientes comparáveis receberam instruções para usar duas fórmulas diferentes, uma denominada clareador "A", para um lado, e a outra clareador "B", para o outro lado, usando-se sempre o creme indicado na mesma área. Os pacientes não conheciam o conteúdo dos cremes. 

Os pacientes foram instruídos a lavar essas áreas diariamente, toda manhã, com um sabonete suave, e usar um filtro solar durante o dia e durante o tratamento. Foram feitos acompanhamentos a cada 15 dias, durante três meses. A avaliação mediu a eficácia dos cremes testados, as reações adversas e a repigmentação quando o tratamento foi suspenso. 

 

Formulações 

O produto foi formulado seguindo os princípios básicos gerais de formulação de produtos cosméticos,10 com base na ação do ativo do ingrediente de pigmentação e na seleção da formulação cosmética. Foram preparados dois produtos, como cremes, denominados clareador "A" e clareador "B". 

O creme estava em emulsão de base não-iônica (Tabela) e:

                - substância umectante para prevenir possível irritação do metoxicianamato de octila como filtro UV-B e benzofenona 3 como filtro UV-A, para prevenir qual quer reação adversa no caso de o paciente não lavar bem as áreas, com uma margem de segurança;

                - 25 porções do creme de teste rotulado como clareador "A" continham hidroquinona a 4%;

                - 25 porções do creme de teste rotulado como clareador "B" continham extrato de uva-ursina a 10% 

tab.png

 

Resultados 

O histórico dos pacientes informa que 30% tinham usado hidroquinona anteriormente como agente de despigmentação, havendo recorrência das lesões depois de suspenso o tratamento; 10% tinham usado ácido glicólico como agente de despigmentação. 

Avaliação da eficácia dos cremes: os autores observaram que 50% dos pacientes consideraram que o clareador "A" contendo hidroquinona, foi mais eficaz, e 50% consideraram que o clareador "B", contendo extrato de uva-ursina, foi mais eficaz. 

Foram evidentes as reações adversas em 50% dos pacientes que usaram hidroquinona, reações caracterizadas por eritema baixo a moderado que persistiu durante vários dias, e descamação da área tratada; isso obrigou a imediata suspensão do creme de teste e sua substituição pelo creme contendo extrato de uva-ursina. 

É importante mencionar que nenhum paciente tratado com o extrato de uva-ursina apresentou qualquer reação adversa. 

 

Discussão 

Os dois agentes de despigmentação tiveram a mesma ação imediata; ambos inibiram a tirosinase e também degradaram a melanina existente, obtendo-se com a hidroquinona despigmentação ótima porém reversível, o que não foi o caso do extrato de uva-ursina, que tem efeito cumulativo. 

Esses agentes de despigmentação devem ser sempre usados juntamente com filtros solares, para obter-se a melhor proteção da pele e a máxima eficácia, não apenas durante o período de tratamento, mas também para a manutenção diária. 

 

Conclusões 

A eficácia dos dois agentes de despigmentação é semelhante. A hidroquinona tem ação imediata, porém reversível. O extrato de uva-ursina tem ação mais lenta, porém cumulativa. Foram observadas reações adversas com a hidroquinona, caracterizadas por eritema de diferentes graus, bem como descamação da pele. Não foram observadas reações adversas com o extrato de uva-ursina, que é igualmente seguro e eficaz. 

Pode ser que a hidroquinona, devido à sua origem química, gere maiores efeitos oxidantes que poderiam ser responsáveis pelas ações adversas não observadas com o extrato de uva-ursina, de origem vegetal. 

 

Este artigo foi publicado na revista Cosmetics & Toiletries (Edição em Português), 9(2): 39-43, 1997.