O que são Cosméticos Sustentáveis?
O que é Maquiagem Sustentável?
Embalagens Sustentáveis
Conclusão

 

 

Os cosméticos sustentáveis estão se tornando uma tendência global de consumo. Estudos apontam um crescimento de intenção de compra desse tipo de produto na casa dos 71%. Isso se deve ao despertar dos consumidores para um consumo mais consciente por meio de mudanças comportamentais, em apoio à causa ambiental.

De acordo com um estudo da Grand View Research, o mercado de cosméticos orgânicos e naturais, em nível global, deve atingir o valor de 48 bilhões de dólares até 2025, um aumento de 5,01% em comparação a 2019/2020. Fomentando essa narrativa, a Reds, empresa especializada na realização de pesquisas, registrou o crescimento de 50% no total de consumidores que buscaram cosméticos naturais na Inglaterra nos últimos anos.

 

No Brasil, o levantamento feito pelo Slow Market Beauty apontou que já existem cerca de 600 marcas de cosméticos veganos/naturais/orgânicos cadastradas em todo o país. Alguns fatores levaram a esses valores tão expressivos.

Elencando os fatores que promoveram maior impacto nesse sentido, podem ser mencionados, em relação aos consumidores: maior acesso às informações, maior entendimento sobre ingredientes cosméticos, busca por uma qualidade de vida mais saudável e sustentável, maior sensibilidade em relação às causas ecológicas, senso holístico de preservação e maior acesso a produtos da categoria. Além desses fatores, há o fato de que muitos consumidores estão dispostos a pagar mais por um produto diferenciado e que traga conceitos de responsabilidade social e ambiental, além de maior eficácia e benefícios à saúde, em longo prazo.

Os fabricantes que se valem da produção sustentável de cosméticos têm um futuro promissor. Eles elevam, assim, a reputação de suas marcas e ganham mais espaço no mercado. Essa realidade pode ser verificada por meio do levantamento feito pela Opinion Box em 2019, o qual apontou que 55% dos consumidores brasileiros frequentemente dão preferência a empresas que são reconhecidas por cuidar do meio ambiente. Dessa forma, as muitas empresas passaram a se alinhar às novas demandas de mercado estabelecidas pelos consumidores.

Há quem acredita que a responsabilidade socioambiental consiste no cumprimento de leis e de normas relacionadas à preservação do meio ambiente nas empresas. Em parte, sim, mas a responsabilidade socioambiental vai muito além disso.

Responsabilidade socioambiental é um compromisso, uma mudança profunda que deve acontecer nas políticas da corporação e na cultura da empresa, pensando na preservação do meio ambiente e no mundo que será deixado para as gerações futuras. Portanto, é preciso que exista uma mudança de postura dos gestores e nas formas de as pessoas executarem as tarefas diárias. Há a necessidade de ocorrer uma mudança real de mentalidade.

Nessa cultura, a organização precisa estabelecer um bom relacionamento com a comunidade e com os órgãos governa[1]mentais relacionados ao meio ambiente. Também é fundamental definir práticas que demonstrem aos stakeholders o compromisso das companhias com a sustentabilidade. A questão ambiental deve ser vista como um dos valores do negócio.

As empresas devem lembrar-se de que uma política de responsabilidade socioambiental é um comprometimento da organização feito, antes de tudo, com a sociedade.

Surgiu, então, no Brasil o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), como uma ferramenta de gestão. Trata-se de um índice para acompanhar, medir o comprometimento e incentivar a postura sustentável das empresas, sob a ótica da eficiência econômica, do equilíbrio ambiental, da justiça social e da governança corporativa. Esse índice também serve para mostrar quais empresas estão alinhadas a esse pensamento e para tornar mais atrativos os investimentos nesse campo.

 

O que são Cosméticos Sustentáveis?

De modo geral, podemos considerar que cosméticos sustentáveis são os produtos classificados como orgânicos, naturais e veganos.

Cosméticos são produtos para uso externo, destinados à proteção ou ao embelezamento de diferentes partes do corpo. Para garantir ao consumidor a aquisição de produtos cosméticos que sejam seguros e de qualidade, no Brasil, a Anvisa é a responsável por autorizar a comercialização desses itens mediante a concessão de registro ou notificação. Essa agência dispõe de normas específicas que apresentam os requisitos técnicos para essa regularização.

No Brasil ainda não existe uma regulamentação específica que defina os critérios para a regularização dos cosméticos orgânicos, naturais ou veganos. Por isso, as empresas que queiram regularizar seus produtos, dentro dessas categorias, estão sujeitas às mesmas exigências que são feitas para a regularização dos cosméticos convencionais. Mas existem entidades certificadoras que permitem a identificação desses cosméticos no mercado pelos consumidores por meio dos seus selos, que são:

• Ecocert, organização de certificação orgânica da União Europeia;

• Cosmos (Cosmetic Organic Standard), da União Europeia;

• IBD (Instituto Biodinâmico Certificações), da América Latina;

• Natrue, da União Europeia;

• USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), dos Estados Unidos da América;

• SVB (Sociedade Vegetariana Brasileira), do Brasil;

• PETA (People for the Ethical Treatment of Animals), dos Estados Unidos da América;

• ISO 16.128: definições técnicas e critérios para cosméticos naturais e orgânicos.

Vale ressaltar, ainda, que algumas associações, como a Vegan Awareness Foundation e a PETA, certificam e colocam o selo de “vegano” apenas nos produtos que também sejam cruelty free, ou seja, “livre de crueldade”, termo normalmente utilizado para se referir aos produtos que não foram testados em animais.

Para atender aos critérios e cosméticos sustentáveis, algumas substituições são sugeridas em relação às formulações convencionais. O formulador deve substituir os seguintes ingredientes:

- Emolientes: os óleos minerais e os silicones podem ser substituídos por óleos vegetais ou por ésteres de origem natural.

- Gelificantes: como carbômeros, podem ser substituídos por goma xantana, amido ou celulose.

- Corantes: os corantes sintéticos podem ser substituídos por pigmentos de origem mineral.

- Preservantes: fenoxietanol, parabenos e DMDM podem ser substituídos por ácido sórbico, álcool benzílico e emolientes de ação preservante.

- Fragrâncias: as fragrâncias sintéticas podem ser substituídas por óleos essenciais ou hidrolatos.

Uma das classes de ingredientes cosméticos que mais gera discussões e questionamentos é a dos corantes e pigmentos. A RDC 44/12 regulamenta o uso desses ingredientes. Os produtos cosméticos que mais se valem da utilização desses ingredientes em suas formulações são as maquiagens. Nesse sentido, há certo enredamento quando se trata de desenvolver formulações de maquiagens sustentáveis.

 

O que é Maquiagem Sustentável?

É um produto que tem como premissa ser elaborado de maneira a proteger o meio ambiente e o consumidor. Essa proteção deve ser feita pelo uso de matérias-primas naturais e oriundas de química limpa e/ou verde, ou de insumos provenientes de fontes renováveis, nas formulações. A formulação deve ser segura e a embalagem sustentável. Considera-se embalagem sustentável aquela que é fabricada com ingredientes reciclados, ou aquela que é reciclável.

Como a qualidade e a performance dos produtos veganos e orgânicos estão cada vez melhores, a consequência disso é que o mercado de maquiagem cada vez mais dá maior preferência a esses produtos. Ou seja, o mercado está aquecido e os consumidores estão buscando soluções para uma vida mais sustentável, com menos impacto no meio ambiente.

Isso tem tudo a ver com os cosméticos, principalmente com os produtos de maquiagem. Portanto, esse é o momento para quem quer apostar nessa tendência e alcançar esse público.

 

Embalagens Sustentáveis

Outro ponto que se deve levar em consideração é o cuidado com o pós-consumo de um produto, para que o descarte de sua embalagem seja seletivo e realizado da forma correta.

O descarte seletivo (ou reciclagem) do material da embalagem é uma tendência cada vez mais presente no cotidiano de muitas pessoas e já se tornou uma meta das empresas engajadas na construção de um mundo melhor. A precursora do sistema de compensação ambiental foi a Europa, que tornou possível a reciclagem de 66% das embalagens dentro da União Europeia.

É preciso desenvolver hábitos e ações sustentáveis, entender sobre economia circular, legislação ambiental e logística reversa. Esse é apenas o início de um caminho cheio de impactos positivos no meio ambiente e na sociedade.

 

Conclusão

Acreditamos que os consumidores atualmente desejam usar uma maquiagem mais limpa e sustentável, então trabalhar com ingredientes naturais continuará sendo uma prática-chave. No entanto, é necessário conhecer a química dos ingredientes e estar ciente das interações complexas realizadas entre eles, e é importante e crucial conhecer o potencial alergênico associado aos ingredientes naturais. Para que se obtenham resultados ideais e seguros com produtos de maquiagem sustentáveis, o indicado é utilizar concentrações menores de ingredientes, ou seja, ter fórmulas minimalistas.

Com base em todas as informações aqui apresentadas, podemos concluir que em formulações de maquiagem sustentáveis, assim como nas demais categorias de produtos, deve haver um equilíbrio entre seus ingredientes, com foco na utilização de fontes renováveis e/ou verdes e seguras.

 

 

Rodrigo Novacoski é farmacêutico industrial, pós graduado em Gestão da Qualidade na Fabricação de Cosméticos pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR). Especialista em tecnologia de compactação e moldagem na categoria de maquiagem e micronização de pigmentos orgânicos e inorgânicos. Professor nas disciplinas de Maquiagem e Colorimetria no ICosmetologia e Consulfarma. É diretor técnico na R Novacoski Serviços de Consultoria em Cosméticos, Curitiba PR, Brasil.

 

 

Este artigo foi publicado na revista Cosmetics & Toiletries (Brasil), 33(4): 24-26, 2021.